Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg

A velhofobia está dentro de mim!

É muito difícil aceitar uma triste e cruel realidade: eu estou velha e feia

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Há mais de vinte anos pesquiso os medos e sofrimentos das brasileiras com o envelhecimento.

Há mais de vinte anos escrevo sobre uma cultura que aprisiona as mulheres em modelos de juventude, beleza, magreza e sensualidade.

Há mais de vinte anos busco os caminhos da libertação para as mulheres conseguirem ser "elas mesmas".

Repito como um mantra: “Todos nós somos velhos, hoje ou amanhã! Velho é lindo!”.

Meu TEDx “A invenção de uma bela velhice” viralizou pois mostro que liberdade é a melhor rima para felicidade, e que é essencial combater os rótulos e etiquetas que aprisionam as mulheres de todas as idades.

Se você acompanha as minhas colunas na Folha já sabe que sou uma militante incansável na luta pela libertação das mulheres e na denúncia da violência contra os mais velhos.

Recentemente dei uma entrevista sobre o aumento da velhofobia no Brasil. Quando vi a minha fotografia enorme na matéria do jornal levei um susto: “Nossa, como eu estou velha e feia!”.

Olha que paradoxo, pensei. Não digo que eu também sou velha e que tenho 93 anos? Não defendo que existe beleza na velhice? Não luto para mudar o olhar cruel sobre os mais velhos e a representação da velhice como sinônimo de feiura, doença e invisibilidade?

Então, se tudo o que pesquiso e escrevo é dedicado a libertar os brasileiros do pânico de envelhecer, se luto todos os dias contra os preconceitos, estigmas e violências contra os mais velhos, como posso sofrer tanto por estar velha e feia? Como posso enxergar “a bela velhice” nos outros e a minha própria velhice ser tão horrorosa?

A velhofobia está dentro de mim. Também tenho pânico de envelhecer, e sofro por me enxergar velha e feia porque acredito que só a juventude tem beleza.

A fotografia tirada pelo meu marido logo depois que acordei, sem maquiagem, com o cabelo horroroso, sem Photoshop, é o meu retrato de agora: o de uma mulher que precisa aprender que existe beleza na própria velhice.

Mirian Goldenberg olhando por uma janela
Mirian Goldenberg - Wallace Cardia/Arquivo Pessoal

Minha melhor amiga Thais, de 95 anos, me ajudou a compreender o motivo de eu ter me enxergado tão velha e feia.

“Mirian, você está sempre sorrindo nas fotos e na vida, é a sua marca registrada. Nessa foto você está séria, pensativa, triste. Quase não te reconheci sem o seu doce sorriso”.

É verdade, além de velha e feia, estou muito triste. Mas dá para sorrir no meio desse pesadelo?

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