Nosso estranho amor

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Nosso estranho amor

Nosso Pagão Amor: Beatriz e Mateus na Convenção de Bruxas e Magos

Casal se conheceu na pandemia e eternizou o amor num casamento celta

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São Paulo

No começo de maio, algo mágico aconteceu em Paranapiacaba, distrito de Santo André (SP). A Sala da Deusa e a Tenda da Malévola, entre outros espaços montados na Convenção de Bruxas e Magos do Brasil, acolhiam palestras como "Afrodite-se", "Ritual de Limpeza com as 13 Bruxas Anciãs" e "Psicanálise de Abduzidos por Alienígenas".

Pois 13 ciclos lunares após terem dito sim um ao outro num casamento celta, a professora de arte Beatriz Teresa Ribeiro, 40, e o enfermeiro Mateus Ramos de Souza, 23, decidiram renovar o pacto de amor.

Esse tipo de matrimônio se baseia na cultura celta, de povos que viveram na Antiguidade europeia e tinham a natureza como sagrada. É uma cerimônia laica e ecumênica, explica Adriana Salles, a sacerdotisa que celebrou a união dos dois. Daí atrair muitos casais barrados em templos tradicionais, como divorciados (nem pensar na Igreja Católica) e homoafetivos (aí quase ninguém deixa entre evangélicos, católicos, judeus e muçulmanos).

Beatriz e Mateus na celebração de sua união celta na Convenção de Bruxas e Magos do Brasil
Beatriz e Mateus na celebração de sua união celta na Convenção de Bruxas e Magos do Brasil - Reprodução Instagram

Beatriz e Mateus se casaram no encontro místico de 2022. Os dois vestiam capas de veludo —vinho a dela, azul para ele. Os neoceltas evocaram os quatro elementos fundamentais da natureza na festa. A água que purificou as alianças também foi representada pelo vinho que beberam. Incenso e sino simbolizaram o ar, e velas feitas de cera de mel, o fogo. Cristais e um punhado de sal grosso expressaram a terra.

Há ainda um quinto elemento, o éter, descrito de formas diversas: luz astral, substrato espiritual, quintessência. Adriana, a celebrante do casório pagão, ensinou a fazer o "handfasting", ritual em que os noivos se dão aos mãos direitas e colocam as esquerdas no coração um do outro.

Mateus, na encarnação cristã, era músico em igreja evangélica. Ali, conta, "aprendi a ter medo, receio, preconceito". Quando começou a sair com Beatriz, já tinha um pezinho dentro da umbanda e outro fora da intolerância religiosa. E sempre foi clarividente, diz. "Desde sempre", conta, via coisas que ninguém mais via. "Juro que não é esquizofrenia."

Foi ela quem o introduziu no misticismo. Apresentou-o ao Movimento Natural Vibe, aos cursos de magia do médium Rubens Saraceni, à constelação familiar.

Beatriz se encantava com esse universo desde miudinha. Falavam alto os primeiros versos da música-tema da novelinha "Carrossel": "Entre duendes e fadas, mundo encantado espera por nós". Com 14 anos, passou a frequentar a Casa da Bruxa.

O interesse pelo campo aumentou na pandemia, quando sentiu sede de mais autoconhecimento, diz. Por pouco seu caminho não se cruzou com o de Mateus na época.

Beatriz foi, mas foi com medo. Era 2021, e a pandemia de Covid-19 havia recrudescido. Mesmo assim, tomou coragem para ir à festa de uma amiga, num lugar ao ar livre. Parecia loucura sair de casa, mas tudo voltava a abrir aos poucos. Seu coração, inclusive.

Não era feitiçaria, era tecnologia mesmo: viu esse cara, curtiu, e eles trocaram WhatsApp. Nada fora do script da vida solteira em São Paulo. Naquele dia, os dois deduziram que o outro estava mais ou menos na mesma faixa de idade. Mas não. Beatriz beirava os 40, e Mateus entrava na casa dos 20.

Ele insistiu, e ela, nada. Até o dia em que a louça que Beatriz lavava se espatifou, e um caco cortou seu pé. A ferida não cicatrizava. Decidiu falar com o único enfermeiro que conhecia.

Mateus voltou a pedir um encontro. A mulher que conhecera meses atrás o interrompeu: era separada, tinha dois filhos, ele sequer sabia disso tudo? Sabia, sim. Já tinha fuçado suas redes sociais. E continuou interessado. Tudo bem, vamos lá, ela cedeu. Melhor decisão da vida.

O casal engatou, e pintou a vontade de oficializar o romance. Beatriz viu um anúncio que buscava noivos para casarem na Convenção das Bruxas de 2022. Era dia de eclipse lunar total.

Cinco meses depois, ela celebrou um mês de vida da Luah, a filha dos dois. Postou a bebezinha com laço na cabeça e body imitando um esqueleto. Figurinhas de abóbora sorridente, gato preto e fantasma enfeitavam a foto. #HappyHalloween, legendou a mamãe orgulhosamente pagã.

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