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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Páscoa

Queda do dólar não beneficia vinho importado no primeiro momento, diz importadora

Adilson Carvalhal Junior, diretor da Casa Flora, avalia que impacto nos preços deve levar até três meses

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São Paulo

Os preços dos produtos importados para a Páscoa ainda não devem se beneficiar da recente queda do dólar, segundo Adilson Carvalhal Junior, diretor da Casa Flora. É que, devido à dificuldade logística, as importadoras têm trabalhado com estoque antecipado. "Todo mundo teve de antecipar muito as compras. Acho que tem um delay de uns dois ou três meses para ver", diz o empresário.


Qual foi o efeito da queda do dólar para vocês até agora? Às vezes, as pessoas acham que você vai ter resultado sobre o custo no primeiro momento. Mas isso não ocorre. Ainda mais agora, com esse mundo maluco, um fluxo de importação demora meses para acontecer de fato. É sempre bom quando [o dólar] está vindo para baixo.

Isso vai ajudar a amenizar esse impacto que nós estamos tendo. Nesse sentido, a gente vê positivamente. Só que não gera impacto no primeiro momento porque temos muito estoque pago com câmbio muito mais alto que o atual.

Homem aparece sentado em um banco. Ele veste calça jeans, camisa de cor clara e blazer cinza.
Adilson Carvalhal Junior, diretor da Casa Flora - Divulgação

Esse movimento de queda recente beneficia os seus pedidos para quando? Para o Natal? Não. Até antes. Para o inverno já vai gerar um impacto, sim. O que talvez não gere é um impacto de redução imediata para a Páscoa, que já estava comprada, até por esses riscos logísticos, de loucura de frete, que o mundo tem passado. Todo mundo teve de antecipar muito as compras. Acho que tem um delay de uns dois ou três meses para ver.

​Estamos vivendo um ano que ainda não é pós-pandêmico, e é também um ano de guerra e um ano político. Sabemos que ainda vai ter muita oscilação de especulação e de tensão de mercado. Não temos ideia do que vai acontecer com o dólar no médio e longo prazo. Então, ainda são movimentações que demoram.​

Adilson Carvalhal Junior

diretor da Casa Flora

O preço do vinho, por exemplo, só vai sentir a queda do dólar quando? Primeiro, eu acho que precisa ter uma estabilização. Pelo que está parecendo, vai se manter mais baixo do que estava antes. E pela questão dos estoques, a gente acha que o reflexo disso total no ponto de venda acontece depois de uns dois ou três meses, mais ou menos.

Algo mais mudou no comportamento do consumidor nesse novo momento da pandemia que estamos vivendo hoje? Durante a pandemia, o consumidor se habituou mais a consumir vinho. Foi uma ocasião de consumo em casa que favoreceu o vinho, e isso tomou um outro patamar dentro do nosso mercado.

Agora, não vai conseguir crescer no mesmo ritmo de 2020, mas está se mantendo, mesmo com a reabertura de bares e restaurantes. Havia a dúvida se as pessoas iam parar de tomar vinho. Mas esse hábito que começou a se construir na pandemia está se mantendo.

Houve muito aumento nos custos também. Tem sido difícil repassar? Eu vejo que as pessoas se adaptam fazendo seleção de produto. Elas trocam marcas, buscam os mais acessíveis. Se o vinho que custava R$ 50 antes da pandemia, com o câmbio a R$ 4, subiu para R$ 70, eu acho que o consumidor buscou outro na mesma faixa de preço.

Nossa curadoria teve que tentar buscar produtos mais aderentes ao momento do mercado. Então, você acelera uma marca que tem preço mais competitivo e desacelera outras. Tenho que trazer uma oferta de produtos que se adapte ao poder de consumo que o nosso consumidor vai ter no momento.

Para nós importadores, que temos um mix grande, o desafio é entender qual é o preço que o consumidor consegue e está disposto a pagar hoje para cada nível de produto.

Além das bebidas, o que aconteceu na linha de alimentos? Sofreu menos em termos de consumo. Em uma crise como essa, teve muita quebra de fornecimento. Por exemplo, o tomate pelado da Itália está escasso. E é o produto que mais está sofrendo com a inflação global. Estamos falando de guerra na Ucrânia, fertilizantes e uma série de coisas que vão gerar impacto negativo.

Vamos ter desafios para conseguir estar bem abastecidos, mas acho que em termos de consumo sofreu menos. Nós importadores não sofremos muito com isso. O que está complicado é conseguir ter produto sempre.

Como foi o ecommerce para vocês nesse período de pandemia? Começamos muito tarde, aliás, quando o mercado já estava aberto. Era um projeto que talvez fosse acontecer cinco anos depois. Começamos, efetivamente, a faturar no ecommerce em agosto de 2021. Não queremos um ecommerce de tíquete baixo, porque a gente entende que tem uma distribuição muito boa.

E os azeites? Como tem evoluído esse mercado no Brasil? Estamos começando a ver, cada vez mais, uma premiunização. As pessoas não estão só buscando as marcas de grande volume, mas também um diferencial. Você já vê as pessoas tendo dois tipos de azeite, um mais especial para um jantar e outro para o dia a dia. Está começando a ter uma degustação mais apurada para o azeite.

Às vezes, a pessoa prefere pagar mais por um azeite que ela vai usar menos, porque tem mais intensidade de sabor. E ela usa menos como tempero e como insumo. As pessoas estão mais com pegada de gastronomia, azeites saborizados, com trufas. Somos muito novos em consumo de azeite. Consumíamos óleo de milho, depois óleo composto com azeite e agora estamos indo para um azeite premium.


Raio-x
Ingressou na Casa Flora, empresa da família, em 1989, quando cursava a faculdade de engenharia, e atuou na transformação do negócio em importadora de alimentos e bebidas. Hoje, além de diretor da Casa Flora, o empresário é presidente da BFBA (associação de exportadores e importadores de bebidas e alimentos).

Joana Cunha com Andressa Motter

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