Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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Nicolás José Isola

A nossa dificuldade para ter conversas corajosas

Dar um bom feedback é um ato amoroso para que a outra pessoa possa reconhecer que tem pontos de melhora

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Na vida cotidiana, os seres humanos precisam ter conversas difíceis sobre assuntos delicados. No âmbito profissional, os líderes precisam falar com seus times e dizer quais são as coisas que precisam ser mudadas.

A nossa cultura no Brasil tem algumas características peculiares nesse ponto. Por exemplo, os irmãos argentinos são mais diretos e frontais, e, por isso, muitas vezes parecem agressivos aos nossos olhos. Porque eles falam o que querem sem rodeios.

Cada cultura assimila de forma diferente o jeito de dar feedback ou de comunicar as coisas que precisam ser mudadas. Aqui, nossa cultura tem dificuldades para encarar conversas corajosas onde a outra pessoa pode ficar chateada ou demonstrar resistências. A gente se preocupa tanto por manter o bom relacionamento que acaba destruindo alguns deles justamente por falta de coragem de falar as nossas verdades. Antes de ferir com nossas palavras, antes de ficar como o personagem malvado do filme, preferimos simular. Ser fake.

Três homens e três mulheres fazem uma reunião empresarial ao redor de uma mesa
Joseph Mucira por Pixabay

Quando, na vida profissional, temos que manter um diálogo complexo para falar a uma outra pessoa que fez alguma coisa errada ou que não gostamos, nós usualmente ficamos na metade do caminho: falamos só uma parte do que temos para falar ou falamos de um jeito bastante superficial ou suave para que a contraparte não fique magoada ou ressentida. Nós a protegemos para não falar o que, em verdade, precisamos falar. Isso atinge também a dificuldade para falar "não". Muitas pessoas falam "sim" na frente dos outros para não desagradar, mas, na verdade, acabam não fazendo.

Isso gera um certo conflito: a gente não sabe quando os outros estão falando a verdade ou não. Esse medo de desagradar acaba gerando um problema de confiança subterrâneo. Quando a outra pessoa está falando a verdade? E pior, como saber se a outra pessoa está ou não sendo honesta e transparente comigo?

Em muitas companhias, as pessoas estão o tempo todo tentando entender qual é a mensagem detrás da mensagem. Como se houvesse faixas na linguagem, a gente acaba sendo pesquisador da narrativa alheia. Parece engraçado, porém é doloroso.

A simulação no comportamento e as aparências para transparecer agradável, acabam tirando profundidade nos relacionamentos profissionais e deixando muitas dificuldades para dizer o que tem que ser dito e melhorar a qualidade rumo ao objetivo a ser atingido.

Nos meus workshops sobre feedback, eu vejo como a falta dessas conversas impossibilita avanços e aprimoramentos que reduzem a competitividade dos times.

Todos precisamos ouvir aquilo que precisamos mudar. Dar um bom feedback é um ato amoroso para que a outra pessoa possa reconhecer que tem pontos de melhora que serão passos na escada do seu crescimento.

Aprender a ter essas falas é uma arte. E temos que ter cuidado, porque quando uma liderança não tem aquela assertividade na hora de falar com os outros, deixando clara sua mensagem, então os outros percebem que ela não sabe o que quer ou que é covarde. Aos poucos, o poder dessa liderança morre.

Não é simples, mas ter conversas difíceis é um dos indicadores de uma pessoa madura.

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