Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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'O artista tem toda a liberdade de se posicionar politicamente ou não', diz Ná Ozzetti

Prestes a completar 40 anos de carreira, a cantora diz que se posiciona pelas causas em que acredita

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A cantora Ná Ozzetti em sua casa, em Jundiaí

A cantora Ná Ozzetti em sua casa, em Jundiaí Bruno Santos/Folhapress

A cantora Ná Ozzetti diz que apresentou uma professora de canto para Cássia Eller assim que ela chegou em São Paulo. “Conheci a Cássia por meio de amigos que a receberam por aqui. A gente frequentava as mesmas festinhas.”

 

“Ela precisava de um professor e eu acabei indicando a Cláudia [Mocchi]. E  depois esqueci disso. Aí um belo dia a Cláudia me ligou e falou ‘sabe aquela moça de Brasília? Ela é muito boa, fantástica!’ [risos]. E olha que ela era daquelas cantoras líricas bravas pra caramba, bem exigente.”

 

“A primeira vez que vi a Cássia cantar foi um negócio de sair nocauteado. Ela era muito poderosa.” Ná diz que sempre que a cantora se apresentava em São Paulo, ela era convidada para o show. A primeira coisa que conversavam era sobre a professora que tiveram em comum.

 

A música sempre esteve presente na vida de . Aos 59 anos, a artista diz que sua primeira memória sonora é de quando tinha um ano. “Meus amigos dão risada, acham que é piada. Mas é a pura verdade”, diz, entre risos. “Eu lembro que acordei no meio da noite e fiquei em pé me segurando no berço. Era uma sensação mágica. Primeiro, pela noite e o seu silêncio e depois por conta dos latidos dos cães na rua: era latido daqui, latido de lá. Pra mim, isso é música.”

 

“Eu me acostumei com música desde criança. Meu pai ficava ouvindo o radinho dele pra dormir. Certa vez, ele passou verniz no chão da casa e todo mundo teve que dormir junto em um quartinho. Eu achei o máximo! Naquela noite eu nem dormi, fiquei ali curtindo.”

 

“Lá em casa a gente sempre ouviu muita música. Nos almoços aos domingos na casa do meu avô materno, depois de muito vinho, meu tio tocava o acordeão e as pessoas ficavam dançando. E eu ficava encostada na parede, vendo tudo na altura das pernas.”

 

“O pai da minha mãe era apaixonado por ópera. Ele teve 11 filhos e quase todos tiveram nomes de personagens de óperas. Era Otello, Aida, Norma, Gioconda, Antonieta.” 

 

Lembrada por sua atuação no movimento da Vanguarda Paulista, a cantora, nascida Maria Cristina, adotou como nome artístico e “de vida” o apelido dado por sua irmã mais nova, Marta. “Quando ela começou a falar, ela não conseguia pronunciar Cristina, só o Ná. Ficou um apelido brincalhão da família, do qual eu nunca consegui escapar.” 

 

Além de Marta, Ná tem outros dois irmãos músicos, Marco e Dante. “O sonho do meu pai era ser violinista, mas ele não teve essa oportunidade. Então acho que ele quis dar isso pros filhos, de colocar instrumentos em casa”, conta.

 

Ná celebra 40 anos de carreira em janeiro de 2019. Entre as comemorações estão o relançamento, em álbum e vinil, de seu primeiro disco solo, “Ozzetti” (1988). Nessas quatro décadas, foram 12 trabalhos na carreira solo e cerca de 40 composições autorais.

 

“Eu pego uma ideia, vou desenvolvendo, fazendo outras linhas até que vai ficando com um corpo. Eu faço as músicas e meus parceiros, as letras”, explica a cantora. Luiz Tatit, José Miguel Wisnik e Dante Ozzetti são alguns desses nomes.

 

“O que me dá tesão do fazer música é a possibilidade de me reinventar. A descoberta é um prazer pra mim”, conta. Ela interrompe a entrevista para dar um gole em seu chimarrão. 

 

A artista recebeu a coluna no Sítio das Corujinhas, em Jundiaí, em São Paulo, onde mora há 18 anos com seu marido, Neco Prates, e seus quatro cachorros: Ginga, Neguita, Cuíca e Lizete. Ela também tem cavalos, galinhas e galos que ficam soltos pelo terreno.

 

Um de seus lugares preferidos na casa de dois andares é a cozinha, no térreo, onde ela preparou o bacalhau do almoço —prato que costuma fazer para seus convidados. Salada verde, direto da horta, cenoura, batata doce, arroz e ovo frito completaram a refeição. 

 

Normalmente, perto do fim do ano, ela recebe toda a família no sítio. “Cada um traz um instrumento.”

 

A artista diz que foi aos 15 anos que se deu conta de que queria ser cantora profissional. Na ocasião, ela iria se apresentar como backing vocal em um show de seu irmão. “Era uma apresentação em um festival de uma escola. Quando eu subi no palco, vi os monitores, os holofotes. Meu, foi um êxtase! Foi ali que eu vi que queria isso pra minha vida.”

 

Aos 20 anos, passou a se dedicar profissionalmente à música. “Quando eu procurei aula de canto, minha professora disse que eu ainda era muito nova e que minha voz precisava se formar.”  

 

No meio tempo, prestou vestibular para três carreiras: cinema, biologia e artes plásticas. “Dei um tiro pra cada lado, sem saber direito”, explica. O curso de música da ECA-USP, o único na época, foi descartado por ter uma característica “muito erudita”. 

 

Ela acabou entrando na Faap, em artes plásticas, no período da noite. “De dia eu estudava música lá na Fundação das Artes de São Caetano do Sul, que era uma escola que tinha uma coisa mais jazzística, popular. Todo mundo que não foi pra ECA foi pra lá [risos].”

 

E foi uma colega da faculdade que apresentou Ná para o Grupo Rumo, conjunto musical que a projetou na carreira profissional. Com a banda, ela gravou seis álbuns —um sétimo, de inéditas, será lançado em 2019. Neste ano também será divulgado um documentário sobre o trabalho do grupo.

 

No começo, ela era muito tímida no palco. Por conta disso, indicaram que fizesse aulas de dança. “Aquilo começou a fazer um efeito na minha voz, eu comecei a entender a técnica vocal pelo viés da dança. Foi muito forte”, explica. dança até hoje, mas não se considera bailarina. “Tudo foi pro canto.”

 

Ná diz que é feminista e levanta algumas outras bandeiras —como a da questão ambiental. “Meu sonho de país é que o Brasil tivesse a coragem de se assumir sustentável, porque a gente tem o potencial.”

 

No primeiro turno das eleições presidenciais, votou em Ciro Gomes (PDT-CE). No segundo, em Fernando Haddad (PT-SP). “O artista tem toda a liberdade de se posicionar politicamente ou não. Eu me posiciono pelas causas que acredito. Até mesmo como cidadã.” 

 

“No meu núcleo familiar mais próximo, de irmãos e sobrinhos, não teve brigas [por conta de política], porque todos tinham a mesma linha.”

 

Ná não chegou a ter filhos. “Eu me casei com o Neco com 32 anos e aí a gente quis curtir um pouco a vida. Quando vimos, o tempo já tinha passado. Meus olhos estavam voltados para o trabalho, que me exige 100%. Eu não via brecha. Tive que ralar muito pra seguir carreira.”

 

“Se eu não faço música, eu sinto um vazio. E eu preencho ele com mais canções. Para mim, é um alimento.”

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