Nicolás José Isola

Filósofo, mestre em Educação, doutor em Ciências Sociais, coach executivo e consultor em storytelling.

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Nicolás José Isola
Descrição de chapéu paternidade

Não sei ser pai

Somos 'agradadores', como se filhos fossem nossos clientes e desejássemos ser bem avaliados por eles

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Eu sou parte de uma geração de pais que muitas vezes não sabe como educar os filhos. Nós homens, em especial, não falamos muito sobre isso entre nós. Nossos pais eram muito mais rígidos e, em ocasiões, usavam o castigo físico.

O formato de pais que tivemos foi muito diferente do formato que precisamos encarnar, e essa distância não é tão simples de aproximar, gera tensões internas, porque não temos ferramentas para educar a esse ser tão diferente daquele que fomos.

A imagem em preto e branco mostra duas mãos adultas segurando duas mãos infantis, simbolizando proteção e cuidado. As mãos estão em destaque contra um fundo preto, enfatizando o contraste e a conexão entre as gerações.
Pais e filhos - Victoria/Pixabay

Além disso, queremos ser melhores pais que os pais que tivemos e tudo bem com isso. O assunto é que procuramos não magoar e agradar o tempo todo os nossos filhos. Somos pais "agradadores", como se eles fossem nossos clientes e desejássemos ser bem avaliados por eles. E, você sabe, colocar limites, corrigir e ser bem avaliado são coisas que não sempre andam juntas.

Nossos filhos nasceram numa sociedade com muitas incertezas, onde tudo é rápido e quase imediato. Nós precisávamos aguardar até que o desenho, que era o único possível naquela hora, começara na TV e tínhamos que aguardar durante as longas publicidades no meio. Hoje eles têm acesso a plataformas com uma oferta enorme de diferentes desenhos e tudo está ali aguardando eles.

Esse é só um exemplo simples de quanto eles estão acostumados a não ter o hábito da paciência. Essa ansiedade pelo que está por vir, esse olhar colocado constantemente no futuro está gerando muitas complexidades na saúde de crianças e adolescentes. Como nunca antes visto, há altos números de diagnósticos de déficit de atenção. E você irá a concordar comigo que prestar atenção e ter paciência são dois ativos chaves para construir qualquer negócio ou profissão na vida adulta. E isso abre outra porta: não fazemos a menor ideia do que deveriam estudar nossos filhos para sobreviver no incerto amanhã. Detalhes que aumentam a nossa superproteção.

Naquele tempo nem sabíamos que estávamos crescendo em paciência. Simplesmente era o que havia e ponto. Impossível brigar com aquilo.

O assunto é que nós somos também pais mais impacientes, que estamos com o telefone atendendo assuntos do trabalho. E quando duas impaciências se encontram é muito fácil não dar certo.

Por tudo isso, torna-se importante cuidar dos espaços de encontro com eles (e de encontro sem interferências).

Eu o escrevo, porém muitas vezes fracasso. Distrações sobram.

Abaixar nossa própria ansiedade na hora de entrar em contato com eles é crucial.

Em ocasiões, estamos alterados e eles acabam recebendo o fruto de nossas cargas, geralmente não explicitadas para eles. Coisa injusta.

Dizer sim a tudo não é ser um bom pai. Ser pai é ajudar a formar um ser humano empático e conectado com os demais, sabendo que a realidade tem limites.

Se procuramos sempre o amor imediato, sempre tentando que eles nos queiram em vez de pegar o longo caminho de educar lhes e impor limites, então estamos errando.

Empatia e conexão humana são importantes. Sem nenhuma dúvida. Mas a paternidade é uma maratona e não uma corrida de 100 metros. Para chegar à meta, precisamos manter limites e cuidar deste crescimento.

Na nossa infância aprendemos a agradar. Nós nos adaptávamos a nossos pais, hoje nos adaptamos a nossos filhos. Cuidado: de tanto nos adaptarmos a eles, estamos afastando-nos de nosso papel, estamos deixando de ser pais.

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