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Leandro Beguoci é diretor editorial de Nova Escola (novaescola.org.br). Ele explica sobre o que funciona (e o que não funciona) na educação brasileira.

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Quem se importa com a educação dos professores?

Mistura de crise financeira e polêmica vazia bloqueiam debate sobre formação de educadores

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Tentei puxar a conversa para a formação de professores, mas não consegui. O secretário de educação de um estado importante só conseguia falar sobre o orçamento estrangulado, a falta de infraestrutura na rede e os possíveis conflitos com o sindicato. Com poucos dias de casa, o secretário já estava consumido pela agenda administrativa.

Ele não está sozinho. Os estados, com algumas exceções, estão quebrados. A educação é uma área com grande orçamento, geralmente um dos maiores de qualquer administração (o que não significa que seja suficiente nem bem gasto).

Porém, a combinação de economia nas cordas e irresponsabilidade administrativa deixou um legado trágico para as crianças. Falta dinheiro para o básico. Temo pela merenda e pelo salário dos educadores ao longo dos próximos anos, para ficar em apenas dois pontos.

Se isso não fosse o bastante, a crise tem outra consequência. Ela tira o foco dos secretários de educação. Envoltos em urgências básicas, eles não priorizam as semanas pedagógicas, não oferecem cursos de formação continuada, não contratam equipes para orientar diretores e coordenadores.

Para adicionar insulto à injúria, a educação foi instrumentalizada para a guerra cultural. Em vez de encarar a difícil conversa sobre o terço pedagógico, o tempo reservado (e mal usado) para professores estudarem e preparem aulas, os gestores e técnicos das secretarias têm de blindá-los da perseguição ideológica

Isso cansa, e o coração da secretaria bate descompassado. Quando a educação do professor não é prioridade do gestor público, pode apostar: na média, os alunos aprendem muito pouco. Não existe bala de prata em educação, capaz de eliminar todos os nossos males de uma única vez. Porém, existe bala de latão, excelente em matar avanços obtidos a duras penas no passado. No atual cenário, estamos produzindo latão aos montes.

É bem fácil notar isso. Quantos gestores citam o livro "Rodadas Pedagógicas – Como o Trabalho em Redes Pode Melhorar o Ensino e a Aprendizagem” como referência para os momentos de formação da secretaria? Aliás, qual a bibliografia que a secretaria recomenda? Quais são as diretrizes para o trabalho das escolas?

Estamos no início de mais um ano letivo e no comecinho de gestão de muitos dos novos secretários. É um período de muita ansiedade para as famílias, que muitas vezes ficam no escuro sobre a educação dos seus filhos e filhas. É uma ótima oportunidade para organizar encontros locais e dar entrevistas, é um bom período para os secretários, com o perdão da redundância, educarem a sociedade sobre educação. 

Nós precisamos falar cada vez mais da formação que nossos professores recebem enquanto estão trabalhando. Nos países em que os alunos aprendem de verdade, seus mestres são prioridade. A formação do educador é tão importante quanto a do estudante.

Nestes países, dificilmente ministros vão irritar a sociedade com declarações desastradas. Afinal, eles sabem que ministros dão o exemplo. Quando eles desviam o foco, o país todo perde. E falta de foco é um esporte nacional neste ano da graça de 2019. 

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