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Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Médico Roberto Kalil Filho diz que 'SUS salvou milhões' e que pode entrar para a política 'lá pelos 80 anos'

Da TV aos ensaios de uma banda e o trabalho no Incor, um pouco da rotina de um dos médicos mais conhecidos do Brasil

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O médico Roberto Kalil Filho na biblioteca do Incor

O médico Roberto Kalil Filho na biblioteca do Incor Karime Xavier/Folhapress

São Paulo

Quem já viu o cardiologista Roberto Kalil Filho, 62, à vontade em frente às câmeras de TV respondendo dúvidas de telespectadores não imagina que o médico foi uma criança tímida.

"Eu era tímido ao ponto de minha mãe ser chamada algumas vezes na escola para saber se eu tinha algum problema em casa, porque eu era quietinho. Sabe aquele aluno da primeira carteira? Fui bem assim", afirma.

A mudança, diz ele, aconteceu ao entrar na faculdade de Medicina e receber um conselho do pai para que fosse mais sociável e se inserisse nas atividades extracurriculares do curso. "Eu respondi: 'Mas eu não gosto de conversar. Prefiro ficar no meu canto'. E ele falou: 'Então, finge. Finge que você gosta de conversar'", conta.

Kalil seguiu os conselhos paternos. Como sempre gostou de esportes, ele se embrenhou na Atlética (organização dos estudantes que organiza as práticas esportivas na faculdade) e adotou uma postura mais expansiva. A tática deu certo.

Hoje, afirma o médico, a sua facilidade de comunicação é espontânea. "Você aprende a se comunicar e pronto", diz. Mas pondera que quem o conhece a fundo sabe que ele é "tímido e recluso".

Isso não transparece durante as gravações do programa CNN Sinais Vitais, que a coluna acompanhou na manhã do dia 9 de maio. As filmagens aconteceram na Biblioteca do Incor (Instituto do Coração) do Hospital das Clínicas da USP, instituição que Kalil preside desde 2011.

O médico chegou pouco depois das 9h30. Comeu um tablete do queijo Polenguinho e seguiu para a entrevista que faria com um colega seu, o médico Luiz Augusto Carneiro, diretor da Divisão de Transplantes de Fígado e Órgãos do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP.

Quando foi convidado a apresentar um programa na emissora, a primeira proposta que Kalil recebeu se assemelhava ao que ele já tinha feito no Bem Estar, da Globo: falar ao vivo sobre questões médicas. Foi a sua mulher, a também médica Claudia Cozer, que sugeriu uma ideia diferente, uma atração que fosse como um documentário médico.

A TV topou e, assim, nasceu o CNN Sinais Vitais, que está em sua segunda temporada, com exibição aos domingos, às 19h30.

Cada episódio da atração é dedicado a um tema. Além de conversar com médicos e profissionais da saúde, o programa entrevista pacientes e apresenta casos reais. Para Kalil, a proposta é ser uma prestação de serviço à comunidade. "É extremamente importante você levar informação sobre saúde à população, é um trabalho que tem que ser feito", diz.

"E me dá prazer fazer, porque é um formato novo. Mas claro que toma tempo, porque os temas são bem discutidos", afirma.

A gravação que a coluna acompanhou fará parte da terceira temporada do CNN Sinais Vitais, que deve estrear em setembro. O programa é feito pela produtora DOC. Films em parceria com a CNN. Além de apresentador, Kalil sugere pautas e dá pitacos no conteúdo final.

Roberto Kalil Filho Biblioteca do Incor
Roberto Kalil Filho na biblioteca do Incor - Karime Xavier/Folhapress

A forma didática com que fala sobre assuntos complexos vem, segundo o médico, da experiência como professor. "Sempre dei aula. Nos últimos 30 anos, dei aula em todos os congressos médicos [...] Você toma gosto."

Já a experiência com as câmeras de TV começaram quando foi assistente do médico Fúlvio Pileggi, seu tio, referência na cardiologia e figura-chave na história do Incor —ele foi diretor-geral da instituição de 1982 a 1997. "Na época, quando alguns políticos internavam aqui [no Incor], o doutor Fúlvio não gostava de dar entrevistas para a imprensa, e dizia para mim: 'Vai lá e fala'."

Diferentemente do tio, Kalil gosta de falar com a imprensa, ainda que, mesmo muito experiente, afirme ainda ficar nervoso antes de cada entrevista.

O cardiologista é também conhecido por ser o médico de artistas e políticos, como os ex-presidentes Lula (PT) e Dilma Rousseff (PT).

Kalil afirma que desde a infância já gostava de política. "Quando vinha algum político na casa dos meus pais, eu lembro que era criança e ficava no cantinho ouvindo tudo", relembra. O ex-prefeito e ex-governador Paulo Maluf era presença frequente na casa da família.

O cardiologista afirma ter herdado essa característica da mãe, Guiomar —ela se candidatou por duas vezes a deputada estadual, mas não conseguiu se eleger.

Kalil diz que pretende, sim, ter no futuro uma participação mais intensa na política brasileira. "Lá para os 80 anos, eu vou ser candidato a alguma coisa", revela. "Eu acho que quanto mais brasileiros se interessarem pela política, melhor."

No momento, afirma que o seu "mandato são meus pacientes". "Eu vivo 24 horas para eles", frisa. O médico é também diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês.

Na análise de Kalil, a pandemia mostrou a fragilidade dos sistemas de saúde do mundo. "O Brasil teve obviamente dificuldades como qualquer outro país. Foi uma tragédia no mundo inteiro".

No país, segundo ele, os grandes heróis no combate à Covid foram o SUS (Sistema Único de Saúde) e a vacina. "O SUS salvou milhares de vidas e mostrou que é um sistema altamente competente, principalmente nas regiões em que ele é melhor financiado", avalia.

Segundo o médico, nas últimas décadas, houve um sucateamento do SUS. "E os responsáveis não são um ou outro governo. Foram todos. A atenção que foi dada ao SUS foi muito aquém do que ele merece", dispara.

Para ele, a imprensa, os governos e o cidadão hoje, depois de dois anos de pandemia, valorizam mais a importância do SUS do que no passado.

Na avaliação do cardiologista, a preocupação atual —com os números de mortes e internações por Covid bem menores do que no auge da crise (apesar das altas registradas nas últimas semanas)— é que as pessoas "voltem a se cuidar". "Muitos deixaram de fazer tratamentos e exames de rotinas. Tivemos um aumento da mortalidade por doenças que não a Covid-19", alerta.

"Há muita coisa represada ainda, muitas cirurgias eletivas e tratamentos atrasados, especialmente no serviço público, que teve uma sobrecarga", completa.

Para se distrair da corrida agitada no consultório e nos dois hospitais, Kalil afirma ter encontrado no sax a sua terapia há sete anos, quando, num arroubo, decidiu comprar o instrumento.

"Eu nunca tinha tocado nada, não era muito ligado à música [...] Passei numa loja, vi um sax e falei: 'Que bonito'. Só que entre ser bonito e você tocar o instrumento...", afirma, entre risos. "Eu não sabia nem montar o sax", relata.

Começou a ter aulas, religiosamente aos domingos, das 20h às 22h. "Tomei gosto", diz.

Toca também na InCordes, banda formada por trabalhadores do Incor que surgiu por acaso e que neste ano planeja shows fora da instituição. "A música é muito gratificante, e a InCordes se tornou um estímulo para os funcionários", afirma o médico.

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