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'Não há conciliação possível com golpista', afirma Gabriela Prioli

Nova integrante do Saia Justa diz que respirou aliviada quando Bolsonaro perdeu a reeleição

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A advogada e apresentadora de TV Gabriela Prioli Iude Richele/Divulgação

Em questão de meses, mudou muita coisa na vida de Gabriela Prioli. A advogada e apresentadora de TV teve sua primeira filha, Ava, no dia 22 de dezembro de 2022, fruto de seu casamento com o DJ Thiago Mansur. O plano original era pegar leve neste começo de ano, mas um convite que chegou em janeiro a fez mudar de ideia. Gabriela é uma das novas integrantes do programa "Saia Justa", ao lado da também estreante Bela Gil e das veteranas Astrid Fontenelle e Larissa Luz. A nova temporada estreou no último dia 8, no canal GNT.

A mudança também implicou a saída de Gabriela da CNN Brasil, onde estava desde o começo de 2020. Revelada pelo quadro "O Grande Debate", em que defendia posições embasadas em argumentos sólidos contra os delírios radicais de seus oponentes, ela logo se tornou uma das estrelas da casa. Passou pelos programas "O Mundo Pós-Pandemia" e "CNN Tonight", antes de fazer três temporadas de seu próprio talk show, "À Prioli". No GNT, ela não terá uma atração com seu nome no título, mas isto não a incomoda.

A advogada e apresentadora de TV Gabriela Prioli - Iude Richele/Divulgação

"Eu não acho que protagonismo dependa do lugar que você ocupa no sofá ou do nome que tem um programa", afirma Gabriela. "É ter espaço para falar o que você acredita. No meu caso, fazer minha voz ser ouvida em lugares que considero relevantes. Ter a chance de trocar com outras mulheres que admiro só me ajuda a levar além dessas discussões."

A CNN Brasil passou recentemente por uma onda de demissões, e a programação do canal vem sendo reformulada. Mas Gabriela garante que as mudanças não influenciaram sua decisão de sair. "Só posso agradecer pelo período que vivi lá, porque tive liberdade para fazer o que quis."

A apresentadora já gravou alguns pilotos com a nova formação do "Saia Justa" e ficou feliz com o resultado. Mas o programa em si é ao vivo, o que não a assusta. Mais intimidador foi encarar uma plateia, coisa que só fez quando participou do "Altas Horas", na Globo, no começo de fevereiro.

"Eu fiquei desesperada", ri. "Ainda nem tinha saído de casa depois que a Ava nasceu, e é o programa do Serginho Groisman! O que é que eu estava fazendo ali, junto com a Vera Fischer, a Roberta Close, a Carla Dias? No final, o Alexandre Pires pediu para tirarmos uma foto. Como assim? Eu é que sou fã dele!".

Na verdade, a experiência de Gabriela com as câmeras vem de longa data. Quando criança, ela participou de comerciais de TV.

"Infelizmente, há um padrão de beleza na nossa sociedade, e naquela época, ainda mais. Eu era uma criança loira de olho azul, então começaram cedo a sugerir para minha mãe me levar para fazer testes. Rodei uns quatro comerciais e posei para alguns editoriais de moda, mais nada. Hoje me sinto segura em frente às câmeras, mas, quando vou fazer foto, ainda fico bastante tímida".

Gabriela perdeu o pai aos seis anos de idade, num acidente. Criada pela mãe ao lado do irmão, Rafael, cursou direito no Mackenzie, onde depois deu aulas, e fez mestrado na USP (Universidade de São Paulo). Também se tornou sócia de um escritório de advocacia. A defesa de sua tese de mestrado, sobre a descriminalização das drogas, rendeu convites para programas de TV. Chegou a gravar pilotos para a Record, mas preferiu ir para a CNN Brasil.

Gabriela Prioli
A apresentadora da CNN Gabriela Prioli, que lança seu segundo livro, "Ideologias" - Divulgação

Hoje, ela tem um canal no YouTube com quase 1 milhão de inscritos, um perfil no Instagram com 2,3 milhões de seguidores e dois livros publicados, "Política é para Todos" e "Ideologias", ambos pela Companhia das Letras. Um terceiro livro, sobre a condição da mulher na sociedade, está em elaboração. Para dar conta de tudo isso, mantém uma equipe fixa de seis pessoas, além de colaboradores eventuais. Mas a chegada do bebê a obrigou a diminuir um pouco o ritmo de trabalho, e também a se expor um pouco menos nas redes sociais.

"Quando o Bolsonaro perdeu, eu respirei aliviada. Pensei: ‘Graças a Deus, porque a minha filha vai nascer e eu vou poder viver’. Cheguei até o nono mês da gravidez trabalhando muito. Uma semana antes do primeiro turno, Bolsonaro dirigiu sua militância contra mim".

Gabriela disse que não tinha interesse em entrevistá-lo, e o ex-presidente respondeu em suas redes que isso equivalia ao time de futebol das Organizações Tabajara [empresa incompetente e fictícia do extinto humorístico "Casseta & Planeta Urgente"] recusar o passe do Neymar. "Recebi ameaças de morte. Eu me esforço para parecer que estou sempre bem, mas vivi momentos muito pesados na minha gestação."

Gabriela ainda foi atacada por ir a Nova York em novembro de 2022 para comprar peças para o enxoval da filha. E também por revelar que faria uma cesariana, já que o bebê estava na posição pélvica, "sentado" dentro do útero, e não na encefálica, com a cabeça virada para baixo.

"A minha obstetra não faz parto pélvico vaginal. Ela acha arriscado, e eu decidi [pela cesárea] considerando que era mais seguro para minha filha. Mas teve quem, sem nem ler o que escrevi, me criticou. Recebi mensagens extremamente insensíveis, questionando minha médica e me colocando em dúvida com 38 semanas de gestação. Insinuações de que eu estava fazendo isso por comodidade. Uma coisa terrível."

Gabriela prioli com o marido Thiago Mansur e a filha Ava
A advogada Gabriela Prioli, o marido, o DJ Thiago Mansur, e a filha do casal, Ava - @gabrielaprioli no Instagram

"Um dia eu desabei em lágrimas e pensei que seria melhor fazer uma cesárea de emergência, pois assim os ataques cessariam. Depois eu caí em mim: ‘Um parto de emergência? Com a vida da minha filha correndo perigo? Meu Deus, que loucura é essa?’ Chorei mais e pedi perdão à Ava, que nem tinha nascido".

"Quando eu comecei a amamentar, o pediatra me disse que eu teria que complementar as mamadas, porque meu leite não estava sendo suficiente para a Ava engordar. Achei que não iria tocar nesse assunto, mas aqui estou eu falando para você, pela primeira vez. Algumas pessoas vão questionar essa recomendação, mas sei que estou fazendo o melhor para minha filha e que outras mães precisam dessa confiança. Então eu vou falar. Vai vir porrada? Vai, mas eu dou conta".

Questionada sobre o que ela sentiu quando Tomé Abduch, um de seus adversários habituais no quadro "O Grande Debate’, foi eleito deputado estadual em São Paulo, pelo Republicanos, ela responde de bate-pronto: "Eu sinto muito". "Preciso ser justa e dizer que, no trato pessoal, o Tomé sempre foi muito gentil", complementa. "Mas, nos debates, eu percebi que ele inventa dados e cria fatos, então eu sinto muito."

"Não é pelas opiniões divergentes. A gente precisa de um debate pulsante, e para isto, é necessária a divergência. Mas não posso equiparar argumento a achismo. Um debate em que eu tenho que contrapor meu argumento a uma construção alicerçada em coisa nenhuma é pobre. Em vez de fortalecer, vicia a democracia."

Gabriela deixou "O Grande Debate" ainda no primeiro semestre de 2020, e foi substituída pelo advogado Augusto de Arruda Botelho, que concorreu a deputado federal pelo PSB em 2022, mas não foi eleito. Botelho agora integra o governo Lula, como secretário nacional de Justiça.

"Eu não tenho nenhum interesse numa carreira política, pois quero manter minha independência. Agora não faz sentido para mim, mas também não sei quais serão meus planos daqui a cinco, 10, 20 anos. Achei que eu seria advogada e professora, e aqui estou eu, conversando com você, porque sou a nova integrante do ‘Saia Justa’."

O nascimento de Ava fez com que Gabriela se afastasse um pouco do noticiário. "Vou ser muito honesta. Estou prestando pouca atenção ao novo governo, porque passei os últimos três anos mergulhada na política. Eu precisava de um pouquinho de férias para viver minha maternidade".

"Fiquei muito feliz com o momento da posse, achei linda aquela simbologia do povo brasileiro. Mas não gostei de todas as nomeações feitas pelo Lula. Só espero que a gente consiga levar adiante o discurso de conciliação que foi feito durante a campanha eleitoral."

Questionada se essa conciliação se estende aos vândalos que depredaram as sedes dos Três Poderes em Brasília, no dia 8 de janeiro, ela rejeita. "Não, não existe conciliação possível com golpista", responde, convicta.

Gabriela Prioli se recusa a dizer em que ponto está no espectro político. "Eu não me defino politicamente, porque prefiro ter liberdade para opinar sobre qualquer tema. Se eu me atribuir um rótulo, afastaria alguns ouvidos daquilo que eu tenho a dizer. Tem gente que se fecharia ao meu discurso se eu dissesse que sou mais X ou mais Y."

Erramos: o texto foi alterado

Diferentemente do publicado, a advogada Gabriela Prioli cursou direito na Universidade Presbiteriana Mackenzie e fez mestrado na USP (Universidade de São Paulo), não o oposto. O texto foi corrigido.

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