Mauricio Stycer

Jornalista e crítico de TV, autor de "Topa Tudo por Dinheiro". É mestre em sociologia pela USP.

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Espiando e julgando o próximo

Há duas décadas estreava o 'Big Brother', um formato que ainda hoje tem impacto na programação da TV

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O participante angolano Sérgio, na primeira edição do programa "Big Brother Brasil", da TV Globo - Reprodução

A estreia de “Friends”, ocorrida há 25 anos, em 22 de setembro de 1994, está sendo festejada como um grande acontecimento da história da televisão. E há motivos para acreditar que a série teve a sua importância. Ficou no ar por dez temporadas, ganhou dezenas de prêmios, foi imitada por inúmeras outras séries, gerou um filhote (“Joey”) e, até hoje, ainda é muito vista.

Do ponto de vista da indústria, o argumento mais forte é o último. “Friends” continua gerando receitas. Hoje disponíveis no catálogo da Netflix, os seus 236 episódios vão migrar em 2020 para um novo serviço de streaming. Segundo o Walt Street Journal, o HBO Max pagou US$ 425 milhões (ou R$ 1,7 bilhão) pelo direito de exibir por cinco anos a série criada por David Crane e Marta Kauffman.

Outra estreia ocorrida em um mês de setembro, ainda mais importante, na minha opinião, não mereceu a 
mesma repercussão. Trata-se do Big Brother, que foi ao ar pela primeira vez, em um canal do grupo RTL, na Holanda, em 16 de setembro de 1999.

Em termos muito sintéticos, um reality show é um programa sem roteiro dedicado a exibir situações supostamente reais na televisão. Há registros, desde os anos 1940, de atrações com estas características, o que torna muito difícil estabelecer qual foi o pioneiro da história da TV.  

O Big Brother, nascido há 20 anos, não pode reivindicar este título, mas seguramente foi o que causou maior impacto, teve mais influência e, mal ou bem, alterou a forma de ver e fazer televisão no mundo.

O conceito básico do programa é o confinamento de dez ou mais pessoas em uma casa especialmente 
preparada, com poucos quartos, dezenas de câmeras e sem contato algum com o mundo exterior. Os participantes, que não se conhecem, são obrigados a conviver, participar de provas e criar mecanismos para permanecer o maior tempo possível no local.

Na edição brasileira, exibida pela Globo desde 2002, é o público que decide as eliminações semanais, até o fim. Em outras versões, são os próprios participantes que escolhem quem fica e quem sai.

Com maior ou menor sucesso, o Big Brother já foi exibido em 60 países. Diferentemente do que se diz (“só faz sucesso no Brasil”), as versões mais longevas são exibidas na Espanha e nos Estados Unidos.

Números divulgados pela Endemol Shine, dona dos direitos do formato, informam que em 2019 o programa foi produzido em 18 mercados diferentes. Em vários países, a versão original (com figuras desconhecidas) foi substituída por uma com celebridades.

Mesmo sem a audiência alcançada nas primeiras edições, o Big Brother é um programa que funciona e gera negócios consideráveis para quem o exibe. Em janeiro de 2020, a Globo exibirá a sua 20ª temporada.

Um fascínio evidente que o programa provoca é a sugestão de voyeurismo, a possibilidade que oferece ao espectador de ver sem ser visto. Outro forte atrativo é poder julgar os comportamentos alheios e decidir quem merece continuar no programa.

Estas primeiras duas décadas do século 21 estabeleceram o reality show como um gênero obrigatório na televisão. Diferentes tipos de atrações baseadas no mesmo princípio (sem autores, sem atores, sem roteiro, com pessoas “comuns”) foram desenvolvidas, da gastronomia à luta pela sobrevivência na selva, passando por programas sobre pescaria ou o cotidiano de mulheres grávidas, entre tantos outros.

Não é possível fechar os olhos para o sucesso e o impacto deste tipo de programação. Diz muito mais sobre o nosso tempo do que “Friends”.

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