Nas minhas pesquisas sobre amor, sexo e traição, enquanto as mulheres se queixam de falta de intimidade, escuta, conversa, confiança, atenção, admiração, reconhecimento, reciprocidade, respeito, romance, beijo na boca —além de uma lista enorme de faltas que inclui "falta de tudo"—, os homens, muito mais econômicos em suas respostas, reclamam de falta de compreensão, carinho e cuidado. Até hoje, em mais de 30 anos de pesquisas, não encontrei uma só mulher plenamente satisfeita. Sempre falta algo. O que mais me chama a atenção é o fato de poucas mulheres reclamarem de falta de sexo.
Lembrei-me das insatisfações femininas quando li a matéria de O Globo, de 6 de setembro de 2022: "'Sou uma ex-viciada em pornografia’: cresce número de mulheres que tentam se livrar da dependência de vídeos eróticos".
Um levantamento feito pelo Pornhub, o maior site de conteúdo pornográfico do mundo, mostrou que 1 em cada 3 usuários é do sexo feminino. No Brasil, a média de mulheres que acessam canais de pornografia é 33%, maior do que a média mundial de 25%.
No Reino Unido, as mulheres se tornaram maioria na procura de serviços de saúde mental para se livrarem do vício em vídeos eróticos. O mais impressionante é que elas reclamam de problemas na intimidade sexual na vida real, diminuição de libido e dor durante o sexo. Uma pesquisa feita pela Virginia Commonwealth University com 700 mulheres de 18 a 29 anos revelou que mais da metade prefere a pornografia do que o ato sexual. Elas dizem que a pornografia acaba funcionando como uma válvula de escape.
O que é mesmo uma "válvula de escape"?
O termo vem da mecânica. É um mecanismo que abre automaticamente para saída do fluido quando a pressão interna é muito grande e ultrapassa o nível de segurança. No sentido emocional, a expressão significa um meio de escapar de uma situação de muita insatisfação, quando precisamos de algum mecanismo para extravasar as frustrações. Assim, buscamos algum divertimento, passatempo, distração e compensação que funciona como um substituto ou alívio ao estresse e à pressão.
Grande parte das mulheres que entrevistei busca válvulas de escape e não exatamente por falta de sexo. Algumas encontraram nos amantes virtuais tudo aquilo que sentem falta no casamento: conversas, elogios e a sensação de que são únicas e especiais. Outras, apesar de se definirem como heterossexuais, descobriram a verdadeira intimidade com outras mulheres. Muitas buscaram nos vídeos pornôs encontrar o prazer que não conseguem sentir com os maridos, além daquelas que consideram seus brinquedinhos sexuais os melhores amantes. É bom lembrar o aumento significativo de mulheres que procuram aplicativos de traição para compensar as faltas dos casamentos.
É interessante refletir sobre as razões para buscar "válvulas de escape". "É uma grande ilusão acreditar em casamentos sem faltas", disse uma psicóloga de 47 anos.
"Todos os casais têm algum tipo de válvula de escape. As mulheres são muito mais exigentes do que os homens. Elas têm uma lista enorme de faltas no casamento, nenhum homem consegue satisfazer todas as demandas femininas. É um buraco sem fundo. O ideal seria poder conversar abertamente sobre as nossas insatisfações, mas, infelizmente, é difícil ter compreensão, confiança e intimidade para tanto. Sentimos muita vergonha, culpa e medo de perder o amor, o tesão e a admiração do outro."
Apesar de feliz no casamento, ela também tem uma válvula de escape.
"Meu marido não consegue conversar sobre nossos problemas, ele se sente ameaçado, inseguro, impotente. Falar sobre sexo é um tabu. Ele diz que brocha se eu começar a analisar a nossa vida sexual. Então, prefiro fingir que gozo e, depois que ele dorme, vou direto para os sites pornôs com meu amante de brinquedo. Acho melhor ter uma válvula de escape do que um amante de verdade. Ele, com certeza, também deve ter uma válvula de escape."
Será que a insatisfação conjugal tem muito mais a ver com a falta de compreensão, confiança, conversa e intimidade do que com a falta de sexo?
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