A pandemia derrotou o turismo nos últimos meses, com impactos que devem continuar a ser sentidos até 2021, mas Aldo Leone Filho, dono da Agaxtur, avalia que o pior já passou.
Segundo ele, o caminho para a retomada vai ser o respeito aos protocolos de higiene e segurança que foram criados pelo setor. Leone diz que as agências se digitalizaram nesse período, mas fechar unidades físicas está fora do radar.
A pandemia atingiu o turismo em cheio, deixou companhia aérea com avião no chão, hotel com 3% de ocupação. Como foi o estrago? No Carnaval, nós sabíamos que íamos entrar pelo cano. Estava na cara que ia desmontar o turismo. Em abril, o setor concluiu que a coisa ia ficar ruim para o nosso lado, que o turismo ia ser colocado como um dos culpados da proliferação da Covid-19 no mundo.
Os países começaram a fechar fronteira. A primeira coisa foi solicitar ajuda aos governos, como lei para reduzir jornada, para deixar as empresas mais seguras porque não ia ter movimento, mas o que veio a seguir ninguém previa, que íamos ficar parados até julho com faturamento zero.
Então, nós criamos um movimento chamado Supera Turismo, para tentar segurar os empregos, criar protocolos e planejar a retomada. Os protocolos levaram quase três meses para serem criados.
Hoje, toda hotelaria, os aviões, os hotéis, os carros de aluguel, todos têm protocolo. E o turismo voltou a 25% do que foi um dia. Então, começamos a fazer uma segunda campanha, para que as pessoas virem viajantes responsáveis.
E esse protocolo dos estabelecimentos está funcionando? Como está a contrapartida do comportamento do turista? Ele está colaborando? As pessoas têm de funcionar. Mas você só ia descobrir que as pessoas funcionavam depois de ter o protocolo. Precisávamos criar o protocolo das pessoas também. Ninguém pensou nisso. Só nós.
Então, nós fizemos um comitê, dentro do movimento Supera Turismo, que criou o guia do viajante responsável, para quem frequenta o restaurante, o comércio local.
Esse protocolo do viajante já não seriam as determinações locais de cada estado e município? Tem três pontos principais, como distanciamento, álcool em gel e máscara. Mas nós chegamos a 24 pontos, que inclui até o comportamento do viajante, como ele pode ser educado, ter respeito, fazer seguro de viagem, fazer comentários reais em sites de avaliação dos hotéis. E isso vai até sustentabilidade.
Qual é a relação da sustentabilidade com os protocolos? O que tem a ver com pandemia? Um dos itens do guia do viajante responsável é não poluir o mar, não jogar plástico no chão. A máscara faz parte. Essa brincadeira de usar máscara errado, debaixo do nariz, de qualidade inferior, faz parte disso.
A máscara descartável entra na ideia da poluição. Um pinguim morreu depois de engolir uma. Então, juntamos as duas coisas, ligamos os dois pontos. Eu fui procurado pela Sigvaris para o movimento Supera Turismo lançar uma máscara com fio da Rhodia. E a margem de lucro das vendas vai para um programa da família Schurmann, que vai viajar de barco no ano que vem seguindo a rota do lixo do plástico nos oceanos.
Diante de tudo o que aconteceu na pandemia, qual será o futuro do seu negócio, que são as agências de turismo físicas? Vai migrar para o digital? Vai acabar? As agências se digitalizaram. Mas eu não acredito em ecommerce no turismo. As pessoas que compraram no ecommerce tiveram problema durante a pandemia porque não tinham como ser atendidas. E o trabalho do agente de viagem se multiplicou. É o atendimento.
Mas a agência de viagem, aquela quadradinha, no shopping center, tem de mudar com o conceito da digitalização. O cliente pode ser atendido por telefone, por Whatsapp, email ou Zoom.
E quando o turismo volta ao normal? Mesmo após a vacina, como vai ficar o efeito econômico? O turismo está voltando rápido. Viagem é comprada com seis meses de antecedência. Os governos têm quase certeza que a vacina sai até o fim do ano. Então, quem compra hoje para viajar em fevereiro, março e abril, já está comprando para o pós-pandemia. E está barato.
A gigante CVC está sofrendo, com prejuízo bilionário e capacidade operacional colocada em dúvida. Como o setor vê isso? Se você separar a parte a contábil da parte operacional, a operação de turismo nos últimos 15 dias tem tido uma retomada. Peguei um voo cheio de Fortaleza a Manaus. Hoje estou em um hotel com 100% de ocupação. A recuperação é real. As aéreas estão voando mais, a hotelaria começa a respirar.
O turismo interno no Brasil está em recuperação. Fechamos o mês de setembro na Agaxtur a 31% do que foi no ano passado. Estamos muito bem, do ponto de vista de quem ainda tem de crescer quatro vezes para voltar ao que era no passado, mas o importante é a esperança. As coisas estão voltando.
Também se fala em fechamento de lojas no setor. Isso não está no seu radar? É exatamente o contrário. É o meu grande mérito. Eu consegui manter todas as franquias abertas. Na palavra, na motivação. Consegui motivar o pessoal a não fechar. Eu vejo que o setor volta. O pior já passou.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.