Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

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Descrição de chapéu maternidade

'Não sei por quanto tempo colocarei a cara no vídeo', diz Astrid Fontenelle

Aos 62 anos, apresentadora do Saia Justa segue recebendo convites para novos projetos, mas seu foco é o filho, Gabriel

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A apresentadora Astrid Fontenelle no estúdio em São Paulo, onde grava o programa Saia Justa, do canal GNT

A apresentadora Astrid Fontenelle no estúdio em São Paulo, onde grava o programa Saia Justa, do canal GNT Lucas Seixas/Folhapress

Em abril passado, o jornal The Washington Post publicou, em sua versão online, uma matéria sobre mulheres brasileiras que assumiram seus cabelos brancos. Entre elas, a apresentadora Astrid Fontenelle, que há mais de uma década comanda o programa Saia Justa do GNT. Em entrevista para a coluna, Astrid contou, com mais detalhes, a mesma história veiculada pelo jornal americano.

"Eu sempre mexi muito com o cabelo", diz ela. "Passei por todas as cores possíveis, todos os formatos. Pensei em parar de pintar bem antes da pandemia, mas a minha chefe daquele momento vetou: ‘Pode ser azul, pode ser rosa, qualquer cor, menos branco’."

"Aí chegou a pandemia, e a minha última prioridade era pintar o cabelo. Comecei a não me arrumar tanto. Achei que não era o caso, com tanta gente morrendo. No começo eu ainda pintava as pontas de rosa, fui disfarçando, mas ninguém estava preocupado com isso. Até que deixei ficar todo branco."

A apresentadora Astrid Fontenelle assumiu os cabelos brancos na pandemia - Lucas Seixas/Folhapress

"Foi então que uma grande marca de cosméticos me chamou para uma ação publicitária. Era para eu pintar o cabelo em casa. Não quis, porque a construção da minha carreira sempre foi com muita coerência. Não é que eu não goste de dinheiro. Eu gosto, eu preciso de dinheiro, mas quero ganhar dentro do meu limite de coerência."

"Como o universo conspira meu favor, logo depois eu recebi uma proposta até melhor. Na verdade, eu nem quis saber de quanto era a primeira proposta, mas a segunda era para fazer propaganda de um produto para cabelo grisalho. Eu fiz, e comecei a ver a importância daquilo para as outras mulheres que estavam em casa. Algumas me diziam: 'Estou fazendo o mesmo, você me encorajou'."

Em 2021, Astrid entrou para um clube restrito: o dos apresentadores de TV com mais de 60 anos de idade. Só alguns poucos, como Ana Maria Braga ou Serginho Groisman, ultrapassam esta marca e continuam no ar. Mas será que a televisão brasileira está mais aberta aos mais velhos?

"Acho que logo, logo eu vou poder responder a esta pergunta. Por enquanto, continuo sendo chamada para muita coisa." É verdade: ela acaba de participar de uma campanha de ESG da Globo, além de comandar os cinco episódios do podcast "Rita Lee — Uma Autobiografia", ao lado do jornalista Gui Samora, que logo se tornou o mais ouvido nas plataformas de áudio. O sucesso do projeto já rendeu novos convites para apre sentar podcasts. "Mas é cedo para dizer por quanto tempo eu ainda colocarei a cara no vídeo", conclui.

Astrid tem preocupações maiores do que a longevidade de sua carreira, que já tem mais de 40 anos. O centro de suas atenções é o filho Gabriel, de 14 anos. Um garoto negro que ela adotou recém-nascido, em Salvador.

"Não tive tempo de ter um filho biológico. Minha mãe, que me criou sozinha e teve uma carreira bem-sucedida, sempre me disse para não depender de nenhum homem. Então, durante muito tempo, eu só pensava em trabalhar."

"Fiz dois abortos", admite ela. "Engravidei na hora errada, de pessoas erradas. Não é uma coisa da qual eu me orgulhe. Na primeira vez, eu era muito jovem. Fui a uma cabeça de porco, foi horrível. Na segunda, eu já tinha mais condições. Meu ginecologista me deu um medicamento e eu fui para um hospital de primeira linha, dizendo que estava perdendo o bebê."

"É tanta hipocrisia, em tantas frentes. Não só na política. Passou da hora de levarmos isso a sério, como uma questão de saúde pública, e evitar que o submundo continue ganhando dinheiro."

"Mais tarde, eu ainda sofri um aborto espontâneo. Aí chegou o momento em que eu pensei: 'Vou ter um filho do coração.' Nunca achei lindo mulher grávida. Eu dizia: 'Isso não é para mim, vou morrer de dor nas costas.' Não tenho essa coisa corporal. Tanto que, quando adotei o Gabriel, eu poderia ter tomado um medicamento que me permitiria amamentar. Eu não quis. ‘Vamos dar logo a mamadeira’, eu disse. Para quê voltar atrás?"

Astrid decidiu adotar uma criança quando ainda estava casada com seu penúltimo marido, cujo nome ela prefere não citar. Preencheu com o nome de ambos a ficha básica do Juizado da Infância e da Adolescência. Um mês depois, os dois se separaram. A relação já vinha mal havia algum tempo, e degringolou de vez quando a apresentadora percebeu que o entusiasmo por ter um filho era só dela. Voltou ao juizado e retirou da ficha o nome do agora ex-marido.

Pouco tempo depois, surgiu o Cadastro Nacional de Adoção, e Astrid se inscreveu. Tirou um ano sabático para se concentrar apenas no processo de encontrar uma criança e ser aprovada como a mãe dela. Foi então que algo inesperado aconteceu: num momento que não estava procurando, apareceu um novo amor.

O baiano Fausto Franco e Astrid Fontenelle já se conheciam havia algum tempo. Ele era produtor executivo da banda Chiclete com Banana, e os dois costumavam se esbarrar no Carnaval. Os encontros se tornaram mais frequentes quando ele se dispôs a ajudá-la. Agendou uma reunião entre a apresentadora e o juiz baiano Salomão Resedá, com quem já desenvolvia projetos sociais. No mesmo dia, Astrid conheceu Gabriel, o bebê que viria a adotar, e precisou cumprir a lei: passar 40 dias corridos em Salvador, para entrar num processo de adaptação mútua com seu futuro filho.

0A apresentadora Astrid Fontenelle com o filho, Gabriel, e o marido, Fausto Franco
A apresentadora Astrid Fontenelle com o filho, Gabriel, e o marido, Fausto Franco - Ronny Santos - 11.jul.2022/Folhapress

"Desde o começo, o Fausto queria namorar comigo. E eu respondia: ‘Sabe por que você não vai? Porque eu tenho outros projetos para a minha vida, e neles você não cabe. Se eu topasse, seria como se você namorasse uma grávida cujo filho não é teu’."

Mas a insistência de Fausto surtiu efeito. O namoro logo evoluiu para algo mais sério. Quando Gabriel tinha dois anos de idade, passou a chamar o companheiro da mãe pelo mesmo apelido que ela usava, "namo". Astrid não gostou e sentiu que precisava fazer a algo respeito.

Ela e Fausto se casaram no papel, e ele entrou com a papelada para também ser o pai do garoto. O casal morou junto 100% do tempo apenas no começo da relação: logo repararam que era melhor viver em casas separadas. Hoje ele tem um apartamento em Salvador e ela, em São Paulo, mas costumam conviver durante vários dias por mês.

Logo após a adoção de Gabriel, a vida de Astrid parecia um mar de rosas. Tudo estava dando certo: novo filho, novo namorado e, para coroar, a volta ao comando do Happy Hour no canal GNT, que ainda por cima teve sua produção transferida do Rio para São Paulo, o que facilitou muito a vida da apresentadora.

Mas a vida não dá trégua por muito tempo. Em meio a tanta felicidade, Astrid passou a sentir dores nas costas, nos rins e nas articulações. Depois de muitas consultas médicas inconclusivas, ela finalmente recebeu o diagnóstico de lúpus, uma doença autoimune e incurável. Foi internada no mesmo dia.

Astrid não descarta a possibilidade de a doença ter se manifestado por causa de algum gatilho emocional. "O lúpus surgiu dois anos depois da minha separação. Tipo, um efeito rebote. Eu fiquei desesperada, porque tinha um bebê para cuidar. Não podia deixar o Gabriel passar por uma segunda perda."

Seguiram-se sete anos de dores intensas, fragilidade física e toneladas de medicamentos. Então os sintomas começaram a dar trégua, até desaparecerem por completo. Hoje, os médicos não falam em cura, mas em remissão. Astrid continua tomando remédios —entre eles, sulfato de cloroquina, que, para casos como o dela, realmente é eficaz.

Astrid Fontenelle acaba de completar 11 anos à frente do Saia Justa, também no canal GNT. O elenco do programa passou por diversas formações nesse período, e agora também conta com Bela Gil, Gabriela Prioli e Larissa Luz. Por ser exibido ao vivo, nas noites de quarta, deixa muito tempo para a apresentadora se concentrar em Gabriel.

Gabriela Prioli, Larissa Luz, Bela Gil e Astrid Fontenelle compõem o time de apresentadoras do Saia Justa - @piofigueiroa /@pilototv

"Estou criando meu filho para o mundo. Um dos meus modelos para a educação dele é o Zeca Camargo [apresentador e colunista da Folha]. Gabriel e eu já viajamos muito juntos, mas eu o avisei que a vida não é só isso. Ele ainda vai passar por muitos enfrentamentos".

Que, aliás, já começaram. Numa das primeiras vezes em que levou Gabriel à escola, viu um garoto uns dois anos mais velho chamar seu filho de "preto, pretinho". Astrid saiu do carro furiosa. O segurança do colégio, que era negro, baixou a cabeça e disse apenas: "Ele sempre faz isso." "Pois deixe comigo", retrucou Astrid. "Eu vou lutar pelo meu filho e pelo senhor." Depois ela descobriu o telefone da mãe do menino, e levou mais de uma hora de conversa para que a mulher admitisse que não tinha tempo de dar a atenção necessária aos três filhos. "Foi ali que eu nasci como antirracista."

Hoje Astrid Fontenelle é uma ativa militante da causa antirracista. Envolveu-se, entre outras coisas, nos protestos contra os vizinhos de Eddy Jr, que proferiram insultos racistas diversas vezes contra o comediante.

Gabriel tem um mapa-múndi no quarto, onde prega alfinetes nos muitos países que já visitou. Está se tornando um rapaz alto e bonito, e tem como ídolo o falecido pintor americano Jean-Michel Basquiat.

"Eu estava triste antes de ser mãe. Minha carreira foi construída quase toda na base do conhecimento. Só na Band que eu tive uma fase de contar fofoca. Mas chegou um ponto em que passar conhecimento só pela TV já não me bastava. Hoje eu tenho um filho, e o conhecimento é o melhor que eu posso deixar para ele."

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