Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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Nicolás José Isola

As marcas das nossas infâncias

Experiências da juventude voltam para nos assombrar quando adultos

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A nossa infância é marcante por muitos motivos. Um deles, é que ao longo dela, cada um de nós foi aprendendo como lidar com o mundo e as suas dificuldades. E esse lento aprendizado foi gerando respostas aos estímulos do nosso ambiente familiar, especialmente em relação a forma como a gente lida com as situações difíceis, com o stress e a colaboração com outros. É como aprendemos a resolver os pequenos e grandes conflitos que a vida nos apresenta.

Muitos moraram em um ambiente hostil, onde havia gritos, brigas e onde nossos pais discutiam e não concordavam. Outros, foram criados em um ambiente de dependência onde não eram permitidas certas discussões. Outros, cresceram com o silêncio ao redor dos assuntos complexos, numa paz que era filha do silenciamento. Outros nasceram em famílias onde a mulher era só a dona de casa que atendia aos filhos e ao marido.

Frente a esses diversos cenários, cada um de nós foi construindo pouco a pouco respostas inconscientes, algumas das quais persistem na nossa vida adulta, até hoje. Alguns de nós escapamos dessas situações com a mente e os estudos, procurávamos um lugar imaginário melhor onde morar, evitando ouvir discussões acaloradas. Outros, criaram um sarcasmo e ironia imensos para conseguir relevar o escárnio da própria realidade que nos fazia sofrer.

Bonecas de pano dispostas em um nicho - Adriano Vizoni - 16.nov.2022/Folhapress

Frente a dor, outras pessoas tentaram fechar seu coração e sentir menos, porque sentir pesava muito. Na paleta de emoções eles ficaram com menos cores, tentando diminuir a tristeza que sentiam. Em outras situações, algumas pessoas apreenderam e imitaram as gritarias e discussões permanentes que tiveram que padecer e hoje se comportam desse jeito cada vez que enfrentam um desacordo grave.

O problema de todos esses casos é que na vida adulta essas respostas perpetuam como uma ação de reflexo, mesmo não sendo necessárias ou não sendo o melhor jeito de responder diante das complexidades da vida. Essas reações que em algum momento foram uma defesa frente a um contexto ruim, ficaram marcadas a fogo e constituem parte daquilo que chamamos caráter ou personalidade. Seguimos respondendo aos estímulos negativos de um jeito similar. Estímulo e resposta inconsciente.

Com frequência, no meu trabalho com executivas e executivos vejo essas reações impulsivas tecidas na mais tenra idade. Eles não conseguem mudar sua resposta que é acionada emocionalmente. É um problema maiúsculo, em especial quando eles têm muito poder sobre outras pessoas. Não só porque machucam aos demais, mas porque essas respostas os deixam infelizes, girando no automático, irreflexivamente. São crianças escravas de suas reações intempestivas.

A maioria das pessoas não faz essa exploração e reflexão interna, acabando sempre com uma atitude defensiva frente ao comportamento dos outros. Continuam reagindo uma e outra vez como hamster correndo numa roda constante.

Muitas delas, quando são responsáveis por um erro, começam a brigar com outros ou a declará-los culpados em vez de assumir a própria falha. Outras se fecham e desligam seus sentimentos. Outras só conseguem enxergar seu lado profissional sem cuidar do pessoal. Essa atitude defensiva diante das dificuldades que a vida apresenta funciona, às vezes, como uma prisão sutil, onde as pessoas não são livres delas mesmas.

O trabalho pessoal sobre a história da própria infância é crucial. Aquilo que não enxergamos, não podemos mudar. Nela vimos e vivemos comportamentos que por imitação ou por rechaço configuraram nosso jeito de nos contrapor ao mundo. Reconhecer e aceitar esses condicionamentos estruturais que tivemos é crucial para conseguir nos transformar. Transformar esses comportamentos ancorados em nós não é simples, porém é crucial porque dessa mudança depende também nossa felicidade.

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