O Corriere della Sera, principal jornal italiano, destacou antes da eleição uma entrevista com o presidente da federação do comércio, avisando que "120 mil pequenas e médias empresas estão sob risco de fechar" até o início do ano que vem —devido aos custos de energia, "muito mais altos na Itália que na Alemanha".
Mas quem acabou tomando a cobertura italiana no final de semana foi a presidente da Comissão Europeia, a alemã Ursula von der Leyen, com uma ameaça, ao falar na Universidade de Princeton, nos EUA: "Veremos o resultado da votação na Itália, também houve eleições na Suécia. Se as coisas forem para uma direção difícil, temos ferramentas".
Causou protestos, como esperado, inclusive de rua. E até Giorgia Meloni, que vinha se contendo com uma campanha leve, reagiu, ecoando no alemão FAZ: "Eu aconselharia a ter cautela, em termos de credibilidade, como comissária e como Comissão Europeia". Ela confirmou seu favoritismo na noite de domingo, com manchetes como "Sucesso de Meloni", no La Stampa.
O temor pelo resultado não se restringe à União Europeia. O New York Times se concentrou em suas "raízes no fascismo", a exemplo do que fez com o novo governo sueco. Mas anotou que Meloni "costumava admirar a defesa dos valores cristãos de Putin e agora o chama de agressor". Mais importante, "aparentemente descartou sua profunda desconfiança dos EUA".
Na Alemanha, o Süddeutsche Zeitung, considerado próximo do primeiro-ministro Olaf Scholz, ressaltou que "a Europa precisa da Itália, mas, acima de tudo, a Itália precisa da Europa", o que não vai mudar com Meloni, "felizmente". O que poderia mudar é a maneira de abordar a crise de energia, com ou sem a Europa.
Scholz fechou também no domingo uma turnê atrás de gás, pelas ditaduras Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Qatar. "Não exatamente os melhores parceiros", admitiu a home do Süddeutsche, "mas qual é o sentido de se enganar: a Alemanha será dependente de combustíveis fósseis por muito tempo".
A americana Bloomberg foi ao que importa, algo que os veículos alemães não conseguem: "Alemanha garante apenas um navio-tanque de gás durante excursão no Golfo". Deve ser entregue na virada do ano, na melhor previsão —e equivale a menos de um dia do fluxo de gás russo pelo Nord Stream 1, no início da guerra.
DESDE JÁ, PRESSÃO TAMBÉM SOBRE LULA
Com o ex-presidente ameaçando vencer no primeiro turno, a pressão programática começou, entre outros, no Financial Times. Dizendo que os "brasileiros têm que decidir entre o governo de livre mercado de Bolsonaro e o intervencionista Lula", se estende positivamente sobre a "agenda pró-empresas de Paulo Guedes". Traz elogios às privatizações e críticas ao jornalismo brasileiro, cuja "mídia ignora esses temas, pois é um governo que gera polêmica".
Quanto à reunião do representante diplomático dos EUA com Lula, dias atrás, a CNN Brasil repisou que "o acerto era que ocorresse só após o fim das eleições, mas como as pesquisas passaram a apontar a possibilidade real de acabar no primeiro turno, os lados avaliaram que seria melhor que ocorresse antes". Na pauta americana, China.
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