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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Eleições 2022

Grupo liderado por Marta Suplicy pede direitos para as mulheres cis e trans em carta à nação

Documento direcionado a presidenciáveis foi elaborado por mais de 30 participantes após cerca de dez horas de reunião

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Um grupo de 33 mulheres liderado pela ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy elaborou nesta sexta-feira (28), após cerca de dez horas de discussões, uma carta aberta endereçada a presidenciáveis com demandas para as mulheres brasileiras.

O documento abrange temas como a paridade de gênero e de raça nas instituições públicas, políticas e privadas, a manutenção e expansão dos direitos sexuais e reprodutivos e a defesa da vida de meninas e mulheres, cis e transgêneros.

A ativista e escritora Preta Ferreira e Marta Suplicy - Marlene Bergamo/Folhapress

São, ao todo, 18 demandas. Inicialmente eram previstas 17, mas as participantes não quiseram associar o número final ao dígito que elegeu Jair Bolsonaro (PL) na campanha de 2018. A carta será disponibilizada em breve no site Brasil Mulheres.

"Nossas vivências diversas e o repertório dos movimentos feministas, de mulheres negras e indígenas, de mulheres cis e trans, da cidade e do campo, heterossexuais e LGBTQIA+, de diferentes classes sociais, religiões, faixas etárias, escolaridade, corpos, deficiências e regiões do Brasil compõem as premissas para a construção de uma sociedade mais democrática", diz o texto, intitulado "Carta Aberta Brasil Mulheres".

Um dos pontos inegociáveis ao longo do debate e que consta na carta aberta é o recorte de políticas para mulheres negras. As demandas vão do pedido de políticas de qualificação profissional para autonomia financeira ao enfrentamento do homicídio da população negra.

"Avaliamos como primordiais e imprescindíveis que sejam levados em conta, debatidos e futuramente compromissados em um grande pacto nacional, de forma interseccional, antirracista e considerando as múltiplas diferenças e desigualdades entre mulheres", diz o documento sobre suas reivindicações.

Ao longo da discussão, Marta Suplicy não abriu mão de citar a necessidade de combate à violência política de gênero e de raça. Ela lembrou o assassinato da vereadora Marielle Franco e as ameaças sofridas pela ex-candidata a vice-presidente da República Manuela D'Ávila.

A cantora Elza Soares, que foi excluída do quadro de personalidades negras da Fundação Cultural Palmares sob o governo Jair Bolsonaro, também foi citada. Ela morreu no último dia 20.

"A ideia é que [a carta] seja uma fagulha para incendiar os corações e mentes de milhares de mulheres neste Brasil", afirma Marta Suplicy à coluna.

"Nós, mulheres, não existimos na política mais. Nós já tivemos candidata a vice-presidente, muitas ao mesmo tempo, tivemos candidatas a presidente, tivemos uma presidente [Dilma Rousseff], mas ninguém mais fala das nossas pautas e nem da nossa condição feminina", acrescenta.

A professora e ex-primeira-dama da cidade de São Paulo Ana Estela Haddad e Gleisi Hoffmann, presidente nacional do PT - Marlene Bergamo/Folhapress

Marta recebeu nesta sexta convidadas como a senadora Simone Tebet (MDB) —única mulher da corrida presidencial e única presidenciável chamada para o evento—, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann (PR), a presidente da OAB-SP, Patricia Vanzolini, e a escritora e diretora-executiva da Casa Sueli Carneiro, Bianca Santana, que redigiu o texto da carta em conjunto com as demais participantes.

A lista de presenças teve ainda debatedoras como: a ministra do Supremo Cármen Lúcia, a diretora do Instituto Marielle Franco, Anielle Franco, a líder do Movimento dos Sem-Teto do Centro, Carmen Silva, a artista e ativista Preta Ferreira, a advogada Sheila de Carvalho, a secretária municipal de Cultura de São Paulo, Aline Torres, a especialista em educação Claudia Costin, a escritora e roteirista Tati Bernardi e a jornalista Mariliz Pereira Jorge —as três últimas são também colunistas da Folha.

As convidadas fizeram teste de Covid-19 ainda na entrada do prédio da ex-senadora, hoje secretária municipal de Relações Internacionais de São Paulo. Elas tinham à sua disposição álcool em gel, antibactericida em spray e máscaras dos padrões PFF2 e KN95 oferecidas em uma bandeja de prata.

Reunião nesta sexta no apartamento da ex-senadora e ex-prefeita Marta Suplicy, nos Jardins, em São Paulo - Marlene Bergamo/Folhapress

Todas as participantes mantiveram a máscara no rosto enquanto discursavam. O item de proteção foi retirado apenas no momento do almoço, quando Marta orientou suas convidadas a manterem distância umas das outras e a se dirigirem à parte externa do apartamento.

Apesar da longa duração do debate para se chegar a um documento com apenas três laudas, a construção da carta se deu de forma harmoniosa. O encontro foi iniciado com cada participante apresentando pontos que considerava importante para a defesa dos direitos das mulheres. Na segunda parte da reunião, todas apresentaram suas experiências e fizeram sugestões sobre a redação da carta.

A atriz e cantora Preta Ferreira, por exemplo, levou propostas em prol dos direitos daquelas que são custodiadas pelo sistema prisional e compartilhou sua experiência de 108 dias detida.

Uma das coordenadoras do MSTC (Movimento Sem-Teto do Centro), ela foi acusada pelo Ministério Público de São Paulo de extorquir moradores de um prédio ocupado pelo movimento. Preta nega, diz que foi presa injustamente e aguarda o julgamento de um habeas corpus pelo Tribunal de Justiça paulista.

Anielle Franco, diretora do Instituto Marielle Franco, no encontro no apartamento de Marta Suplicy - Marlene Bergamo/Folhapress

"São propostas para que a sociedade reflita sobre essas demandas que essas mulheres têm. Aqui são mulheres de várias áreas, de várias condições, com muito sofrimento, muita dor, muita alegria, muita superação, muito sucesso. Tem de tudo. É uma somatória de bagagens mil", afirma Marta Suplicy.

A ex-petista diz que não pretende levar o documento desta sexta aos presidenciáveis, já que ele será aberto a todos. Questionada se seu apoio à candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) poderia prejudicar a recepção da carta por seus opositores, ela rejeita a hipótese.

"Quem usar contra vai se dar mal. Nós representamos 55% das mulheres. Eu não digo que todas essas 55% são a favor do que nós dizemos nessa carta, mas pelo menos 80% do que nós dizemos nessa carta aberta, as mulheres concordam", afirma a ex-petista e ex-emedebista.

Ela agora deseja que a carta chegue à classe política e também à sociedade civil para ser debatida.

"As mulheres podem se reunir em igrejas, com os vizinhos, nas suas organizações, com as amigas, onde quiserem. Podem ser grupos de 20, de 100, de 200, nós queremos as opiniões das mulheres. É isso o que vai enriquecer o debate público num momento tão relevante pro Brasil e vai também levantar questões que muitas mulheres nunca atiraram", completa.

Leia, abaixo, a íntegra da carta:

JOELMIR TAVARES (interino), com LÍGIA MESQUITA, BIANKA VIEIRA e MANOELLA SMITH

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