Mônica Bergamo

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Entidades de combate à tortura apontam sensacionalismo em caso de mulher de líder do CV

Membros de órgão nacional alertam para a criminalização de parentes de pessoas encarceradas

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Brasília

Entidades da sociedade civil que integram o Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), órgão que está vinculado ao Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, decidiram se pronunciar pela primeira vez sobre a participação de Luciane Barbosa Farias, mulher de um líder do Comando Vermelho (CV), em um encontro que teve o colegiado como um dos organizadores.

Membros do CNPCT alertam para o que chamam de "criminalização de parentes de pessoas encarceradas" após a presença de Luciane no Encontro de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura, em Brasília, ser alvo de questionamentos e de associações entre o governo e o tráfico.

Print da publicação de  Luciane Barbosa Farias no 4º Encontro Nacional dos Comitês de Prevenção e Combate à Tortura e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura
Print da publicação de Luciane Barbosa Farias no 4º Encontro Nacional dos Comitês de Prevenção e Combate à Tortura e Mecanismos de Prevenção e Combate à Tortura - @luhfariasoficial no Instagram

"Nos preocupamos com a tentativa de criminalização de parentes de pessoas encarceradas, destacando um princípio constitucional: nenhuma pena passará da pessoa do condenado", afirmam os representantes da sociedade civil no comitê, em nota ainda inédita e obtida pela coluna.

"Um colegiado destinado a combater a prática de tortura no sistema prisional deve dar voz às pessoas envolvidas com a questão carcerária, sejam pesquisadores, profissionais, egressos, pessoas encarceradas e seus parentes", dizem ainda.

Como noticiou o jornal O Estado de S. Paulo, Luciane é esposa de um líder do Comando Vermelho que cumpre pena no Amazonas. Ela foi condenada por associação para o tráfico a dez anos de prisão e recorre em liberdade. Seu marido, Clemilson dos Santos Farias, o Tio Patinhas, está preso preventivamente.

Luciane preside a Associação Instituto Liberdade do Amazonas (ILA), entidade selecionada para fazer parte do Comitê Estadual de Prevenção e Combate à Tortura amazonense e que participou do encontro nacional, ocorrido nos dias 6 e 7 deste mês.

Assim como os demais participantes do evento, Luciane teve suas passagens pagas por meio do orçamento desses comitês.

Para as entidades que integram o CNPCT, a exploração, por meio do noticiário, da ida de Luciane ao encontro guarda outras motivações que não suas supostas ligações com o Comando Vermelho.

"Não permitiremos que a busca da erradicação da prática de tortura seja importunada por disputas político-partidárias e por sensacionalismo midiático", diz a nota. "A prática de tortura é realidade disseminada no Brasil, o CNPCT tem muito trabalho a fazer e seu foco continuará a ser o fim da tortura."

O objetivo de encontros como o realizado em Brasília no início deste mês é fortalecer a atuação dos organismos dedicados ao combate à tortura, prática presente em instituições de privação de liberdade e que já foi alvo de condenação da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH).

O CNPCT é integrado por nove entidades não governamentais, como o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), a Associação Nacional das Defensoras e Defensores Públicos (Anadep), o Instituto Terra Trabalho e Cidadania e a Associação de Amigos e Familiares de Pessoas em Privação de Liberdade. Outras 11 cadeiras são ocupadas por representantes de ministérios e secretarias do governo federal.

Leia, abaixo, a íntegra da nota elaborada por entidades que integram o CNPCT:

"As entidades da sociedade civil, integrantes do Comitê Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (CNPCT), diante da repercussão na imprensa a respeito do IV Encontro Nacional de Comitês e Mecanismos de Prevenção e Combate a Tortura, esclarece à sociedade brasileira os seguintes pontos.

O CNPCT é um dos órgãos integrantes do Sistema Nacional de Prevenção e Combate à Tortura (SNPCT), criado pela Lei Federal nº 12.847/2013, composto por membros de órgãos do Poder Executivo federal e de organizações da sociedade civil e presidido pelo Ministro dos Direitos Humanos e Cidadania.

O Comitê tem como objetivo contribuir para o enfrentamento da prática de tortura em instituições de privação de liberdade, como locais de longa permanência para idosos, hospitais psiquiátricos, estabelecimentos socioeducacionais destinados à internação de adolescentes, presídios e outros.

Ainda que o colegiado tenha autonomia política, ele não tem autonomia orçamentária e administrativa, conforme previsão do art. 12, da referida lei, que prevê o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania "garantirá o apoio técnico, financeiro e administrativo necessários ao funcionamento do SNPCT, do CNPCT e do MNPCT". O apoio administrativo do CNPCT é feito pela Coordenação Geral de Combate à Tortura e Graves Violações de Direitos Humanos (CGCT).

O Comitê Nacional e os comitês estaduais são compostos por membros de órgãos dos respectivos governos e por representantes da sociedade civil (conselhos de classes profissionais, movimentos sociais, entidades representativas de trabalhadores, estudantes, empresários, instituições de ensino e pesquisa e outros), todos com atuação na prevenção e no combate à tortura e a outros tratamentos ou penas cruéis, desumanos ou degradantes.

O IV Encontro Nacional de Comitês e Mecanismos, realizado nos dias 6 e 7 de novembro de 2023, em Brasília, e organizado pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) em conjunto com o CNPCT, reuniu representantes do Comitê Nacional e dos comitês estaduais, além dos Mecanismos Nacional e estaduais de Prevenção e Combate à Tortura.

Nos preocupamos com a tentativa de criminalização de parentes de pessoas encarceradas, destacando um princípio constitucional: nenhuma pena passará da pessoa do condenado (art. 5º, inciso XLV).

Evidente que um colegiado destinado a combater a prática de tortura no sistema prisional deve dar voz às pessoas envolvidas com a questão carcerária, sejam pesquisadores, profissionais, egressos, pessoas encarceradas e seus parentes.

Não permitiremos que a busca da erradicação da prática de tortura seja importunada por disputas político partidárias e por sensacionalismo midiático.

A prática de tortura é realidade disseminada no Brasil, o CNPCT tem muito trabalho a fazer e seu foco continuará a ser o fim da tortura."

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

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