Presidente de uma das principais ONGs que atuam com refugiados venezuelanos no Brasil, Blanca Montilla diz ter visto com "preocupação" a recepção ao ditador Nicolás Maduro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
"Para nós é desconcertante essa situação. Tenho recolhido alguns sentimentos de preocupação entre as pessoas que para cá vieram. O fato de o Brasil relativizar as causas desta fuga causa faz muitos ficarem incomodados", declarou ela, que preside a Casa Venezuela, entidade sediada em São Paulo e que também atua em Roraima.
A ONG foi fundada em 2015, mas seu trabalho se intensificou a partir de 2018, quando aumentou intensamente o fluxo migratório dos venezuelanos que fugiam do regime de Maduro.
A entidade diz ter atendido já cerca de 10 mil pessoas, sobretudo no processo de interiorização, ajudando-as a arrumar emprego em diversos estados.
"Essas pessoas vêm sem nada e precisam do básico para ter o mínimo de dignidade. Nosso foco é a inserção socioeconômica e a capacitação com parceiros do setor privado", declara.
A ONG também opera em coordenação com a Operação Acolhida, comandada por militares em Roraima.
Segundo Montilla, o fluxo de venezuelanos para o Brasil aumentou desde janeiro. Somente em abril, foram mais de 18 mil que chegaram. Isso se deve, segundo ela, ao fato de a moeda local ter passado por uma forte desvalorização.
"Quase 100% das pessoas com quem falamos relatam que não tinham dinheiro para pagar comida. Hoje a questão não é mais tanto de desabastecimento, e sim de falta de dinheiro".
Ela afirma que não questiona o direito de Lula de receber Maduro nem de ter relações com a Venezuela. Mas diz estranhar o fato de que na conversa não tenha sido mencionada a crise migratória.
"Não é falta de informação. Temos tido reuniões com os ministérios da Justiça, Direitos Humanos, Povos Indígenas, e estão conscientes da situação em que está a Venezuela. Fico um pouco surpresa, porque perante fatos não há argumentos. Não podemos fechar os olhos para uma tragédia que está aqui do lado e tem impacto no Brasil", afirma.
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