Nelson de Sá

Correspondente da Folha na Ásia

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Nelson de Sá
Descrição de chapéu toda mídia

Ainda sem Lula, imprensa chinesa festeja comércio em yuan e Dilma

'Brasil dá presente à China e lição aos EUA', diz portal, sobre desdolarização; Jim O'Neill, economista que criou o acrônimo Bric, defende que grupo 'desafie o domínio do dólar'

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Em coletiva, a porta-voz do ministério do exterior chinês, Mao Ning, foi questionada sobre o anúncio público feito no dia anterior por representantes do governo brasileiro, em Pequim, de um acordo para o comércio bilateral nas duas moedas, passando ao largo do dólar.

Ela respondeu, no relato da CCTV, "que China e Brasil assinaram no início do ano um memorando sobre o estabelecimento de acordos de compensação", o que foi informado à época pelo banco central chinês e noticiado por Reuters e outros, inclusive no Brasil.

Mas a própria mídia chinesa tratou de abraçar o novo anúncio, por portais como 163.com, Sina e Guancha, manchetando até imagens de notas de real. O primeiro, do grupo NetEase, se entusiasmou, "Brasil dá um grande presente à China e, ao mesmo tempo, ensina uma lição aos Estados Unidos", explicando:

"O status do dólar como moeda mundial deu aos EUA a oportunidade de colher a riqueza do mundo. Muitos já estão insatisfeitos com essa situação, como União Européia e China, e até a Índia está buscando acordos em moeda local para contornar a opressão do dólar."

O Beijing Ribao ouviu um especialista de América Latina do ministério do comércio chinês, Zhou Mi, que avaliou como confirmação de que "a influência internacional do yuan está crescendo" e defendeu:

"Grande parte do comércio entre China e Brasil é de commodities a granel, que formaram um padrão histórico de negociação em dólar. No período recente, o dólar vem se valorizando continuamente, fazendo com que as receitas do Brasil sejam afetadas negativamente. A redução da dependência reduzirá os riscos financeiros, principalmente cambiais. Isso é muito importante para o Brasil."

Dilma Rousseff chegando para o primeiro dia no Novo Banco de Desenvolvimento, em 28 de março, em foto distribuída pela instituição de Xangai e reproduzida pela cobertura chinesa - Divulgação

Quase ao mesmo tempo, ganhou a atenção de agências e sobretudo da imprensa chinesa, inclusive Caixin Global e Global Times, a primeira importação de gás em yuan, em negócio fechado pela petroleira chinesa CNOOC junto à francesa Total —dias antes de uma viagem do presidente francês Emmanuel Macron para Pequim.

Também se espalhou, na China e internacionalmente, via Bloomberg, um artigo publicado pelo economista Jim O'Neill na Global Policy, defendendo que os Brics "desafiem o domínio do dólar", usando o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). Do criador do acrônimo Bric:

"O dólar representa papel muito dominante nas finanças globais. Sempre que o Fed embarca em períodos de aperto monetário, ou o oposto, de afrouxamento, as consequências sobre o valor do dólar e os efeitos indiretos foram dramáticos."

Ele apoiou a expansão do NDB, para gerar um sistema de múltiplas moedas, mais justo, argumentando que as dívidas externas em dólar "desestabilizam a política monetária própria, com os movimentos [dos EUA] tendo papel maior que as decisões nacionais".

Quem também defendeu a expansão foi a mesma Mao Ning, a porta-voz do ministério do exterior chinês, ao ser questionada sobre a posse da ex-presidente Dilma Roussef no NDB. Dela, via Huanqiu e outros:

"Dilma Rousseff é uma conhecida política e economista que há muito tempo está ativamente comprometida com a causa do desenvolvimento global, goza de excelente reputação e importante influência na comunidade internacional. A nomeação da sra. Rousseff pelo governo brasileiro como presidente do NDB reflete plenamente a grande importância que atribui ao banco e ao mecanismo de cooperação do Brics, e a China aprecia isso."

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