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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Com alta taxa de rejeição, perspectiva de vitória de Bolsonaro é zero, diz investidor

Para Lawrence Pih, presidente tem disposição autoritária que pode representar riscos após primeiro turno

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São Paulo

Um dos primeiros empresários a apoiar o PT nos anos 1980 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma Rousseff publicamente, Lawrence Pih não vê qualquer perspectiva de uma vitória de Bolsonaro na eleição deste ano, mas diz ter preocupação com o surgimento de conflitos entre o primeiro e o segundo turno.

"Com nítida disposição autoritária, o candidato à reeleição vem insinuando que não aceitará um resultado que não lhe seja favorável. O povo e as instituições devem permanecer vigilantes e monitorar cada passo, não lhe permitindo incendiar o país", afirma.

O comportamento de Bolsonaro no 7 de Setembro, com sua declaração de que é imbrochável, foi uma exibição de vulgaridade explícita, nas palavras de Pih. "O presidente sequestrou um evento cívico histórico, do qual a nação devia se orgulhar, transformando-o em um comício eleitoral chulo", diz.

Ele afirma que o próximo presidente herdará um país falido, desunido e desigual e que vê uma bomba-relógio para ser explodida em 2023.

Imagem mostra Lawrence Pih sorrindo. Ele usa terno e óculos.
O empresário Lawrence Pih, em sua casa, em São Paulo - Eduardo Anizelli -1.mar.18/Folhapress

O senhor, que foi um dos primeiros empresários a apoiar o PT na década de 80 e também um dos primeiros a criticar o governo Dilma, o que está achando do momento atual? Os dois mandatos do presidente Lula trouxeram robusto crescimento econômico, redução da desigualdade, distribuição de renda, inclusão social e investimento em educação e saúde.

O Brasil era respeitado mundo afora e era visto como um dos países líderes do G-20. Hoje, o país está envolto em crise econômica, aumento da fome, discórdia social. Um governo com vocação autoritária, repleto de terraplanistas desqualificados, desprovidos de competência, de ética, de moral, de pudor e dignidade. Internacionalmente, somos vistos como pária.

Qual balanço o senhor faz do 7 de Setembro?Foi uma exibição de vulgaridade explícita. O presidente sequestrou um evento cívico histórico, do qual a nação deveria se orgulhar, transformando-o em um comício eleitoral chulo.

E, em um gesto acabadiço, colocou uma figura circense e estrambótica como braço direito. Há evidente carência cognitiva de entender o peso e a importância da instituição da Presidência. Um momento tão solene não é ocasião de fazer marketing para Viagra. O que ocorreu foi um insulto à nossa história, ao nosso país e ao nosso povo.

Na sua opinião, quais são os reais riscos na retórica de ameaças ao resultado das urnas feitas por Bolsonaro? O presidente Bolsonaro disse expressamente que a história pode se repetir e que temos pela frente uma luta do bem contra o mal. Nessas frases, está explícita a vontade dele de não aceitar a vontade do povo. Ele se equivoca e inverte o bem e o mal.

O que achou do episódio dos empresários bolsonaristas no grupo de Whatsapp que trocou mensagens a favor do golpe de estado em caso de vitória de Lula? Traz à memória a Operação Bandeirante dos anos 1960, quando empresários arquitetavam e apoiavam a implantação de uma ditadura que maculou por mais de duas décadas a história do país. São indivíduos do mesmo nível, e o peso da Constituição deve recair sobre eles.

E a reação do ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes, que desencadeou a operação da Polícia Federal sobre o grupo? A resposta do ministro foi à altura da proposição de insurreição. Hoje, há poucos homens públicos com essa coragem.

Quais são as suas previsões para a economia do Brasil em 2023, seja quem for o presidente? A nossa economia está em frangalhos. A inflação vai superar o teto estabelecido pelo terceiro ano consecutivo por absoluta incompetência, populismo barato, medidas eleitoreiras sem fim.

Os juros permanecem na estratosfera, o poder de compra, corroído, e as falências no setor privado aumentarão. O atual governo não executou reforma tributária ou administrativa, porém, reduziu verbas para ciência, tecnologia, educação e investimentos em infraestrutura, e foi extraordinariamente generoso com o balcão transacional do orçamento secreto.

O próximo presidente herdará um país falido e em recessão, desunido, com um abismo de desigualdade, carência na saúde, na educação e na infraestrutura. Para piorar, estamos à beira de uma recessão global. O que o governo Bolsonaro criou foi uma bomba-relógio para explodir em 2023.

A maior ameaça ao país não é pandemia, desastre climático, Amazônia em chamas, colapso econômico ou até uma guerra global. Mas o fascismo totalitário em construção. Com a história na mão, o povo saberá fazer a hora e não esperar o fascismo varrer o país.

Qual é o seu grau de preocupação com a violência política? Quando um presidente prega a violência, o confronto, o nós contra eles, a inversão do bem contra o mal, ele instila ódio na sociedade. Destilar machismo com arma na mão não significa coragem, pelo contrário, coragem vem daqueles que pregam e lutam por pacificação e harmonia, é aceitar ponto de vista contrário. A violência que varre o país é consequência direta da conduta do presidente.
Nessa trajetória de assassinato de quem se diverge aumentará o risco de confronto generalizado. As instituições precisam mostrar que são sólidas e cercear voluntarismo.

Como avalia o resultado do Datafolha de sexta-feira? A pesquisa Datafolha mostra um quadro estável e consolidado. Com 51% de rejeição, que também permanece estável, a perspectiva de uma vitória do presidente Bolsonaro é zero.

O grande risco reside no intervalo entre o primeiro e o segundo turno. Com nítida disposição autoritária, o candidato à reeleição vem insinuando que não aceitará um resultado que não lhe seja favorável.

O povo e as instituições devem permanecer vigilantes e monitorar cada passo, não lhe permitindo incendiar o país. Torço para que se conclua a eleição no dia 2 de outubro.


Raio-X

Graduado em filosofia pelo Lafayette College, nos EUA, mestre em filosofia pelo Four-College PhD Program, pela Universidade de Massachusetts, foi presidente do Grupo Pacífico, de processamento de trigo, que vendeu para a Bunge em 2015, e hoje é investidor. Também é autor de "Réquiem para um Capitalismo em Agonia"

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