Michael França

Ciclista, doutor em teoria econômica pela Universidade de São Paulo; foi pesquisador visitante na Universidade Columbia e é pesquisador do Insper.

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Michael França
Descrição de chapéu mercado de trabalho

O fracasso das pessoas de sucesso

Esquecer o essencial no meio de tantas trivialidades limita o progresso

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"Não comecei com a meta de me dedicar inteiramente ao emprego. Isso foi se insinuando com o tempo. A cada ano que passava, pequenas modificações se tornavam a nova regra. De início, eu gastava meia hora no domingo organizando os emails, a lista de afazeres e a agenda para facilitar a manhã de segunda-feira. Então passei a trabalhar algumas horas no domingo, depois o dia inteiro. Meus limites foram se desfazendo até que só restou trabalho", disse Erin Callan, ex-diretora do Lehman Brothers, em um artigo do New York Times.

Em seu livro "Essencialismo: A Disciplinada Busca por Menos", Greg Mckeown utiliza o trecho acima para exemplificar que acumulamos pequenos sacrifícios quando não assumimos a responsabilidade de fazer escolhas difíceis.

Na ausência delas, os outros decidem por nós. Como resultado, acabamos atordoados com um monte de atividades não essenciais.

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Greg Mckeown mostra que acumulamos pequenos sacrifícios quando não assumimos a responsabilidade de fazer escolhas difíceis - phpetrunina14 - stock.adobe.com

O autor descreve em quatro fases o que ele denominou de paradoxo do sucesso:

1ª fase: "Quando temos clareza de propósito, conseguimos ter sucesso nas iniciativas."

2ª fase: "Quando temos sucesso, conquistamos a fama de ser a pessoa que resolve. Somos vistos como alguém que está sempre a postos quando necessário."

3ª fase: "O aumento de opções e oportunidades, que na verdade significa mais exigências sobre nosso tempo e nossa energia, leva à dispersão do esforço. Quando isso acontece, ficamos muito sobrecarregados."

4ª fase: "Acabamos nos afastando do que deveria ser nosso nível máximo de contribuição. O efeito do sucesso destrói a própria clareza que, a princípio, nos levou a alcançá-lo."

Essas fases destacam o papel das escolhas na manutenção de uma trajetória significativa e equilibrada ao longo da jornada profissional e pessoal.

No mundo contemporâneo, as expectativas e as possibilidades quanto à realização humana cresceram de forma exponencial.

Para aqueles que não apenas tiveram a sorte de nascer em ambientes favorecidos mas também optaram por não se acomodar, suas trajetórias tendem a ser repleta de oportunidades.

Porém, o excesso de atividades não essenciais acaba contaminando muita gente, e isso pode levar a uma falta de clareza sobre as prioridades. Muitos tentam encaixar mais tarefas em uma agenda já sobrecarregada. Isso se torna ainda mais evidente nas listas de resoluções de final de ano.

Muita gente boa acaba consumida por uma agenda repleta de atividades triviais. Frequentemente, uma parte expressiva do tempo fica voltada para atender aos anseios dos outros em questões que não trazem retorno.

Quando cedemos à pressão social em gastar energia com o que não é essencial, vamos, aos poucos, sendo engolidos por inteiro. Dessa forma, corremos o risco de sermos vencidos pela própria fadiga.

O trabalho árduo é fundamental para o progresso. Contudo, viver sobrecarregado não representa produtividade. O esforço indisciplinado, sem direção clara, tende a gerar resultados pífios. À medida que o estresse aumenta, a qualidade do trabalho diminui.

Não ter disciplina nas escolhas representa uma das razões que leva diversas pessoas bem-sucedidas a desmoronar. Ao deixar que o ambiente externo dite nossos rumos, perdemos a oportunidade de direcionar esforços naquilo que de fato agrega valor à nossa vida.

O livro de Mckeown é um convite à reflexão sobre o que possui um valor excepcional no meio de tanto ruído e superficialidade. Ele nos lembra de que somos nosso maior patrimônio e, por vezes, nos esquecemos disso.

Neste novo ano, uma boa maneira de começá-lo não é acrescentando mais tarefas a uma lista já extensa, mas sim procurando o essencial no meio de tantas trivialidades.

O texto é uma homenagem à música "Um Novo Tempo", composta por Marcos Valle, Nelson Motta e Paulo Sérgio Valle, interpretada por Marcos Valle.

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