Nosso estranho amor

Paixões, desencontros, estabilidade e loucuras segundo Anna Virginia Balloussier, Pedro Mairal, Milly Lacombe e Chico Felitti. Uma pausa nas notícias pra gente lembrar tudo aquilo que também interessa demais.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Nosso estranho amor
Descrição de chapéu Relacionamentos

Carlos, Laura e a faixa de Carnaval

Folião tentou encontrar de forma inusitada moça que conheceu em um bloco de Belo Horizonte

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

"Laura, nos conhecemos no Então Brilha no Carnaval mas me perdi de você. Carlos".

O texto, escrito em faixas verde neon, coloriu o centro de Belo Horizonte na Quarta-Feira de Cinzas. Embaixo do apelo carnavalesco, vinha um endereço de e-mail que misturava as únicas informações disponíveis sobre esse encontro:lauraecarlosbrilham@gmail.com, a soma do nome do homem, o nome da mulher que esse homem encontrou no Carnaval, e o nome do bloco onde os dois se trombaram.

Faixa esticada em Belo Horizonte por folião que tenta encontrar mulher que conheceu no Carnaval - Reprodução/SBT News no Youtube

A busca desse homem apaixonado viralizou. As faixas de Carlos geraram tanta curiosidade no estado que acabaram parando em milhares de perfis na internet e nas manchetes de jornais locais:

"Folião apaixonado usa faixa para achar mulher que conheceu no bloco Então Brilha"

"Laura, cadê você? Folião procura mulher que conheceu em bloco de Carnaval"

"Folião pendura faixa para procurar paquera que conheceu no Então, Brilha!"

Mesmo assim, seu grande esforço não alcançou Laura. Pelo menos não ainda.

Tudo começou em fevereiro. Em 2023, foi preciso correr atrás do prejuízo dos anos tomados pela pandemia. E o Carnaval de BH não fez feio: começou oficialmente no dia 4 de fevereiro e chegou ao fim no dia 26, com 5 milhões de foliões confirmados na capital mineira.

E Carlos era só um deles. Um folião de meia-idade animado, ele decidiu ir sozinho ao bloco Então Brilha, que nasceu no centro da cidade, perto do baixo meretrício.

"Eu marquei com alguns amigos, desencontrei de todos, porque a coisa ganha um porte tão grande que você não tem sinal de celular lá", diz Carlos, na primeira entrevista da sua vida. Então, entre um milhão e meio de pessoas, ele viu uma mulher. E, nas suas palavras, pensou "é ela"

"Eu senti uma coisa por uma menina, é ela, entendeu? É ela, assim, eu vou nela, vou conversar com ela, eu vou tentar investir nela. Eu senti aquela coisa. Falei, ‘nuh’, é ela mesmo."

Carlos descreve Laura com detalhes, mas vamos omitir essa descrição porque ele também não quer identificá-la. Mas atesta que ela era linda. E que foi atrás de tanta beleza.

"E quando houve o olhar ali bateu. Sem dúvida bateu pra mim, bateu pra ela porque ela retribuiu o olhar."

Os dois começaram a andar lado a lado, cercados por um mar de gente. "Você imagina o seguinte, a gente está no bloco. Aí tem uma hora que começa lá "é faraó!", eu adoro essa porra. Aí eu não quero conversar nem com a Laura nem com ninguém, quero cantar o Faraó lá, entendeu? A conversa foi basicamente isso, como é que você chama? Laura? Carlos, tudo bem? Aí a gente anda mais um pouquinho, dança mais um pouquinho." E foi só isso. Nem beijo teve.

Porque, minutos depois de conhecer Laura, Carlos sentiu algo forte dentro dele. A vontade de ir ao banheiro. Avisou a Laura e pediu que ela esperasse. Amargou meia hora de fila para entrar numa cabine química e, quando finalmente saiu, percebeu que o café da manhã etílico não tinha caído bem.

"Assim, eu queria que a Laura tivesse me dado um Boa Noite Cinderela, mas não foi isso, foi só a catuaba. Eu não conseguia andar mais. Bateu a catuaba. Mas bateu e me arrebatou. E aí eu saí daquele banheiro químico e falei fudeu, perdi a Laura não dá pra voltar lá. Aí, ali perto mesmo eu já fui prum canto lá entre dois carros e passei mal."

Depois de horas sentado num meio-fio, Carlos foi resgatado por amigos. E nunca mais viu Laura.

Talvez, o baile tenha seguido para ela. Talvez, ela nem tenha esperado ele ir ao banheiro. Mas talvez ela tenha ficado plantada, nas margens de um bloco de Carnaval, e nunca mais viu o homem pra quem sorriu.

A aflição carcomia Carlos. Ele teve uma ideia brilhante para tentar encontrar seu amor passageiro: pendurar faixas pelos lugares mais movimentados de um dos principais bairros de BH, na esperança de que ela, ou alguém que a conhecesse, visse o sinal.

Ele passou dias pensando em como colocar sua ideia na prática. Teve ideias de textos e procurou fornecedores que pudessem resolver sua cilada. Finalmente, na quarta-feira de cinzas, esse esquema saiu do papel. Carlos sabia o que iria escrever e havia encontrado alguém que poderia produzir e pendurar sua criação pelas ruas de BH.

A intenção de Carlos? Ter a chance de se explicar e conversar com Laura de uma forma menos caótica. Uma versão mais civilizada de tudo que aconteceu.

Os dias passavam e e-mails lotavam sua caixa de entrada. Pessoas aleatórias e cerca de vinte lauras chegaram a contatá-lo, mas nenhuma delas era a única que importava para Carlos.

"Foram cento e nove e-mails já no dia seguinte. Recebi email de um monte de menina falando, esquece a Laura, vem comigo. E assim, muita mensagem de coisa de televisão, de rádio, dois e-mails falando assim, vamos fazer uma música pro TikTok contando essa história"

Mais de dez Lauras escreveram. Mas nenhuma era "a" Laura.

Para Carlos, parece impossível que ela não tenha ficado sabendo de toda aquela comoção. O mais óbvio é que Laura não queira ser encontrada.

"Eu gostaria muito de reencontrá-la, conversar com ela, trocar ideia, explicar o que que aconteceu. Eu queria muito explicar o que que aconteceu. Como eu expliquei pra vocês. Estava mal. Bebida me bateu mal pra caramba, me arrebatou e me jogou no chão, literalmente. Eu só queria conversar com ela."

Pode ser que Laura esteja te lendo, Carlos. Talvez pelo menos essa parte da confusão você tenha resolvido.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.