Mauro Calliari

Administrador de empresas pela FGV, doutor em urbanismo pela FAU-USP e autor do livro 'Espaço Público e Urbanidade em São Paulo'

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O plano de governo de Pablo Marçal

Plano de governo tem prédio de 1 km de altura, teleférico, platitudes e lista de problemas sem propostas de solução

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A mais recente pesquisa Datafolha confirmou o crescimento do candidato que tem sido o assunto da cidade há duas semanas. Ficou impossível não falar de uma candidatura que parece estar congregando uma massa de eleitores, seduzidos por uma salada semântica que mistura crescimento pessoal, empreendedorismo, repulsa à política tradicional, desdém pelos partidos e ainda uma insatisfação generalizada.

Se há tanta gente disposta a votar numa candidatura que não se preocupa em se explicar, que zomba do sistema, dos jornalistas, dos outros candidatos e que sistematizou a zoação típica da turma do fundão da quinta série, valeria a pena entender se há alguma visão de cidade. Como nos debates e sabatinas não parece haver muito espaço para falar de projeto, fui ler o seu plano de governo, que todos os candidatos mandam à Justiça Eleitoral.

O alerta é que Pablo Marçal já disse que esse plano não tem tanto valor assim e que podem ser mudado ou desconsiderado. Desde a saída, portanto, já se pode entender que, mais importante que planos é sua atuação pessoal.

Um homem com cabelo escuro e bem cortado está falando em um microfone. Ele usa um paletó azul e parece estar em um ambiente iluminado com luzes azuis. Ao fundo, há uma parede com listras e um sinal de parada.
Pablo Marçal durante participação no podcast Inteligência Ltda - YouTube/Inteligência Ltda

A maior bizarrice é a proposta do edifício de um quilômetro de altura, como ‘um marco arquitetônico e um símbolo de inovação e progresso’. Sem nem entrar no mérito dos problemas que isso pode representar para a cidade, é significativo que a principal referência urbanística venha de Dubai e não de qualquer outra grande cidade que esteja privilegiando a relação entre as pessoas.

Na área de mobilidade, quem ganhou destaque nas conversas foi o teleférico, mas o plano o coloca como algo a ser estudado. Algumas periferias talvez tivessem topografia para isso, mas não há menção à viabilidade nem ao pacote urbanístico sem o que Medellín, na Colômbia, não teria se tornado uma referência.

No trânsito, enquanto a mortalidade aumenta ano a ano, o plano de Marçal propõe o combate à ‘indústria da multa’, ou seja, assumir que não são os motoristas que desrespeitam faixa de pedestre, nem os motoqueiros que passam no vermelho. É a prefeitura que multa demais. Em vez de coibir comportamentos inadequados, se questiona justamente a fiscalização a esses comportamentos.

Outra contradição tem a ver com a fluidez dos ônibus. O plano fala em aumentar a eficiência, mas não há menções às faixas de ônibus ou qualquer outro instrumento que possa ser usado para isso acontecer. Além disso, há a previsão de liberar as faixas de ônibus (chamadas de faixas à direita) para o ‘car pooling’, quando há pelo menos um passageiro além do motorista no carro. As faixas que já estão cheias de carros fazendo conversão à direita ficarão mais lotadas e o sistema é de viabilidade discutibilíssima.

Outra característica do plano é a listagem de problemas sem nenhuma proposta acoplada. É o caso da população de rua e a cracolândia, que são mencionados como questões a serem resolvidas. Como? Não se sabe.

Algumas propostas jogam ações genéricas abaixo do objetivo ‘construção recorde de casas’, como o trecho "faremos o maior programa habitacional da história, com a construção de novas casas nas periferias e com o mapeamento, gestão e transformação de imóveis vazios na cidade em habitações populares, em parceria com o setor privado".

Há também a lista de boas intenções, que surgem de maneira genérica, como ‘cobrar a finalização do Rodoanel’, que, imagine-se, tenha a ver com uma ligação para o governador, ou ‘despoluir o Tietê’, que tem sido um desafio há décadas, ou o "triplicar a GCM".

Há ainda uma proposta de rever alguns princípios de ordenamento urbano, que, poderia levar até a uma não prevista revisão do Plano Diretor: "Nossa gestão vai trabalhar junto à Câmara Municipal para atualizar as diretrizes que orientam o desenvolvimento urbano do município e reverter a tendência vigente de espraiamento, com base na vocação de cada região". O que isso quer dizer, não saberemos ainda.

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