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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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'O que está acontecendo hoje é reflexo da falta de norte científico', diz presidente do Einstein

Para Sidney Klajner, governos que administraram bem a pandemia se basearam em orientações científicas

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São Paulo

Depois do pico de ocupação no Einstein, que chegou a 300 pacientes neste ano na segunda onda da pandemia, o movimento de queda no número de casos no hospital vem se acentuando e ficou em 115 internados na sexta (2).

Para Sidney Klajner, presidente do Einstein, o momento da pandemia no Brasil, nublado ainda mais pelos desdobramentos da CPI, é um reflexo do que ocorreu desde 2020, ou seja, falta um norte científico.

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Sidney Klajner, presidente do Einstein - AFP

Como está a ocupação? O que temos visto nas últimas semanas é uma diminuição do número de casos. O boletim de sexta (2) teve 115 internados. Fazemos projeções com diversas fontes de informação. Na telemedicina, a curva de subida das consultas relacionadas a sintomas de Covid antecede a internação em oito dias. Temos usado até para predição de capacidade.

Imaginei que, depois do Corpus Christi, teríamos, de novo, um incremento. Foi um feriado de viagens e vimos cenas em Campos do Jordão. Mas não aconteceu. Para se ter uma ideia, no pico da segunda onda, neste ano, tivemos 300 pacientes internados. No pico de 2020, foram 138.

E como estão os outros tratamentos dos pacientes de eletivas que ficaram represados no ano passado? Temos diretorias de fluxo e gestão de operações. Temos feito tudo para mitigar, porque é muito ruim não ter ambiente para tratar as doenças que comumente vêm atrás do hospital. Temos níveis de colocação das cirurgias eletivas.

Em um primeiro momento, não impedimos a marcação, mas distribuímos o agendamento para evitar picos, por exemplo, às sextas ou vésperas de feriados. No segundo, se restringe algum tipo de agendamento em alguns períodos. Em um terceiro nível, adotado em março, quando teve o pico da Covid, permitem-se as cirurgias que não podem ser adiadas, neurológica, cardiológica, oncológica e emergências.

No quarto nível, que não precisamos chegar, se suspenderia tudo o que não é urgência e Covid. Deixamos o hospital de campanha com um backup, não está ocupado, mas está reconstruído e esperamos não precisar mexer no atendimento normal dos pacientes.

Como ficou a pressão dos planos de saúde para suspender as eletivas? Na boa relação que o Einstein tem com as operadoras, em nenhum momento influenciou qualquer tipo de decisão.

Aqui, a decisão do hospital era conforme a demanda de pacientes por serviços e passamos por essa fase bem. Agora, se você imaginar que existe uma sinistralidade aumentada da alta complexidade em uma operadora de saúde, obviamente, ela vai tentar fazer com que essa sinistralidade diminua, até por desembolso dos recursos.

Porém, elas mostraram resultados positivos? Sim. Mostrou no ano passado quando a prática assistencial praticamente parou para atender Covid. Houve uma diminuição brutal de sinistralidade das operadoras, principalmente no primeiro semestre. Na segunda onda, quando a retomada dos atendimentos já aconteceu de modo normal, e ainda somada à alta complexidade de um número maior de casos, voltou a ter uma sinistralidade alta, diferente do comportamento de 2020.

E os seus estudos clínicos com a Covaxin? Fomos contatados pelo laboratório, Bharat, ainda no começo do ano, para os testes, quando a vacina estava sendo discutida. E caminhamos para ter esse tipo de contrato com o laboratório na Índia para desenho desse estudo clínico, desde que houvesse, obviamente, aprovação da Anvisa.

Fizemos, à mesma maneira, partes do estudo da Coronavac. E nosso centro de pesquisa se viu amplamente capaz de fazer com a nova vacina. A Anvisa, apesar de ter tido uma aprovação, exigiu outras informações para o estudo começar.

Isso antes da polêmica que está acontecendo. E nós aguardamos o ok da Anvisa. Independentemente da polêmica sobre a compra da vacina, nós entendemos que uma coisa é a ciência para demonstrar a eficiência da vacina. Outra coisa é o formato de aquisição pelo Ministério da Saúde.

Agora, se existe um entendimento do laboratório de, através de um estudo bem desenhado, poder mostrar a eficácia dela, o Einstein se coloca à parte de discussão comercial.

Esse é o papel que uma organização como a nossa tem de ter e procurou demonstrar no ano passado. Não só em relação à Covaxin, mas a tratamentos sem eficácia, máscara, protocolos que através de consultorias colocamos nas empresas e continuamos sendo procurados para isso.

Como vê essa situação tão nublada com a CPI, enquanto outros países estão tão adiantados, estamos falando de corrupção e atraso de vacina? O que está acontecendo hoje é reflexo do que tem acontecido desde o princípio, que é a falta de um norte científico para dirigir o que as lideranças deveriam estar fazendo. Os governos que executaram bem o seu papel de liderança no enfrentamento da pandemia, todos tomaram atitudes com base no que era recomendado por uma equipe excepcionalmente técnica e que tinha a reposta dos estudos para dar o norte.

Aqui não houve isso. Em nenhum momento as recomendações técnicas baseadas em evidências científicas foram seguidas por uma liderança única. Poderíamos ver alguém seguindo, mas a grande voz que deveria vir do Ministério da Saúde não fez dessa forma.


Sidney Klajner
É cirurgião do aparelho digestivo. Tem graduação em medicina e mestrado pela Faculdade de Medicina da USP e residência médica pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. É presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein e membro do conselho do Instituto Coalizão Saúde

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