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Marcelo Duarte é escritor, jornalista e, acima de tudo, curioso

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Nos anos 1960, Rádio Mulher era feita só por mulheres

Aos finais de semana, conteúdo era focado no futebol e tinha microfone rosa nos gramados; Claudete Troiano narrava jogos

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Neste domingo (20), a partir das 7h da manhã (horário de Brasília), Inglaterra e Espanha decidem a Copa do Mundo de Futebol Feminino, no Estádio Olímpico de Sydney, na Austrália (a competição foi organizada em conjunto com a Nova Zelândia).

Pois eu adoraria ouvir essa final pelas ondas da Rádio Mulher.

Rádio Mulher?! Que rádio é essa?

Foi uma ideia revolucionária do araraquarense Roberto Montoro. Em 1969, ele comprou a rádio Santo Amaro 930 AM e a transformou, no ano seguinte, em Rádio Mulher. Diariamente, a Rádio Mulher transmitia programas com conteúdos totalmente voltados às necessidades e aos gostos femininos (ou o que, naquela época, se considerava assunto feminino).

Aos finais de semana, no entanto, a grade da programação era voltada principalmente para o futebol.

Como eram as transmissões dos jogos?

Tudo era feito por mulheres. De microfone rosa nos gramados paulistas, a repórter Germana Garilli entrevistava os jogadores. Nas cabines, Claudete Troiano e Zuleide Ranieri se revezavam na narração de jogos, enquanto Jurema Yara e Leilah Silveira eram as comentaristas.

A apresentadora Claudete Troiano, 65, terá novidades na TV Aparecida
A apresentadora Claudete Troiano, que fez parte da Rádio Mulher - Rodolfo Magalhaes/Divulgação

Elas fizeram cursos de futebol para se aprofundar no assunto. As análises de arbitragem ficavam a cargo de Léa Campos, a primeira árbitra profissional no futebol brasileiro.

Elas eram assediadas pelos jogadores?

A resposta é sim. Elas chegaram a relatar em entrevistas que eram muito paqueradas dentro e fora de campo. Mas também viviam sendo procuradas para dar conselhos sentimentais e até ajudar a escrever cartas de amor para as namoradas.

Claudete Troiano contou certa vez, em entrevista para o Museu do Futebol, que dava palpites no visual de alguns jogadores. "Cansei de levar jogadores escondidos em salão de cabeleireiro de amigas para fazer permanente no cabelo, já que naquela época se usava muito o black power", revelou a narradora.

"Leivinha, atacante do Palmeiras, pedia para uma amiga passar chá de camomila no cabelo dele para ficar mais loiro."

Todos os jogadores eram bonzinhos assim com elas?

Não exatamente. Enquanto alguns atletas tinham carinho, outros destilavam preconceito e desrespeito. Germana contou que estava cobrindo uma partida do Palmeiras. Chamou o goleiro Emerson Leão para uma entrevista. Segundo ela, Leão virou-se e rugiu: "Eu não falo com mulher dentro de campo".

Germana prometeu nunca mais entrevistá-lo e cumpriu.

O que aconteceu com a Rádio Mulher?

Ela acabou em 1976 pela falta de patrocínios. Roberto Montoro resolveu alugá-la para programação evangélica e os bons conteúdos para mulheres sumiram do ar. Ao menos, o slogan "um palavrão a menos, uma mulher a mais nos estádios" deixou um grande legado. É o que vimos agora na Copa do Mundo de Futebol Feminino.

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