Circula entre atores da TV Globo um áudio que revela um trecho de uma reunião realizada entre o diretor Vinicius Coimbra, demitido da emissora no ano passado por assédio moral, e artistas negros da novela "Nos Tempos do Imperador". O folhetim foi ao ar entre agosto de 2021 e fevereiro de 2022.
No fragmento, ouve-se Coimbra advertindo parte do elenco sobre uma suposta "tropa de choque do movimento branco" que poderia afrontá-lo e questionar as suas reivindicações.
A conversa ocorreu em setembro de 2021. Na ocasião, a novela sofria críticas por exibir uma cena em que sugeria que uma personagem branca havia sido segregada por negros, numa espécie de "racismo reverso". A autora da novela pediu desculpas publicamente após a repercussão.
Coimbra convocou apenas pessoas negras do elenco para a reunião —o que incomodou os envolvidos. Segundo explicou à coluna Zapping, no mês passado, ele considerou que elas "estavam no olho do furacão". Durante a reunião, foram apresentadas reclamações sobre disparidades salariais e de tratamento.
No áudio que agora circula entre os atores, o diretor alerta para eventuais represálias. "Assim como você tem a tropa de choque do movimento negro, a [escritora e filósofa] Djamila [Ribeiro], o [comunicador e influenciador] AD Junior, você também tem a tropa de choque do movimento branco, entendeu? Que também vão, a qualquer deslize de vocês, vão deslegitimar as reivindicações, os discursos", afirmou.
OUÇA ÁUDIO QUE CIRCULA ENTRE ATORES DA TV GLOBO
"É normal, eu acho que tem que ter o AD Junior, tem que ter a Djamila, eu defendo mais esse tipo de discurso, mas eu acho que a gente tem que ir por uma via [em] que você não deixa contra-argumentos", disse ainda.
Diretor de marketing do canal Trace Brasil, AD Junior usou seu perfil nas redes sociais para denunciar a cena de "racismo reverso" e qualificá-la como um desserviço. "São cenas como essa que viram verdades para pessoas desinformadas sobre o período da escravidão", escreveu.
"Pessoas negras nem eram consideradas seres humanos nem poderiam, de fato, segregar pessoas", acrescentou. A queixa do influenciador foi endossada por Djamila Ribeiro, em coluna publicada na Folha.
Procuradas pela coluna, as atrizes Dani Ornellas e Roberta Rodrigues, que atuaram na trama e denunciaram o diretor artístico por racismo ao departamento de compliance da TV Globo, dizem que o trecho da reunião disponibilizado em áudio reflete um contexto racista.
"Testemunhamos e vivemos situações muito difíceis, vivenciamos episódios que entendemos racistas, como a reunião solicitada pelo diretor apenas com os atores pretos. Nesta reunião, o diretor usou o termo 'tropa de choque do movimento branco', como pode-se ouvir no áudio", afirmam elas, em nota.
"Incrivelmente, algumas pessoas entenderam de forma diferente. Entenderam que não foi um episódio de racismo, e, sim, uma simples ironia. Isso realmente é muito assustador. Assustador como o espaço do racismo vivenciado sempre é minimizado como algo irônico, como uma piada, como se não fosse racismo o que vivemos, nós que interpretamos errado, sempre nós", seguem.
O diretor artístico Vinicius Coimbra, por sua vez, diz ter usado o termo "tropa de choque branca" de forma pejorativa, "em referência aos 'movimentos brancos' reacionários que reagiriam contra a luta legítima de pessoas negras". Ele ainda afirma que gostaria que todo o teor da reunião viesse a público.
"Receava que uma postura mais combativa desse margem para contra-argumentos (como registra o áudio) e fragilizasse o discurso de pessoas por quem eu nutria admiração e amizade. Existe muita gente racista na sociedade pronta para atacar vozes negras que lutam por direitos, e foi a isso que me referi", diz Coimbra, em nota enviada à coluna.
"No áudio, coloco-me ao lado dos artistas até na escolha do pronome: 'A gente tem que ir por uma via...'. Gostaria, inclusive, que a gravação da reunião fosse divulgada na íntegra por quem a fez, para mostrar que eu estava na defesa dos artistas em todos os momentos. Sigo aberto ao diálogo a qualquer instante, com qualquer pessoa, em qualquer âmbito", finaliza.
A suposta prática de racismo contra atrizes da novela é investigada pelo Ministério Público do Trabalho (MPT) do Rio de Janeiro. Em nota à coluna Zapping, o órgão afirmou que a investigação corre sob sigilo.
"Por enquanto, o que podemos informar é que estão sendo analisados documentos e depoimentos de testemunhas. Após esses procedimentos será ajuizada Ação Civil Pública", explicou o MPT.
RINDO À TOA
O ator, diretor, humorista e apresentador Fabio Porchat recebeu convidados na estreia do stand-up "Histórias do Porchat", realizada no Teatro das Artes, em São Paulo, na semana passada. A atriz Miá Mello e a empresária Yara Souza estiveram lá.
com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH
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