Mesmo sendo um evento apenas para convidados, a presença de Cauã Reymond na pré-estreia do filme "A Viagem de Pedro", na noite desta segunda (22), no Cine Marquise, em São Paulo, causou furor.
"É um Deus grego! Olha isso", comentava uma das mulheres que se acotovelavam para conseguir uma selfie com o ator protagonista e produtor do longa. "E ainda é simpático", dizia outra. Cauã não recusava um pedido de foto e até repetia a selfie se a primeira imagem não ficasse ao gosto do fã.
Dentro da sala de cinema, enquanto a exibição não começava, uma convidada espiava pelo celular a entrevista que o presidente Jair Bolsonaro (PL) concedia ao Jornal Nacional, na Globo. "Todo o mundo aqui é Lula [PT], se não for, pode sair", dizia ela.
O próprio Cauã, porém, se esquivou de declarar o seu voto ao ser questionado pela coluna. "Prefiro falar do filme do que do meu voto", afirmou.
"Acho que o nosso longa é, de certa maneira, uma forma de falar sobre política", completou. "A Viagem de Pedro" mostra o momento em que o ex-imperador retorna para Portugal, em 1831, nove anos depois de declarar a independência do Brasil.
"A gente discute masculinidade tóxica, racismo estrutural, feminismo, tudo dentro da história de dom Pedro. E convido todo o mundo que assistir a imaginar se o nosso dom Pedro no filme tem a ver com o Brasil atual", argumentou ele.
Na visão do ator, há, sim, semelhanças entre os dois momentos. "A gente tem um dom Pedro que se dizia liberal, mas quando ficava inseguro era um ditador. Era um dom Pedro que gostava de ficar com os empregados que eram escravos e achava que não era racista, mas era. Acho que a gente tem um Brasil que está bem contraditório também", afirmou.
O filme, contou ele, começou a ser idealizado há nove anos, em parceria com o empresário e produtor Mario Canivello. "Eu queria construir personagens interessantes para mim e para a minha carreira", explicou.
Dom Pedro foi o primeiro papel que o ator afirma ter interpretado, quando tinha dez anos, em uma peça na escola. Na encenação, o imperador era apresentado como um grande herói, que deu o grito da independência montado em um cavalo branco.
"Ao longo dos anos, você vai vendo que não é assim, que ele estava montado numa mula", acrescentou. Cauã disse que fez questão de convidar Laís Bodanzky para dirigir o projeto. "A ideia era ter um olhar feminino sobre dom Pedro para poder desconstruí-lo."
Nos nove anos que separam a ideia do filme e a sua concretização —a estreia está marcada para 1º de setembro—, os cabelos de atores e da equipe foram ficando grisalhos. Para Cauã, a mudança denuncia como fazer cinema no país pode ser demorado. A pandemia, segundo ele, atrapalhou, mas também falta incentivo cultural.
"Eu acho que a gente tem dificuldades hoje em dia, fragilidades na nossa Secretária Especial de Cultura e na Ancine que voltou a funcionar há pouco tempo", criticou.
Por outro lado, "A Viagem de Pedro" é lançado justamente na comemoração do Bicentenário da Independência e quando o coração de dom Pedro está no Brasil. "Foi uma super coincidência", disse.
MEDALHA
A chef Bela Gil recebeu convidados na cerimônia que deu a ela o título de Cidadã Paulistana, na segunda-feira (22). A honraria, proposta pelo vereador Celso Giannazi (PSOL), foi concedida durante sessão solene na Câmara Municipal de São Paulo, na capital paulista. O músico Carlos Rennó passou por lá.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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