Mirian Goldenberg

Antropóloga e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro, é autora de "A Invenção de uma Bela Velhice"

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Mirian Goldenberg
Descrição de chapéu Corpo

Cadê o Ruy?

Os leitores da Folha estão com saudade do novo ocupante da cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras

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A pergunta que mais tenho feito nos últimos dois meses é: "Cadê o Ruy?"

Após o patético debate com o repugnante padre que não é padre fui procurar na Folha: "Cadê o Ruy?"

De ressaca com o voto de 51 milhões de brasileiros no inominável (e a abstenção de 32 milhões), lá fui eu: "Cadê o Ruy?"

Com o asqueroso, nefasto e criminoso "Pintou um clima", "Cadê o Ruy?"

Escritor Ruy Castro lê a Folha
Ruy Castro na festa da editora Cia das Letras no restaurante Bendita's, em Paraty (RJ) - Marcus Leoni - 27.jul.18/Folhapress

Granadas e tiros de fuzil contra agentes da PF, "Cadê o Ruy?"

Não adianta nada o aviso da Folha: "O colunista está em férias. A coluna de Ruy Castro volta a ser publicada no dia 3 de novembro".

Lógico que fiquei feliz quando soube que, nas suas "férias", o Ruy lançou o livro "Os Perigos do Imperador: Um Romance do Segundo Reinado" e foi eleito para a cadeira 13 da Academia Brasileira de Letras. Como assim? Para mim, o Ruy já era da ABL havia muitos anos.

No ano passado, escrevi a coluna: "Há que escrever, mas sem perder a doçura jamais".

Contei que, no meio das minhas noites de insônia e de pesadelos assustadores, tive um sonho revelador. Estava em uma reunião com todos os colunistas da Folha e me sentia um peixe fora d'água em um oceano de homens de terno preto. Apesar da timidez, como já havia participado de alguns eventos literários com ele, fui conversar com o Ruy.

"Ruy, como você consegue acertar sempre? Qual o segredo para ser tão amado pelos leitores? Tenho a impressão de que você tem uma ideia brilhante e escreve rapidamente o que eles mais gostam de ler. Eu, ao contrário, passo dias e dias escrevendo e reescrevendo minhas colunas. Muitas noites nem consigo dormir procurando o título certo, a palavra certa, a ideia certa".

Ele riu: "É uma fantasia sua, Mirian. Não dá para adivinhar o que os leitores querem. É muito difícil acertar sempre. Ninguém consegue. Lógico que todo autor quer ser lido e amado, mas não fico buscando o reconhecimento e aprovação de todos. Escrevo com foco no que acho importante, significativo e necessário dizer em cada momento".

"Mas você não fica preocupado se as suas colunas estão entre as mais lidas?"

"Claro que não, acabo de escrever uma e já penso na próxima. Não perco tempo preocupado com a opinião dos outros".

Acordei do meu sonho com um conselho generoso do Juca.

"Não se compare com os outros colunistas. A comparação é um perigoso veneno para a felicidade. Seja você mesma, tenha a coragem de ser diferente, custe o que custar. Você já encontrou o seu lugar de escrita, mesmo que ainda não saiba. Acho que o seu lema poderia ser: 'Há que escrever, mas sem perder a doçura jamais'".

Imaginem a minha alegria e emoção ao receber, no dia seguinte, um email do Ruy. No assunto: Alô, doçura

"Mirian querida,

O ‘Juca’ tem razão: seja você mesma, você já encontrou a sua voz há séculos. Posso dizer isso porque te leio desde a biografia da Leila!

Quanto a mim, ao contrário do que parece, também reescrevo e reescrevo. E é exatamente isso: parece fácil de ler porque foi difícil de escrever.

Desconfie de quem escreve de primeira. Quem faz isso é porque não sabe escrever.

Minha tese, aliás, que já desenvolvi em inúmeros cursos que dei, é a de que ninguém ‘escreve bem’. Alguns reescrevem bem.

Beijos!

Ruy"

Descobri que não sou a única leitora que está com saudade do Ruy quando li no Painel do Leitor, no dia 13 de setembro, a mensagem da Marcia:

"Estava procurando algumas palavras que combinassem mais com o psicopata do Planalto do que o horroroso e mentiroso ‘imbrochável’. Achei algumas: imbecil, ignóbil, imaturo, infeliz, infantil, indesejável, inverídico, intragável, intolerante, insosso, insuportável, invejoso, interesseiro, imprestável, indisciplinado, insano, instável, impostor, inútil... Cadê o Ruy Castro para nos ajudar?"

Como não consegui dormir na noite passada, fiquei relendo as colunas do Ruy. Achei engraçado perceber que muitas têm, no título, a mesma pergunta: E aquela do Oscar Wilde? E aquela do Groucho Marx? E aquela do Ivan Lessa? E aquela do Millôr? E aquela do Nelson?

Tenho certeza de que os leitores da Folha também estão com saudade do novo imortal da Academia Brasileira de Letras e ansiosos para saber: E aquela do Ruy?

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