Pablo Ortellado

Professor do curso de gestão de políticas públicas da USP, é doutor em filosofia.

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Pablo Ortellado

Bolsonaro quer utilizar antifas como bode expiatório para endurecer o regime

Presidente quer tratar como terrorismo identidade antiautoritária difusa

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O bolsonarismo escolheu um novo adversário, os antifas, ou antifascistas. A escolha dos antifas como inimigos em parte é emprestada de Donald Trump, que prometeu enquadrá-los como uma organização terrorista; em parte atende à demanda local de encontrar uma ameaça nomeável que permita endurecer o regime —Bolsonaro esperava ter encontrado esse bode expiatório em 2019, quando havia a expectativa de que os protestos do Chile chegassem ao Brasil.

Antifa, contração de antifascista, é uma identidade e movimento com três ondas históricas com alguma continuidade entre elas. O primeiro antifascismo é o que resistiu e combateu o nazi-fascismo histórico nos anos 1930; o segundo é um movimento que nasce na interface entre a contracultura e a política nos anos 1980; o antifascismo atual é uma identidade difusa que se opõe a governos de extrema direita.

Uma das raízes da cultura antifa dos anos 1980 se encontra na organização de coletivos de autodefesa entre os autonomistas alemães para se proteger dos ataques violentos de grupos de extrema direita.

Foi nesse contexto que um dos símbolos do antifascismo histórico, as duas bandeiras vermelhas da Ação Antifascista, grupo ligado ao Partido Comunista Alemão, foi modificado para incluir uma bandeira preta e outra vermelha, simbolizando a coalizão antiautoritária entre o autonomismo marxista e o anarquismo.

Esse segundo antifascismo também está ancorado na tradição de jornalismo investigativo britânico e do norte da Europa, que buscava desvendar a penetração de ideologias de extrema direita no empresariado e em partidos de direita tradicionais.

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Protesto contra o racismo em Curitiba - Reprodução/Redes sociais

Mas foi por meio do punk que a cultura antifa se disseminou, sobretudo a partir da constituição de pequenos coletivos de autodefesa e de enfrentamento contra skinheads.

Esse movimento pequeno e localizado que atravessou os anos 1990 e 2000 ganhou expressão no mesmo momento e como reação ao crescimento da extrema direita. No Brasil, as bandeiras vermelho e negra que os autonomistas alemães adotaram se disseminou como símbolo de identidade anti-Bolsonaro, sendo amplamente utilizadas em filtros de Facebook e de Instagram por pessoas sem conexão com a contracultura punk ou com o autonomismo.

O antifascismo é agora sobretudo uma identidade que simboliza uma postura de rechaço e combate à extrema direita. Apesar de ser hoje mero símbolo de uma postura antiautoritária difusa, Bolsonaro quer enquadrar todos os antifas como terroristas, o que lhe permitiria calar a dissidência e atropelar a democracia.

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