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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Só novo governo pode tirar país do precipício, diz ex-diretor do BC

Luiz Fernando Figueiredo afirma temer retrocesso com volta de Lula e troca Bolsonaro por Moro

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São Paulo

Um dos primeiros no mercado financeiro a aderir à campanha de Jair Bolsonaro (PL) nas eleições de 2018, o ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo está pronto para outra aposta.

Há duas semanas, ele abriu as portas de sua casa para um jantar do ex-ministro Sergio Moro (Podemos) com um grupo de figurões que incluiu o banqueiro Roberto Setubal, do Itaú Unibanco, e o gestor Luis Stuhlberger, da Verde Asset.

Sócio fundador da Mauá Capital, Figueiredo diz que se decepcionou com Bolsonaro e acha que a volta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera a corrida presidencial, representaria outro retrocesso para o país.

Homem branco de barba grisalha, com camisa clara e óculos de aros finos. Ao fundo, uma gravura com linhas geométricas.
O ex-diretor do Banco Central Luiz Fernando Figueiredo, no escritório de sua gestora de investimentos, a Mauá Capital. - Rafael Hupsel - 21.set.2018/Folhapress

Três anos depois da eleição, acha que subestimou os riscos oferecidos por Jair Bolsonaro para a estabilidade do país e a economia? Sem dúvida, foi uma decepção. Votei nele porque me parecia melhor do que a alternativa. Do outro lado, o PT apontava o caminho da irresponsabilidade fiscal. Na minha visão, iríamos para o desastre.

Bolsonaro oferecia uma chance de não ser assim e na época me pareceu a melhor opção. De fato, ele não tinha uma boa história e despertava dúvidas. Mas tinha a agenda certa e montou uma equipe robusta. Depois foi fazendo um monte de bobagens e chegamos aonde estamos.

O país está mais quebrado do que naquela época. Houve uma melhora na situação fiscal nos últimos meses, mas ela ainda é muito frágil. Apesar de avanços como a reforma da Previdência, abandonamos a última âncora fiscal que tínhamos, o teto de gastos.

Chegamos mais uma vez à beira do precipício e caberá a um novo governo arrumar isso. Enquanto ficamos nesse cai-não-cai, não conseguimos enfrentar nossos problemas. O país está há 15 anos sem crescer de forma sustentável.

Não havia motivos para desconfiar de Bolsonaro antes? A fragilidade do compromisso dele com o discurso liberal da campanha sempre foi evidente. Eu pensava assim: o bom não ia acontecer, então tínhamos de ficar com o menos pior. Era uma competição de feiura, e acho que não precisamos passar por outro concurso como esse.

A passagem do PT pelo governo foi desastrosa para o país. Bolsonaro também foi. Um presidente louco e negacionista, que não deixa a equipe trabalhar. É um atraso para o país, como a volta de Lula também seria. É por isso que precisamos desesperadamente de uma terceira via.

Tensões entre Bolsonaro, o Congresso e o Judiciário submeteram as instituições democráticas a enorme desgaste nos últimos anos. Que efeitos isso terá no longo prazo? Não acho que as instituições se fragilizaram. Elas foram testadas e se mostraram fortes. Acho que um processo de impeachment sempre causa um trauma, mas foi o risco de sofrer impeachment que fez o presidente recuar e isso acalmou os ânimos, sem que fosse preciso apertar o botão.

Essa trégua lhe parece suficiente para recuperar a confiança dos investidores no país? Precisamos de um presidente razoável, um governo que consiga olhar para frente e comece a enfrentar os problemas. A dúvida sobre a segurança institucional é ruim. A percepção externa do Brasil nunca foi tão negativa desde que comecei a acompanhar o mercado, há quase 40 anos.

O país não está mais na rota dos investimentos. Há algum interesse por oportunidades na área de infraestrutura, mas somos vistos marginalmente. O risco é um país do tamanho do Brasil ser esquecido pelo mundo desenvolvido.

A atividade econômica parece ter perdido fôlego antes de o BC começar a aumentar a taxa básica de juros. O que esperar do próximo ano? As condições financeiras começaram a ficar apertadas há alguns meses, por causa da incerteza criada pela expectativa de uma quebra do arcabouço fiscal. O efeito desse aperto para segurar a inflação demora, mas na atividade econômica é instantâneo.

Então tivemos várias surpresas negativas, com dados ruins do varejo, da indústria. A inflação, que deve fechar o ano perto de 10,5%, cairá nos próximos meses, mas deverá continuar num patamar alto, ao redor de 5%. E a economia vai crescer muito pouco, com uma taxa próxima de zero.

O desemprego continuará alto, agravado por uma perda de renda importante. Os salários não conseguiram acompanhar a inflação em muitos setores. O quadro econômico é muito ruim, o que poderá prejudicar Bolsonaro e talvez abrir uma janela para outra alternativa nas eleições.

Como foi sua aproximação com Sergio Moro? Sempre admirei sua trajetória e por isso o procurei quando começou a se movimentar. Chamei algumas pessoas para conversar com ele e foi muito bom. Não ficou pergunta sem resposta. Nos temas em que ele não tem segurança, deixou claro que está estudando. Ele já indicou que vai seguir uma linha econômica liberal, com a qual me identifico.

Moro é novato na política, entrou num partido inexpressivo e muitos duvidam de sua capacidade de articulação. Por que o sr. acha que está fazendo a aposta certa desta vez, e não cometendo outro erro? Ele se mostra preocupado com a necessidade de formar uma base de apoio sólida para governar. Sabemos que não adianta ser um sujeito razoável com boas ideias se não houver como implementá-las. Ele está se preocupando com isso desde já, não vai deixar para depois de eleito.

Luiz Fernando Figueiredo, 57

Diretor de política monetária do Banco Central de 1999 a 2003, no fim do governo Fernando Henrique Cardoso, é sócio fundador e principal executivo da Mauá Capital, que administra R$ 5 bilhões em investimentos. Foi sócio do antigo banco BBA e da Gávea Investimentos.

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