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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Leandro Lehart deixa CCSP, diz que nunca falou com secretária e que vetou eventos religiosos

Músico ficou menos de um ano à frente de um dos mais importantes pontos da cultura da cidade

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O músico Leandro Lehart deixou a direção do Centro Cultural São Paulo nesta quinta-feira (3), menos de um ano após assumir o cargo.

Ele diz ao Painel que a gestão cultural na cidade mudou drasticamente com a saída de Alê Youssef da Secretaria de Cultura, em agosto do ano passado, e a chegada de Aline Torres, escolhida pelo prefeito Ricardo Nunes (MDB).

Nas redes sociais, Lehart escreveu que "a falta de diálogo e de um norte claro e ousado" foram decisivos para sua saída. Ao Painel ele detalha suas críticas e diz que nunca conseguiu ter uma conversa com a secretária, seja pessoalmente ou por telefone.

"Nunca fui chamado para nenhuma conversa, nunca me pediram nenhuma opinião. O diretor do CCSP não é só diretor da instituição, mas também faz parte da coordenação de cultura da cidade. Existem um simbolismo e uma responsabilidade muito grandes", diz ele.

A única interação que tiveram, diz, foi na passagem da gestão de Youssef para Aline.

"Exatamente 10 minutos de conversa. Depois nunca me chamou, nunca me ligou, e senti que havia uma tensão e uma insegurança a respeito de como vamos seguir agora em relação a contratos. Contratações que a gente fez, todos equipamentos culturais estavam atrasando demais os pagamentos porque ela queria ver todos os contratos, daí acabou tudo. Todos os artistas com uma pressão enorme em cima da gente e não havia diálogo, respaldo. Não aguentei e decidi sair", explica o sambista.

Ele diz que há cerca de cinco dias enviou mensagem para Aline solicitando uma conversa de cinco minutos e que recebeu como resposta um pedido para que falassem via aplicativo mesmo, já que ela estava muito ocupada por dias seguidos.

"Se eu não tenho cinco minutos para conversar eu não faço diferença, então resolvi sair. Saí sem avisá-la porque ela não teve tempo de me ouvir", afirma.

Lehart cita um episódio ilustrativo da relação truncada com a secretária. Ele diz que chegou ao CCSP no primeiro dia de mandato de Aline e estava sem mesa na sua sala.

"Tive que sentar em um sofá e ficar esperando, sem entender exatamente o porquê da troca. E tudo bem, as pessoas tem que trocar a mesa. Mas podia ter me comunicado. É questão de falar ‘essa é mais legal, pode trocar comigo? Claro, a gente é parceiro’. Eu não sou apegado a essas coisas. Estava lá por uma missão pública", defende o músico.

O ex-diretor do CCSP também lamenta o que vê como descaracterização do órgão na gestão de Aline, o que, na leitura dele, tem como motivo a articulação política.

"A gente acabou fazendo eventos muito fora do contexto da cara do CCSP por uma questão de agradar alguma base. Acho isso muito perigoso. Até publiquei vídeo que diz ‘vigiem o CCSP para que continue de pé’. Sempre quando muda, uma ala bem conservadora de um partido bem conservador [Aline é do MDB]... Não tenho nada contra o partido, não sou de partido. Tem muita gente querendo aproveitar a situação. Desde eventos religiosos até coisas relacionadas a países. Coisas muito diferentes do que estou acostumado a ver dentro de um centro cultural", conta ele.

Lehart afirma que negou eventos religiosos no local. "Teve pedido, mas acabei negando, pois sempre achei que o Estado é laico e abriria precedente muito grande", diz.

Em sua mensagem de despedida, Lehart fez um balanço de sua passagem. Entre outros feitos, ele citou 218 eventos realizados e 548 artistas contratados, além de recordes de inscrições em editais, workshops e festivais de dança, rodas de samba e de choro.

"Tive dois impactos na minha passagem. Eu percebi que um músico popular, que veio da rua, através da sua história consegue liderar pessoas que são preparadas intelectualmente e existe um respeito. A galera me respeitou muito, os artistas também. Minha nomeação teve um simbolismo muito grande no sentido de 'posso ocupar esse lugar fazendo coisas legais e passando por um setor mais popular'", diz Lehart.

"E teve também o impacto de ver como as pessoas, só pela forma de pensar, podem mudar toda uma estrutura de segurança e de felicidade de um trabalho", completa.

O sambista foi convidado ao posto em maio do ano passado por Youssef, que deixou a gestão Ricardo Nunes (MDB) em agosto citando "incompatibilidade ideológica" como motivo, como revelou o Painel.

Os objetivos de Lehart, ao assumir o CCSP, eram os de promover o encontro de diferentes vertentes da arte, fazer do lugar uma referência em projetos inovadores e atrair a população para seus amplos espaços de concreto armado —obra dos arquitetos Eurico Prado Lopes e Luiz Telles inaugurada em 1982, como ele contou à Folha.

No projeto original da prefeitura para as celebrações do centenário da Semana de 1922, o CCSP teria protagonismo, com o sambista à frente. Ele seria o responsável pelo que foi chamado de roda de samba antropofágica, por exemplo, encontros musicais inspirados pelos ideários do modernismo.

"Você no CCSP foi umas das minhas maiores vitórias como Secretário de Cultura. O que vc conseguiu fazer do ponto de vista concreto e simbólico, são marcos da cultura brasileira. A boa notícia é que seguiremos juntos do lado de fora", escreveu Youssef nos comentários.

A publicação foi apoiada por músicos como Belo, Ivo Meirelles e Helião (do grupo de rap RZO).

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