Presidente da CPI da Pirataria na Câmara Municipal de São Paulo, Camilo Cristófaro (PSB) diz em gravação obtida pelo Painel que "todo mundo mete a mão" em emendas parlamentares.
Afirma ainda repetidas vezes que vai destruir os empresários Law Kin Chong, sua mulher, Hwu Su Chiu Law, o patrimônio deles e os shoppings centers populares ao qual estão associados no centro de São Paulo.
O casal de origem chinesa já foi considerado um dos maiores contrabandistas do Brasil pela Polícia Federal. Os advogados deles dizem que o vereador promove perseguição e pedem sua saída da presidência da comissão. Eles dizem que em vez de agir com a imparcialidade exigida pela posição, o vereador atua com suspeição.
Como mostrou o Painel, Chong e sua mulher devem prestar depoimento à CPI após determinação da Justiça de São Paulo. Seus advogados solicitam que Cristófaro não participe da sessão na qual eles prestarão depoimento.
"Essa CPI parece que existe somente em função do interesse dele em perseguir", diz à coluna Miguel Pereira Neto, um dos advogados de Chong e Hwu.
A gravação foi feita de forma sigilosa por Neto durante reunião no gabinete de Cristófaro em novembro do ano passado. Em representação à OAB-SP, o advogado diz que o objetivo era o de resguardar a si e seus clientes e poder relatar as ofensas e constrangimentos.
No áudio, o vereador diz que é o único a não se envolver com irregularidades em emendas.
"Se você veio para dar algum recado para eu ouvir, você está recebendo o meu recado: eu vou destruir a sua cliente. Ela e os outros. E quem usar meu nome vai para a cadeia. Porque eu não me vendo. Comigo não tem dinheiro. Eu não me vendo. Eu tenho cinco anos de mandato. E 42 de vida pública. Nunca ninguém vai dizer que eu peguei um tostão de ninguém. Emenda parlamentar, que todo mundo mete a mão, as minhas emendas são sagradas para obra", afirma o vereador.
"Eu conheço a Miriam e o Law há 40 anos, não vêm eles dizer para mim que eles vivem de pirataria, então não vem ela com conversa para mim. E outra coisa, tão espalhando aí que eu estou pedindo 300 mil dólares para ela [Hwu, conhecida também como Miriam]. Estão gravando. Se alguém pegar gravação minha eu renuncio ao meu mandato e vou pintar prédio lá no Minhocão. Não usa o meu nome, não. Porque eu sou rico de berço, importante de berço, tenho sucesso de berço. Eu vou destruir vocês. Destruir vocês. Anota o que eu estou falando. Leva esse recado para ela. Eu vou destruir vocês. Anota o que eu estou falando. Vamos fechar shopping. Vamos emalotar shopping", continua.
"E você avisa ela que ela é uma filha de uma puta. E que eu fui visitar o marido dela na cadeia em São Paulo, em Bauru, em Brasília e em Curitiba e ele não vale o que ele come. Eu vou destruir o máximo que eu puder do patrimônio que eles têm, que é tudo de origem ilícita", continua Cristófaro.
O vereador então pergunta a um assessor o que ele ouviu no Deic [Departamento Estadual de Investigações Criminais]. A resposta é : "Que tem alguém, algumas pessoas falando em nome dele, pedindo dinheiro".
Cristófaro então cita o nome de Amadeu, vereador com quem tem tido atritos.
"Pode pedir dinheiro. Então pode pedir dinheiro. Se o Adilson Amadeu está pedindo dinheiro, eu ponho ele na cadeia. Eu não estou pedindo dinheiro para ninguém porque eu não quero dinheiro de ninguém", afirma, na gravação.
O vereador também acusa juízes de receber dinheiro do casal de empresários para dar decisões favoráveis a eles.
"Ela tem juízes que ela compra e que já está pagando para ela, que as liminares está dando para ela. Tanto é que o shopping da Barão de Duprat está com uma liminar para não poder ser fechado, entendeu? Está com uma liminar, o shopping onde ela fica lá, o lugar onde ela fica lá fazendo as as badernas dela, está com uma liminar para não fechar", diz o vereador, acrescentando que o magistrado que concedeu mandado de segurança para os empresários é "corrupto".
Neto questiona e pede que ele cite o nome do juiz, mas o vereador se recusa.
"Não interessa, quem dá liminar para bandido, é porque corrompe", afirmou.
O vereador argumenta que o casal vende pirataria e faz apologia à pirataria. Os advogados afirmam que hoje eles trabalham somente com administração de bens imóveis e a locação de espaços para exercício do comércio.
Cristófaro diz ao Painel que não estava falando de colegas vereadores ao tratar das emendas, mas da "turma do [Jair] Bolsonaro". Esse trecho do áudio e um texto apócrifo sobre a suposta compra de emendas circularam entre vereadores, gerando revolta e pedidos de punição ao pessebista.
Sobre a crítica dos advogados de que teria postura parcial contra Chong e Hwu, disse que "quem grava outro advogado é digno de piedade" e que "eles não merecem serem advogados do estado de São Paulo". Disse também que eles "pegaram a mania de seus contratantes de desobedecer a lei".
Os advogados protocolaram representação na corregedoria da Câmara pedindo o afastamento de Cristófaro da presidência da comissão. Eles também pediram providências à OAB-SP. Eles falam em abuso de autoridade e perseguição.
"A gravidade da conduta dele é sui generis", diz o advogado Miguel Pereira Neto.
Procurado, o presidente da Câmara, Milton Leite (União Brasil), disse que não comentaria o tema porque não teve acesso ao áudio na íntegra até o momento. Citado, Adilson Amadeu chamou Cristófaro de "descontrolado" e afirmou que vai à Justiça contra as "calúnias" do colega.
"A verborrágica tóxica que lhe é peculiar, sempre com intuito de denegrir a imagem de seus pares, infelizmente respinga e mancha nosso Parlamento. Seu comportamento incomoda e decerto causa vergonha aos demais colegas vereadores. Suas calúnias serão novamente levadas as instâncias corretivas e à Justiça", disse Amadeu.
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