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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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É uma imagem terrível uma arma na mão do Zé Gotinha, diz criador de personagem

Artista plástico Darlan Rosa, 74, criou a figura em 1986 para campanha de erradicação da pólio

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Criador do Zé Gotinha, o artista plástico Darlan Rosa, 74, classificou a versão da personagem com uma arma nas mãos divulgada pelos filhos de Jair Bolsonaro como “imagem terrível” e contrária aos propósitos idealizados por ele há 35 anos.

"Fico arrepiado, é um desassossego", diz ele, morador de Brasília

Desde o início da pandemia, Bolsonaro fez pouco caso da importância da vacinação, criticou a Coronavac (principal fármaco na imunização em curso no Brasil) e continua defendendo remédios sem eficácia contra a Covid-19, como a hidroxicloroquina. Nas últimas semanas, deu início a uma retórica pró-vacina para tentar estancar perda de popularidade causada pelo aumento do número de mortes.

Nesse contexto, o deputado Eduardo (PSL-SP) e o senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ) compartilharam uma versão deturpada do Zé Gotinha, com uma arma, um dia após o ex-presidente Lula (PT) criticar a condução federal do combate à pandemia e dizer que a personagem havia sido preterida por Bolsonaro por ele acreditar que era algo da esquerda.

Darlan Rosa foi contratado pelo Unicef (braço da ONU para a infância) em 1986 para desenhar um símbolo para a campanha de erradicação da pólio. “É tudo o que eu não penso. Ele foi concebido como personagem educativo. Não há nada de educativo numa arma”.

Zé Gotinha, antes e depois

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Uma cena de um desenho animado mostra o personagem Zé Gotinha de camiseta amarela, no gramado de um estádio de futebol. Ele está prestes a dar um chute em uma bola preta e branca
Zé Gotinha na versão do governo Jair Bolsonaro, imagem divulgada pelos filhos do presidente

A versão original do Zé Gotinha e a versão divulgada pelos filhos de Jair Bolsonaro

Ele diz que o Zé Gotinha surgiu em uma época em que o Brasil usava o terror como método de campanha, o que não vinha funcionando. “Era o vacine ou morra. E eu propus a quebra desse paradigma. Não se educa pela violência e pela imposição. A educação é pelo exemplo. E esse aí com a arma é péssimo”.

A revolta nas redes sociais contra a iniciativa dos filhos de Bolsonaro se deve à relação afetiva construída com Zé Gotinha por três gerações de vacinados, acredita Rosa. “Fiquei comovido. É uma gota da paz. E é dos brasileiros, todos podem usá-lo, desde que dentro do tema criado”.

“Criei um projeto simples de propósito, duas bolinhas, a bolinha de cima é a gota e a de baixo tem os braços e as pernas. Um desenho fácil de ser compartilhado e carismático, então mesmo quando ele é mal desenhado ele tem sua força. Prefiro ver a forma dele não correspondendo ao que eu fiz do que com apologia a armas”, diz Rosa, que na década de 1980 passou um ano viajando por estados ensinando artistas a desenharem o Zé Gotinha.

O artista plástico afirma que os direitos patrimoniais do Zé Gotinha são do Ministério da Saúde e os morais, dele. Mas que não acionará a Justiça contra a deturpação.

“É uma briga que não tem mais fim. Do outro lado o poder é muito maior”, diz. “É a mesma coisa de querer acabar com fake news. O primordial é esclarecer que o Zé Gotinha foi criado para educar. Só a informação e a ciência podem nos ajudar”.

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