Painel S.A.

Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Painel S.A.
Descrição de chapéu Coronavírus

Não acredito em ecommerce no turismo, diz dono da Agaxtur

Aldo Leone Filho diz que pior já passou para o setor afetado pela pandemia

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

São Paulo

A pandemia derrotou o turismo nos últimos meses, com impactos que devem continuar a ser sentidos até 2021, mas Aldo Leone Filho, dono da Agaxtur, avalia que o pior já passou.

Segundo ele, o caminho para a retomada vai ser o respeito aos protocolos de higiene e segurança que foram criados pelo setor. Leone diz que as agências se digitalizaram nesse período, mas fechar unidades físicas está fora do radar.

Aldo Leone Filho, dono da agência de viagens Agaxtur - Reprodução

*

A pandemia atingiu o turismo em cheio, deixou companhia aérea com avião no chão, hotel com 3% de ocupação. Como foi o estrago? No Carnaval, nós sabíamos que íamos entrar pelo cano. Estava na cara que ia desmontar o turismo. Em abril, o setor concluiu que a coisa ia ficar ruim para o nosso lado, que o turismo ia ser colocado como um dos culpados da proliferação da Covid-19 no mundo.

Os países começaram a fechar fronteira. A primeira coisa foi solicitar ajuda aos governos, como lei para reduzir jornada, para deixar as empresas mais seguras porque não ia ter movimento, mas o que veio a seguir ninguém previa, que íamos ficar parados até julho com faturamento zero.

Então, nós criamos um movimento chamado Supera Turismo, para tentar segurar os empregos, criar protocolos e planejar a retomada. Os protocolos levaram quase três meses para serem criados.

Hoje, toda hotelaria, os aviões, os hotéis, os carros de aluguel, todos têm protocolo. E o turismo voltou a 25% do que foi um dia. Então, começamos a fazer uma segunda campanha, para que as pessoas virem viajantes responsáveis.

E esse protocolo dos estabelecimentos está funcionando? Como está a contrapartida do comportamento do turista? Ele está colaborando? As pessoas têm de funcionar. Mas você só ia descobrir que as pessoas funcionavam depois de ter o protocolo. Precisávamos criar o protocolo das pessoas também. Ninguém pensou nisso. Só nós.

Então, nós fizemos um comitê, dentro do movimento Supera Turismo, que criou o guia do viajante responsável, para quem frequenta o restaurante, o comércio local.

Esse protocolo do viajante já não seriam as determinações locais de cada estado e município? Tem três pontos principais, como distanciamento, álcool em gel e máscara. Mas nós chegamos a 24 pontos, que inclui até o comportamento do viajante, como ele pode ser educado, ter respeito, fazer seguro de viagem, fazer comentários reais em sites de avaliação dos hotéis. E isso vai até sustentabilidade.

Qual é a relação da sustentabilidade com os protocolos? O que tem a ver com pandemia? Um dos itens do guia do viajante responsável é não poluir o mar, não jogar plástico no chão. A máscara faz parte. Essa brincadeira de usar máscara errado, debaixo do nariz, de qualidade inferior, faz parte disso.

A máscara descartável entra na ideia da poluição. Um pinguim morreu depois de engolir uma. Então, juntamos as duas coisas, ligamos os dois pontos. Eu fui procurado pela Sigvaris para o movimento Supera Turismo lançar uma máscara com fio da Rhodia. E a margem de lucro das vendas vai para um programa da família Schurmann, que vai viajar de barco no ano que vem seguindo a rota do lixo do plástico nos oceanos.

Diante de tudo o que aconteceu na pandemia, qual será o futuro do seu negócio, que são as agências de turismo físicas? Vai migrar para o digital? Vai acabar? As agências se digitalizaram. Mas eu não acredito em ecommerce no turismo. As pessoas que compraram no ecommerce tiveram problema durante a pandemia porque não tinham como ser atendidas. E o trabalho do agente de viagem se multiplicou. É o atendimento.

Mas a agência de viagem, aquela quadradinha, no shopping center, tem de mudar com o conceito da digitalização. O cliente pode ser atendido por telefone, por Whatsapp, email ou Zoom.

E quando o turismo volta ao normal? Mesmo após a vacina, como vai ficar o efeito econômico? O turismo está voltando rápido. Viagem é comprada com seis meses de antecedência. Os governos têm quase certeza que a vacina sai até o fim do ano. Então, quem compra hoje para viajar em fevereiro, março e abril, já está comprando para o pós-pandemia. E está barato.

A gigante CVC está sofrendo, com prejuízo bilionário e capacidade operacional colocada em dúvida. Como o setor vê isso? Se você separar a parte a contábil da parte operacional, a operação de turismo nos últimos 15 dias tem tido uma retomada. Peguei um voo cheio de Fortaleza a Manaus. Hoje estou em um hotel com 100% de ocupação. A recuperação é real. As aéreas estão voando mais, a hotelaria começa a respirar.

O turismo interno no Brasil está em recuperação. Fechamos o mês de setembro na Agaxtur a 31% do que foi no ano passado. Estamos muito bem, do ponto de vista de quem ainda tem de crescer quatro vezes para voltar ao que era no passado, mas o importante é a esperança. As coisas estão voltando.

Também se fala em fechamento de lojas no setor. Isso não está no seu radar? É exatamente o contrário. É o meu grande mérito. Eu consegui manter todas as franquias abertas. Na palavra, na motivação. Consegui motivar o pessoal a não fechar. Eu vejo que o setor volta. O pior já passou.

LINK PRESENTE: Gostou desta coluna? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.