Mônica Bergamo

Mônica Bergamo é jornalista e colunista.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Mônica Bergamo
Descrição de chapéu Folhajus

Juíza mantém acusado de ligação com o Hezbollah no Brasil preso, solta dois e revela detalhes da investigação

Magistrada relata, em decisão, trechos de investigação que afirma que brasileiros supostamente seriam recrutados para atuar no Hezbollah

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

A juíza Raquel Vasconcelos Alves de Lima, da 2ª Vara Federal Criminal de Belo Horizonte, determinou a soltura de dois suspeitos de terem ligação com o grupo extremista islâmico xiita Hezbollah no Brasil.

Em sua decisão, ela afirma que, segundo manifestação da polícia, os homens não "oferecem perigo à investigação ou à sociedade" e revogou a prisão temporária de ambos.

Guardas seguram fotos do aiatolá Ruhollah Khomeini, do atual líder supremo iraniano, Ali Khamenei, e do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, durante funeral no Líbano
Guardas seguram fotos do aiatolá Ruhollah Khomeini, do atual líder supremo iraniano, Ali Khamenei, e do chefe do Hezbollah, Hassan Nasrallah, durante funeral no Líbano - Ahmad AL-Rubaye - 6.nov.2023/AFP

Na mesma decisão, ela converteu em prisão preventiva a detenção de outros dois acusados: Mohamad Khir Abdulmajid e Lucas Passos Lima. "Verifica-se o perigo gerado pelo estado de liberdade dos investigados Lucas e Mohamad, ante a gravidade dos fatos narrados, ou seja, o risco concreto de atos terroristas, em face dos novos fatos que surgiram no decorrer da investigação", diz ela.

Sírio naturalizado brasileiro, Mohamad está fora do país. A magistrada determinou a inclusão do nome dele na difusão vermelha da Interpol, o canal de foragidos da polícia internacional.

Lucas e os outros dois suspeitos foram presos no início deste mês na operação Trapiche, realizada pela Polícia Federal (PF) para a apuração de uma possível atuação do Hezbollah no recrutamento de brasileiros para atos preparatórios de terrorismo.

Na decisão, a juíza relata trechos dessa investigação. Segundo apuração do Ministério Público Federal (MPF), Mohamad e um outro homem identificado como Haissam Housin Diab "prospectavam brasileiros que poderiam ser recrutados". "Percebe-se que eram preferíveis brasileiros com antecedentes criminais", diz um trecho.

Os pré-selecionados seriam, então, convidados para viagens internacionais até o Líbano, que seriam planejadas e custeadas pelos agentes.

"Já em território libanês, os potenciais recrutas eram cortejados por meio de estadias em hotéis de luxo, passeios, presentes, dinheiro e, posteriormente, eram direcionados para encontros com um 'chefe' da organização, o qual os entrevistava e tentava recrutá-los para o grupo terrorista", diz a investigação.

"Durante a entrevista, o referido 'chefe' da organização indagava os potenciais recrutas sobre suas vidas pessoais, questões políticas, e os questionava se seriam capazes de 'matar e sequestrar' a mando da organização. Ocasionalmente também pediam referências de outros brasileiros com antecedentes criminais capazes de 'matar por dinheiro'", prossegue.

A investigação do MPF ainda afirma que os brasileiros seriam orientados a "simular que estavam numa viagem de turismo, 'passeando' pelo Líbano e 'tirando várias fotos'". "Para isso, recebiam dinheiro e presentes da organização."

A partir do depoimento dos suspeitos, a apuração concluiu que eles "aparentemente não se conheciam" e que tinham em comum apenas Mohamad, que agiria como recrutador.

Nas declarações dos acusados à polícia, que são citadas na decisão judicial, os suspeitos afirmam que só eram informados já no Líbano sobre o que se tratava a viagem. Um deles diz que pensava que participaria de um "intercâmbio musical".

Também afirmam que só ao chegar no Líbano eram questionados sobre terem antecedentes criminais ou integrado organizações criminosas como o PCC e o Comando Vermelho. Quando os suspeitos diziam que não estavam interessados no serviço de "matar e sequestrar", eram dispensados.

Sobre o suspeito Lucas Passos Lima, a juíza afirma que a polícia identificou que ele teria realizado "tarefas de reconhecimento em locais para possíveis ataques contra a comunidade judaica no Brasil".

Ele teria pesquisado também, em setembro deste ano, dados de geolocalização e registrado "com vídeo e fotos locais da comunidade judaica no Distrito Federal, especificamente as sinagogas de Taguatinga e Águas Claras, e a área judaica do Cemitério Campo da Esperança, em Brasília".

"Além disso, teria pesquisado na internet sobre certo líder religioso judaico, a Embaixada de Israel no Brasil, sinagogas localizadas em Brasília e Itumbiara (GO) e a comunidade Israelita Netzarim de Goiás", diz o documento.

Na decisão, a magistrada transcreve ainda um trecho da investigação policial que mostra vídeos e imagens armazenados em email que seria do suspeito.

"Além de pesquisar o endereço da sinagoga Keter Torah, foi localizado um vídeo no qual um veículo trafega à noite pela rua onde fica o templo religioso. Quando se aproxima do local, um dos ocupantes do veículo diz: ‘Bingo’. O motorista diz: ‘Vou dar a volta aqui e você filma'."

Além disso, a polícia identificou que Lucas vinha realizando treinamento com arma de fogo e comprou dispositivos de espionagem e vigilância. Ele teria ainda estabelecido contato com um piloto de avião com experiência em rotas aéreas para o exterior.

"Embora os primeiros contatos tenham sido feitos a pretexto de adquirir aeronave, a evolução dos diálogos mostra a tentativa de cooptar referido piloto para a rede terrorista em formação, possivelmente para servir como aliado em possível fuga para fora do país, burlando os controles alfandegários", diz a investigação.

O trabalho da polícia, afirma a juíza, ainda aponta mensagens de conversas que seriam de Lucas, Mohamad e de um outro indivíduo não identificado. Elas mostrariam uma "lealdade desmedida aos propósitos da organização terrorista".

Procurada pela coluna, a defesa de Lucas não se manifestou até a conclusão deste texto.

A Polícia Federal deu início à operação Trapiche após receber um memorando do FBI, a polícia federal dos Estados Unidos. No documento, eles pediam que o Brasil investigasse a "integração e prestação de auxílio para organização terrorista de indivíduos brasileiros natos e naturalizados".

A ação da PF resultou em três prisões temporárias —duas que foram revogadas agora pela juíza, e a terceira que foi convertida em provisória.

Na ocasião, o nome de Mohamad e de um outro suspeito que estaria no Líbano já foram incluídos na difusão vermelha da Interpol. Segundo reportagem do Fantástico, da Globo, Mohamad chegou em 2008 ao Brasil, e é apontado como proprietário de duas lojas de produtos para tabacaria em Belo Horizonte.


MODA

A apresentadora Xuxa e o ex-governador João Doria prestigiaram o lançamento da biografia da estilista Martha Medeiros, "Do Sertão a Hollywood" (editora Matrix), escrita pela jornalista da Folha Eliane Trindade. A apresentadora Luciana Gimenez também compareceu ao evento, que ocorreu na Livraria da Travessa do shopping Iguatemi, em São Paulo, na noite de terça (5).

com BIANKA VIEIRA, KARINA MATIAS e MANOELLA SMITH

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.