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Descrição de chapéu pantanal

'Virei o pai do Gabriel', diz Almir Sater

Músico e ator comemora o sucesso do filho em 'Pantanal' e se prepara para voltar à sua agenda de shows

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Almir Sater em uma de suas fazendas, na região do Pantanal da Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul

Almir Sater em uma de suas fazendas, na região do Pantanal da Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul Julia Costa/Divulgação

"Eu tinha certeza de que o Gabriel se sairia bem como o Trindade, porque ele se preparou muito e é um cara muito determinado", diz o ator e músico Almir Sater à coluna por Zoom, em uma conversa de 40 minutos na terça (20).

"O Gabriel estudou violão erudito, ele toca muito bem. E quem toca bem violão tem mais facilidade para tocar viola", diz. "Mas para fazer esse personagem era preciso que ele dominasse a técnica da viola. E ele se dedicou mesmo a isso, eu vejo a evolução do Gabriel", conta o pai, que deu de presente ao filho uma viola boa e bonita para que ele tocasse na novela "Pantanal", da TV Globo.

Almir conta que Gabriel assistia à novela em 1990, quando o cantor interpretava o peão violeiro, e também circulava pelos bastidores das gravações. Quem costumava tomar conta do garoto, que tinha oito anos na época, era a atriz Luciene Adami, que interpretava Guta, a filha moderninha do vilão Tenório e de sua mulher, Maria Bruaca. "Gabriel até participou de uma cena no último episódio, como coroinha do casamento", lembra.

Agora, com o filho no papel que já foi defendido por ele, tocando o instrumento que transformou o pai em ídolo da música, seria natural que Almir ensinasse tudo a Gabriel. Mas não foi assim que aconteceu.

Almir e Gabriel Sater
Almir e Gabriel Sater durante gravação de 'Pantanal', da TV Globo - João Miguel Jr./Divulgação

"Nós não ficamos falando sobre os personagens, mas nos preparamos bastante para o desafio", revela Almir sobre uma cena que foi ao ar no começo de maio. Nela, o chalaneiro Eugênio e o peão Trindade se enfrentam em um duelo musical, durante uma roda de viola na fazenda de Zé Leôncio, personagem de Marcos Palmeira, e que viralizou na internet.

Almir estava no Rio de Janeiro quando conversou com a coluna. Ele tinha acabado de gravar uma última cobertura de áudio para os momentos finais na novela do seu violeiro e condutor da chalana, uma espécie de embarcação ampla que é o principal meio de transporte nas regiões do Pantanal em que só se chega pelos rios.

Mas não quis dar spoilers (quando uma pessoa antecipa informações sobre determinada trama). "Eu nem sabia o que eram spoilers até pouco tempo atrás", ri. "Mas não sou eu que vou falar isso. Só posso adiantar que o Eugênio tem um final feliz".

O personagem que conduz a chalana tinha bem menos destaque na primeira versão da novela, mas, com a escalação de Almir, o papel ganhou uma outra importância. Virou violeiro, tem muito mais cenas e o tal final feliz que ele deixou escapar na entrevista.

"Chalana" também é o nome de uma canção tradicional composta por Mario Zan e Arlindo Pinto em 1943, e que ficou famosa na gravação de Almir e Sérgio Reis, nos anos 1980. Ter sido escalado para interpretar justamente o chalaneiro na nova versão de "Pantanal" foi uma tripla homenagem para o músico

Primeiro, por causa do sucesso da canção. Depois, porque virou galã ao interpretar o peão Xeréu Trindade na versão original de "Pantanal", em 1990, na TV Manchete. O personagem fez um pacto com o diabo em troca de virar um bom violeiro.

Por fim, porque Almir tem uma paixão da vida toda com o Pantanal, uma região em sua maior parte coberta de água, que ocupa 35% do estado do Mato Grosso e 65% do Mato Grosso do Sul, além de partes do Paraguai e da Bolívia.

Nascido em Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul, em 1956, em uma família de origens turca e libanesa, Almir cresceu na cidade conhecida como porta de entrada do Pantanal, apesar de estar a mais de 400 km da região.

Aprendeu a tocar violão sozinho, sem nunca ter estudado, aos 12 anos de idade. Mas só juntou os sons que ouvia na infância e na adolescência com a tradição de sua terra de origem quando conheceu pessoalmente e se apaixonou à primeira vista pela viola caipira de dez cordas. Tinha 20 anos e morava no Rio de Janeiro, para onde se mudou quando entrou na faculdade de direito.

Largou o curso, voltou para Campo Grande e passou a dedicar sua vida à viola. "Eu nunca fui muito bom no violão, era o pior entre os meus amigos da rua", lembra. "Mas quando eu comecei a tocar viola tive tanta afinidade com o instrumento que falei: ‘É esse o som que eu quero’", afirma.

Almir Sater em uma de suas fazendas, na região do Pantanal da Nhecolândia, no Mato Grosso do Sul - Julia Costa/Divulgação

"E dei muita sorte também, encontrei as pessoas certas na hora certa, fiquei amigo do melhor violeiro do mundo, essas coisas me ajudaram muito".

O tal melhor violeiro do mundo, segundo Almir, é o cantor e instrumentista de música sertaneja Tião Carreiro (1934-1993). Em dupla com o cantor Pardinho (1932-2001), ele gravou mais de 40 LPs desde os anos 1960.

Almir começou a carreira de músico com nome artístico. Ele era Lupe, da dupla Lupe e Lampião, que formou com um amigo. Durou pouco, e logo partiu para a carreira solo, já com seu nome verdadeiro. Gravou o primeiro álbum assinando Almir Sater em 1981, "Estradeiro".

"Eu trouxe uma influência da minha geração para o mundo da viola. Sempre fui roqueiro, sempre gostei de folk music, então minhas músicas têm uma pitada mais pop", diz.

"Os violeiros de origem mais humilde não tinham esse acesso. Eu ainda não sei tocar viola igual aos melhores violeiros. Eu sou um compositor, uso a viola para fazer minhas canções. Mas sempre fui muito apaixonado pelo som da viola, pelas várias afinações possíveis, pela magia que a viola carrega, até pelo folclore da viola. Tudo isso me encanta".

No meio da década de 1980, junto com outros músicos, um fotógrafo e o jornalista especializado em música Zuza Homem de Mello (1933-2020), comandou uma comitiva que percorreu o Pantanal registrando imagens, sons e pesquisando o modo de vida dos moradores da região. O projeto virou um documentário e despertou um sonho, o de ter uma fazenda na região.

Almir Sater caracterizado como Eugênio, seu personagem de 'Pantanal' - Julia Costa/Globo

Hoje, Almir tem duas fazendas e uma escola no Pantanal. Cria uma raça de gado de corte chamada Senepol, que trouxe das ilhas virgens do Caribe e que misturou com outras raças para produzir uma carne macia e com pouca gordura. "Tenho um bom rebanho", afirma. "Gosto muito da pecuária, gosto muito de cavalo também. A lavoura não permite amadores, mas a pecuária ainda te perdoa um pouco, o ciclo é longo, então se não der para olhar o gado hoje dá para olhar amanhã".

E era em uma de suas fazendas que estava vivendo durante a pandemia do coronavírus quando recebeu a visita do diretor da novela, Rogério Gomes, da produtora Luciana Monteiro e do roteirista Bruno Luperi, neto do autor Benedito Ruy Barbosa, criador da versão original de "Pantanal".

"Eles chegaram lá em casa falando da novela e eu não acreditei muito. Estava há um ano e pouco sem saber se a vida ia voltar a acontecer", lembra Almir, que, após ser convencido que o projeto ia mesmo vingar, mostrou a eles um bom lugar para servir de cenário básico.

"O Pantanal inteiro é bonito, mas esse é um lugar de fácil acesso e que sintetiza as belezas do Pantanal. Tem o rio Negro, que tem uma luz de tom dourado que faz toda a diferença".

O Pantanal de hoje é diferente do Pantanal de 1990, diz Almir. "Se você comparar as duas novelas, você vê que o Pantanal mudou. As lagoas estão com pouca água, tivemos dificuldade para andar com a chalana no rio. Isso já aconteceu antes. Os antigos me falavam de uma seca em 1930 e outra, pior, em 1945. Então a gente percebe que é cíclico".

Almir também apresentou à equipe algumas fazendas vizinhas que podiam hospedar a equipe da novela. Desta vez, ela era muito maior que a da primeira versão, que coube toda em uma fazenda só —atores, técnicos, diretor, autor, figurinista, maquiador e demais profissionais.

Nessa versão da TV Globo, a produção foi bem mais caprichada, com muito mais gente, então o jeito foi contar com a ajuda dos fazendeiros da área. E a fazenda do próprio Almir foi reformada para poder receber parte da equipe técnica. O pessoal do cenário se hospedou na casa dele e de Gabriel.

"Aos domingos, quando não tinha gravação, ia todo mundo lá pra casa, a gente fazia uma feijoada, ficava tomando banho de rio e conversando", lembra. "Fiquei muito envolvido com o pessoal da técnica, até pintou um assunto de fazer alguma coisinha mais para frente, um outro projeto pra gente fazer junto. Vamos ver", diz, sem entregar nenhum outro detalhe.

Com o fim das gravações, Almir volta à vida de músico. "Eu vivo disso, de fazer show", diz. "Amo viajar, não me canso nunca. Me apresento nos grotões do Brasil. E quando não tem avião, vou de ônibus. Moro no ônibus muitas vezes, fazendo o que é a minha paixão".

"Acho que faço tanto show e há tanto tempo porque precisava ganhar um dinheirinho para comprar uma fazenda no Pantanal. No Pantanal a gente respira o silêncio e tem a sensação de ter todo o tempo do mundo. E quando você tem essa sensação, dá até para fazer música", diz ele.

Para o domingo que vem, dia de eleição, Almir torce para que "a gente tenha respeito pela opinião dos outros. Que a gente seja civilizado e pense no Brasil. A nossa política está muito enraivecida e sem objetivos. Isso não faz bem para ninguém".

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