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Editado por Fábio Zanini, espaço traz notícias e bastidores da política. Com Guilherme Seto e Danielle Brant

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Governo Lula não promoveu ações com relatório sobre combate a atentados em escolas, diz professor

Um dos coordenadores do grupo de transição, Daniel Cara diz que ataque era totalmente evitável pelo Governo de SP

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São Paulo

Um dos coordenadores do grupo de trabalho sobre educação da transição de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o professor Daniel Cara diz que o atual governo não fez nada com o relatório que listou estratégias para evitar atentados a escolas.

O texto foi discutido pelo grupo de trabalho em dezembro, mas desde então, diz ele, não houve qualquer gesto por parte do governo que indicasse intenção de implementar as medidas ali contidas.

O material começou a ser elaborado após os ataques a tiros em duas escolas em Aracruz, no Espírito Santo, que deixaram 4 mortos e 13 feridos no final de novembro. Na segunda-feira (27), um adolescente de 13 anos matou uma professora e deixou cinco feridos em escola na Vila Sônia, zona oeste de São Paulo.

"Prevejo que vai acontecer outro ataque em breve. A sociedade brasileira não acredita que os casos vão se repetir e que existe um extremismo de direita que está disseminado em grupos juvenis. A sociedade e o poder público vivem o drama de um ataque e dois dias depois começam a esquecê-lo até que o próximo acontece. A gente entra num looping e vai perdendo vidas. São 17 ataques, com 36 mortes e 77 feridos [desde a primeira década dos anos 2000, quando começaram no Brasil]. É uma situação alarmante em termos de segurança pública", afirma o professor da USP.

A Escola Estadual Thomazia Montoro, na zona oeste da cidade, onde aconteceu o ataque onde um aluno assassinou uma professora e, ao o todo, quatro professores e dois alunos foram feridos. Na foto, mãe e filha, ambas ex-alunas da escola, prestam homanagem às vítimas - Bruno Santos/ Folhapress

Cara diz que o ataque mais recente era totalmente evitável pelo Governo de SP, pois as escolas agiram corretamente ao alertar as autoridades sobre o comportamento agressivo do adolescente. No entanto, a falta de protocolos de ação sugeridos pelos pesquisadores que desenvolveram o relatório fez com que os alertas fossem ignorados.

"Nosso relatório trata disso, da construção de um protocolo, de um diálogo constante, a participação da comunidade para identificar problemas e informar o poder público, o monitoramento de internet, que já poderia ter sido desencadeado por meio de parceria com ministérios da Educação e da Justiça. A questão concreta e efetiva não é se vai acontecer outro ataque, mas quando", completa Cara.

Ele afirma que Camilo Santana, ministro da Educação, e Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, têm sido inoperantes. Para ele, Tarcísio não consegue enfrentar ações influenciadas pelo extremismo de direita por ter apoio do bolsonarismo, que faz parte dessa orientação política.

"O Brasil tem dificuldade em assumir que o país tem milhares de células neonazistas. Nesse ponto, nem o Tarcísio nem o Camilo mostram disposição em enfrentar. Se não for enfrentado esse tema, a questão não vai avançar. O governo não pode ter medo. Se o Estado começa a ter medo, quem vai proteger a sociedade?", questiona Cara.

O relatório organizado pelo professor afirma que os ataques violentos às escolas estão relacionados a um contexto de escalada do ultraconservadorismo e do extremismo de direita no país e a falta de controle e criminalização desses discursos e práticas.

Os alvos de cooptação desse discurso são majoritariamente brancos e heterossexuais, que têm as mulheres como alvos preferenciais.

Para conseguir prevenir e combater esses atentados, o relatório sugere formação a professores e servidores para identificar alterações de comportamentos nos jovens, como interesse incomum por assuntos violentos e atitudes agressivas, recusa de falar com professoras e gestoras mulheres, uso de expressões discriminatórios e exaltação a ataques em ambientes educacionais ou religiosos.

Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação
Daniel Cara, professor da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo e dirigente da Campanha Nacional pelo Direito à Educação - Bruno Santos-3.set.2015/Folhapress

Além disso, propõe também que órgãos de inteligência ligados às forças de segurança monitorem sites, plataformas e fóruns anônimos, e mantenham canal de comunicação direto com as escolas.

O relatório também fala em fomentar o combate à desinformação nas salas de aula por meio de uma educação crítica. Nesse sentido, aponta prejuízo na redução gradativa da presença de conteúdos de disciplinas das ciências humanas e sociais aplicadas, como geografia, história, filosofia e sociologia.

O documento coordenado por Cara destaca ainda a importância de uma campanha ampla de denúncia da cooptação dos jovens por grupos de extrema-direita e como isso afeta o desenvolvimento destes e da sociedade.

Nesse ponto, as orientações para detectar alterações comportamentais também seriam passadas para funcionários das escolas, mães, pais e demais responsáveis.

O material também sugere a criação de leis que proíbam a criação e fechem as centenas de academias e institutos militares mirins, que ofertam cursos militares para crianças e adolescentes e colocam crianças, a partir de 5 anos de idade, para manusear, quando não armas de verdades, réplicas destas.

Por fim, o relatório sugere aperfeiçoamento da lei 7.716/1989, que trata como crime a fabricação, comercialização e veiculação da suástica ou da cruz gamada, símbolos relacionados ao nazismo. Segundo o documento, é necessário expandir a criminalização para outros símbolos fundadas em ideologias de supremacia, como o fascismo, o integralismo e grupos separatistas tais como "O Sul é o meu país".

Além de Cara, participaram da construção do relatório as pesquisadoras Andressa Pellanda, Catarina de Almeida Santos, Claudia Maria Dadico, Fernanda Rasi Madi, Fernanda Orsati, Juliana Meato, Letícia Oliveira, Lola Aronovich, Luka Franca, Marcele Frossard e Paola da Costa Silveira.

Erramos: o texto foi alterado

O título da reportagem do Painel dizia originalmente que o professor Daniel Cara afirma que o governo Lula (PT) não fez nada com o relatório a respeito de ataques de extrema-direita nas escolas. Para deixá-lo mais preciso, foi alterado. A coluna também acrescentou a informação na linha-fina de que Cara considera que o Governo de São Paulo poderia ter evitado o ataque de segunda-feira (27) em escola estadual.

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