Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Restrição de reenvio no WhatsApp é insuficiente, mas está na direção certa

Na comunicação em massa, criptografia protege a mentira do escrutínio e do debate crítico

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Aplicativo WhatsApp passa a ter novo limite para reenvio de mensagens
Aplicativo WhatsApp passa a ter novo limite para reenvio de mensagens - Thomas White/Reuters

O WhatsApp anunciou nesta segunda (21) que reduzirá de 20 para 5 o número de vezes que uma mensagem pode ser reencaminhada no aplicativo. A medida era a mais importante entre aquelas recomendadas por especialistas e organizações da sociedade civil para reduzir o impacto de campanhas de desinformação, como as que vimos nas eleições de 2018.

O WhatsApp nasceu como uma ferramenta de comunicação interpessoal, concorrendo com o SMS dos celulares e com o tempo adquiriu funcionalidades de comunicação de massa, como reencaminhamentos de mensagens, listas de transmissão para o envio de uma mesma mensagem a diversos contatos e grupos de discussão. 

Em 2013, o ex-analista da NSA Edward Snowden denunciou à imprensa os abrangentes programas de monitoramento por meio dos quais o governo americano tinha acesso à comunicação pessoal de milhões de usuários. Entre as empresas de comunicação digital, o WhatsApp foi quem melhor respondeu ao escândalo, implementando em 2016 uma criptografia de ponta a ponta que até hoje é considerada o padrão de ouro da indústria. 

Essa criptografia que embaralha o conteúdo da comunicação no celular do emissor e só o desembaralha no celular do receptor torna quase impossível o monitoramento —nem mesmo a empresa que opera o sistema tem acesso ao conteúdo da conversa.

Mas aquilo que é virtude numa comunicação interpessoal, de um a um, deixa de ser virtude na comunicação de massa, na qual um usuário emite mensagem para muitos receptores.

Na comunicação de massa, a impossibilidade de identificar o emissor e de ter acesso ao conteúdo da mensagem permite campanhas de desinformação com amplo alcance.

Ao contrário do que acontece numa mídia social pública como o Facebook ou o Twitter, no WhatsApp, um usuário malicioso que queira disseminar mentiras e boatos para milhões de pessoas pode fazê-lo sem ser notado por quem não recebeu a mensagem, sem que a identidade do emissor seja conhecida e sem que posições alternativas tenham a oportunidade de apresentar o contraditório.

A mesma opacidade que, na interação interpessoal, protege a privacidade, na difusão de massa, protege a mentira do escrutínio e do debate crítico.

O WhatsApp é uma empresa cautelosa em fazer mudanças no seu serviço. A restrição dos reencaminhamentos deve assim ser celebrada porque inaugura aperfeiçoamentos que estão indo na direção certa. Aguardemos para ver se a medida será complementada por outras igualmente necessárias como a diminuição do tamanho dos grupos de discussão e do número de destinatários em listas de transmissão. 

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