Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu Alalaô

'Esquenta' do Porta dos Fundos para desfile teve cassetete no pescoço e medo de dor de barriga

Coletivo de humor foi homenageado por escola de samba em São Paulo

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Antonio Tabet se apressou em procurar o toalete assim que chegou ao hotel em que estavam reunidos humoristas, sambistas e foliões que desfilariam pela Estrela do Terceiro Milênio, em São Paulo, na noite de sábado (18). Na bagagem, levava uma farda policial, correntes de prata e um cassetete preto comprado por ele no mesmo dia, na rua Augusta.

O ator e humorista Antonio Tabet, do Porta dos Fundos, chega ao sambódromo do Anhembi, em São Paulo, para desfilar pela escola de samba Estrela do Terceiro Milênio - Ronny Santos/Folhapress

A indumentária deu vida a Peçanha, anti-herói policial criado por ele e um dos personagens mais populares do Porta dos Fundos.

Usando óculos escuros do tipo aviador e um bigode falso, Tabet já não conseguia mais desbloquear o seu celular por meio do recurso de reconhecimento facial —mas era facilmente distinguido por admiradores, que não se inibiam na hora de pedir selfies ao seu lado. Um deles optou por posar com o cassetete de Tabet em seu pescoço, enquanto levava uma das mãos ao alto e, com a outra, envolvia o ator.

Cercada por humoristas de toda a sorte, desde o elenco de A Praça É Nossa (SBT) a personagens surgidos na internet, como Esse Menino e Dona Fernandona, a atriz Evelyn Castro contava com o apoio de integrantes da escola de samba para fixar um longo aplique de cabelo e o adorno de cabeça que escolheu para desfilar pela agremiação.

A primeira vez em que esteve em um sambódromo, conta ela à coluna, foi na Marquês de Sapucaí, no Rio, disfarçada de gari. Tinha 18 anos. "Uma tia minha trabalhava na Comlurb [Companhia Municipal de Limpeza Urbana] e falou: 'Acabou a credencial, só tem uniforme'. Me vesti de gari e segui todas as escolas. Eu ia e voltava, varrendo. Foi maravilhoso. Era o desfile das campeãs."

A atriz e humorista Evelyn Castro, do Porta dos Fundos, chega ao sambódromo do Anhembi, em São Paulo, para desfilar pela escola de samba Estrela do Terceiro Milênio - Ronny Santos/Folhapress

Tabet e Evelyn foram alguns dos integrantes do Porta dos Fundos que participaram da homenagem ao coletivo de humor feita pela escola de samba. Além deles, estavam presentes no sambódromo do Anhembi Ed Gama, Fábio de Luca, Macla Tenório e Thati Lopes.

Quatro horas antes do desfile, os versos do samba-enredo da Terceiro Milênio ainda eram cantados com algum atropelo na van que levava os atores para o sambódromo. "Aqui é Antonio Fagundes e Marieta Severo. A gente costuma decorar na hora", brincava Evelyn.

No trajeto rumo ao cortejo, eles ainda entoavam, em coro, hits de Leo Santana, Marília Mendonça e Tarcísio do Acordeon. Majoritariamente carioca, a caravana era composta por humoristas que, até a noite de sábado, nunca tinham pisado na avenida ou então se preparavam para a sua estreia no Carnaval paulistano.

"Eu nunca imaginei que a primeira vez seria em São Paulo", disse Fábio de Luca. "Se a escola ganhar, a gente vem de novo?", perguntou Tabet aos colegas, em menção aos desfiles das campeãs paulistas. "Caraaaaca", respondeu Thati, admirada com a possibilidade.

Chegando na concentração, os atores do Porta dos Fundos foram recebidos com gritos de "bem-vindos ao Grajaú", distrito paulistano em que a Terceiro Milênio foi fundada. "Estou ficando tensa. Pode ser que eu defeque em algum momento", disparou Macla Tenório, minutos antes do início do desfile. "Eu não conheço ela", brincou Evelyn. "Desculpa, Mônica Bergamo", emendou Ed Gama, se dirigindo ao gravador.

"É que estou ficando muito nervosa, mas estou feliz porque desfilar é o sonho da vida da minha mãe. E, de alguma maneira, me sinto realizando o sonho dela", explicou Macla.

A atriz e humorista Maria Clara Tenório, a Macla, do Porta dos Fundos, chega ao sambódromo do Anhembi, em São Paulo, para desfilar pela escola de samba Estrela do Terceiro Milênio - Ronny Santos/Folhapress

Enquanto os humoristas convidados se deslumbravam com a cena carnavalesca que os rodeava, o presidente da Câmara Municipal de São Paulo, Milton Leite (União Brasil), caminhava de forma apressada por entre os foliões. O parlamentar é também presidente de honra da agremiação.

"A gente tem que conseguir colocar todo mundo para o alto em 15 minutos", repetia Milton Leite, orientando os operadores das máquinas que alçavam as pessoas ao topo dos carros alegóricos.

"Nossa, estou tão nervoso que estou alegre", disse ele à coluna, descontraindo. Minutos depois, uma queixa sua de que não havia maquinário suficiente para posicionar as pessoas foi levada publicamente à Liga das Escolas de Samba, por meio do microfone cujo som ressoava por todo o sambódromo. Ao cabo, a Estrela do Terceiro Milênio entrou na avenida com 23 minutos de atraso.

Terminado o desfile, os atores do Porta dos Fundos desciam do carro alegórico em êxtase, molhados da cabeça aos pés por causa do temporal. "Não existe um centímetro quadrado meu que não esteja completamente encharcado", disse Antonio Tabet.

"E encharcado mesmo vindo embaixo do nariz do [Marcelo] Adnet, esperando que isso me poupasse", afirmou, ao falar sobre a cabeça gigante que foi usada para adornar o último carro alegórico da escola de samba, em homenagem ao humorista. "E é um puta nariz. [Eu estava] esperando que caísse cocaína em mim", acrescentou, aos risos.

"A gente imagina que vai ser emocionante e tal, mas é indescritível. Eu acho que estou com três dedinhos [do pé] gangrenados, mas valeu", brincou Fábio de Luca. "E agora, que escola que eu vou arrumar no Rio para poder desfilar? Porque eu quero! E quero nesse fim de semana, amanhã", disse Thati Lopes.

Recém-saída do desfile, Evelyn Castro elencou dois momentos de sua travessia pelo sambódromo que considerou marcantes. "Quando a gente estava se preparando, eu vi Maria e Cristo em um carro alegórico, ali perto da gente. Isso me trouxe uma emoção do tipo 'faço humor e é isso. Não é uma crítica a ninguém. É humor, é leve'", disse, rememorando o ataque sofrido pelo Porta por causa do especial de Natal de 2019. Na ocasião, ela interpretou a mãe de Jesus.

"Depois, eu vi a escola e as pessoas cantando juntos a letra, repetindo 'sou alegria'. Isso me tocou muito", continuou Evelyn. "Meu irmão, eu vou ter que continuar nessa vida. Seja no teatro, na rua, no que for."

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