Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Axel Springer quer ser 'líder nas democracias', mas vai perdendo, como a Alemanha

Grupo alemão compra americanos Politico e Insider e passa a enfrentar resistência crescente da imprensa dos EUA

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Com atraso, alguns dos principais títulos anglo-americanos passaram a admitir "a ameaça ao poderio industrial da Europa", no dizer do New York Times. A Economist é mais específica, "Alemanha enfrenta ameaça iminente de desindustrialização".

O Die Welt, como outros jornais alemães, já vinha avisando que "a produção na Alemanha não é mais competitiva", por causa dos preços da eletricidade e do gás. A energia comprada agora dos produtores americanos e outros é mais cara que a russa.

Mas o mesmo Die Welt não quer recuo e passou a mirar um segundo alvo: a China, que compra os carros alemães. Já fala mesmo em ir além, como em seu destaque sobre a cúpula da Organização para Cooperação de Xangai, fechando a semana.

"China, Rússia e Índia se uniram para formar um bloco de poder alternativo ao Ocidente", sublinhou. "Mas os países livres têm um trunfo contra os gigantes falsos." Esse trunfo seria que "o Ocidente tem uma ideia unificadora: justiça e liberdade são a melhor base para segurança e prosperidade".

A Alemanha "desdenhou essa ideia nas últimas décadas" e agora o país "deve reaprender a escolher seus amigos", cobra o jornal da rede Axel Springer. Além da China, a Índia também pode deixar de ser "amiga". Sobram os EUA. E o Die Welt já critica o novo líder alemão, Olaf Scholz, por não ser "confiável" o bastante para Washington.

Trump agradece a Döpfner por ter 'rezado' por sua vitória e diz: 'Nós vencemos' - Reprodução

O direitista Axel Springer, principal grupo alemão de imprensa, "quer ser o publisher digital líder nas democracias ao redor do mundo", diz seu CEO e maior acionista, Mathias Döpfner, em entrevista ao Washington Post. Para tanto, antes de tudo, quer conquistar os EUA.

Em seus "impulsos expansionistas", como descreve o jornal de Washington, Döpfner comprou o Business Insider, agora só Insider, e depois o Politico, entre outros sites. E passou a questionar NYT e o próprio WaPo como partidários, pró-democratas.

Mas os concorrentes americanos não assistem passivos ao avanço alemão. Quando o grupo negociava o Politico, há um ano, o NYT soltou reportagem sobre assédio sexual no jornal popularesco do Axel Springer. "É como funciona no Bild: quem dorme com o chefe tem cargo melhor", denunciou uma jornalista.

E agora o WaPo preparou uma armadilha para Döpfner, na entrevista. No momento em que ele se declarou mais isento que os jornais americanos, foi apresentado um email de 2020 em que ele convocava seus executivos a "rezar" pela reeleição de Donald Trump.

Sua primeira reação foi dizer que era "falso", mas diante da cópia da mensagem passou a argumentar que havia sido uma brincadeira. Seja como for, Trump gostou a ponto de publicar, em sua própria rede social: "Obrigado ao brilhante Mathias Döpfner. A boa notícia é: NÓS VENCEMOS" (reprodução acima).

Mais alguns dias e também o Financial Times saiu com um ataque ao CEO alemão. Em suma, Döpfner "usou seu tabloide para fazer campanha contra a decisão da Adidas de deixar de pagar aluguel durante a pandemia, sem revelar que era o locador da empresa".

Foram mais de duas dezenas de textos contra a marca esportiva, no Bild, levando a ameaças de boicote por consumidores e de retaliação por diferentes políticos, até a Adidas voltar atrás e pedir desculpas. Questionado, o Axel Springer disse que foi "um megafuro".

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