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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Como fazer R$ 1 bi

Ex-jogador sem futuro conta como saiu do nada para montar uma das casas de investimento mais bem sucedidas do mercado

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Brasília

João Paulo Luque, 31, perdeu o pai quando tinha dois anos. Desde então, sonhava em ficar rico jogando futebol para cuidar da mãe, empregada doméstica, e de seus irmãos. Perseguiu o sonho de fazer fortuna como aspirante a artilheiro de um time grande. Mas, durante nove anos, ele quicou entre clubes pequenos de Norte a Sul, sempre sozinho.

Luque passou fome, tomou banho frio, até que trocou de plano: fazer dinheiro vendendo muamba, única saída possível quando percebeu que não teria sucesso.

João Paulo Luque é um homem branco que está vestindo um terno azul. Ele está com os braços cruzados e sorri para a foto. Atrás dele, em uma parede, estão os logos da AFS e do BTG Pactual.
João Paulo Luque, presidente e co-fundador da AFS Capital, braço de investimento do BTG - Arquivo pessoal

Começou então a vender importados trazidos dos EUA pela mulher do diretor de um banco. O resultado das vendas chamou a atenção do executivo, que deu a ele a chance de ingressar para a instituição.

Em seis anos, Luque deixou o banco e montou seu próprio negócio, uma butique de investimento junto com outros sócios. Depois, montou outra, recém-adquirida pelo BTG, que já captou mais de R$ 1 bilhão em menos de um ano.

Vender muamba ajudou a ser banqueiro? (Risos) No fundo, o negócio do banco é conseguir clientes. A muamba me ajudou a chegar aqui, sem dúvida. Sou de uma família pobre, minha mãe era empregada, e eu, ainda menino, tinha um sonho grande e uma fé inabalável de vencer.

Prometi à minha família que seria jogador de futebol, uma forma de garantir uma vida confortável para eles. Meu pai morreu cedo, eu tinha apenas dois anos.

Joguei em times pequenos do país a partir dos 11 anos. Tudo na esperança de ir para um time grande e ficar famoso. Passei fome, muitas vezes só tinha um pão com leite para comer, porque muitos desses clubes não tinham estrutura. No dia em que tive de tomar banho gelado, porque não tinha energia no clube, entendi que não teria futuro.

O que você fez para sobreviver? Naquela época, a minha namorada conhecia a mulher do diretor de um banco importante que comprava artigos importados dos EUA. Eu propus a ela fazer a venda, cobrando 25% de comissão. O resultado chamou a atenção do marido dela. Ele me chamou, disse que eu tinha talento e que aquilo era um negócio sem futuro. Me indicou para uma entrevista no banco. Eu não tinha dinheiro nem para comprar um terno. Minha namorada me ajudou, comprando uma camisa num brechó para que eu pudesse ir à entrevista. Consegui a vaga e passei a fazer captação de clientes.

Você tinha curso superior? Não. Tinha o segundo grau concluído em escola pública. Entrei na faculdade depois. Me formei em gestão comercial e fiz MBA em banking pela Universidade de São Caetano do Sul.

Entre 2010 e 2018 obtive sete promoções. Saí do banco para montar um escritório de investimentos ligado à XP. A regra da CVM [Comissão de Valores Mobiliários] que permitiu a proliferação dos agentes autônomos deu sustentação para o meu negócio.

Como assim? Essa regra permitiu a abertura do mercado e a possibilidade de um escritório captar clientes e vender produtos financeiros de diversas instituições do mercado. Em menos de um ano levantamos mais de R$ 1 bilhão. O negócio chamou a atenção, e o BTG fez uma proposta. Topei. Montei a AFS Capital junto com outros sócios com a promessa de captar novamente R$ 1 bilhão em menos de um ano.

Deu certo? Nossa carteira já conta com R$ 1,2 bilhão em aplicações de clientes.

Agora que você já é milionário, qual o próximo passo? Ainda estou longe disso (risos). Mas, recentemente, comprei uma cobertura para a minha mãe na cidade onde ela mora e foi um momento incrível.

Agora eu pretendo montar uma plataforma digital para cadastrar gente talentosa e sonhadora pelo Brasil com potencial de vencer na vida para replicar o que fiz em locais rentáveis.

É uma forma de retribuição? Claro que sim, mas também para fazer negócio. A ideia é cadastrar essa turma, treiná-la, e captar clientes, especialmente ligados às novas fronteiras de negócio, como o agro, que está bombando em diversas regiões do país, e mais fortemente no Norte.

Qual sua meta? Pretendo levantar R$ 10 bilhões em cinco anos somente com a gestora. Mas a ideia é criar um marketplace financeiro [espécie de supermercado digital] juntando ofertas de bancos, seguros, fundos, fintechs. A empresa já está aberta e vai se chamar Banflix. Pretendo chegar a esse resultado concentrando esforços especialmente no Norte, Centro-Oeste e Nordeste.

Por que nessas regiões? São áreas com um potencial de crescimento incrível. Embora o Centro-Oeste seja o grande celeiro, o Norte vem desenvolvendo o agronegócio com mais força, e o Nordeste deve ter fôlego de investimento com o novo governo.

Qual sua expectativa com Lula? É boa, mas acho que precisa dizer logo quem será o ministro da Fazenda. Vejo o país muito bem posicionado externamente, diante de situações turbulentas para outros emergentes. A Rússia está em guerra, a Turquia em crise também.

Temos uma retomada em curso, e a tendência, caso nada saia do roteiro, é uma queda de juros se o governo apontar seu programa de controle da dívida no futuro, mesmo tendo de gastar mais agora.


Raio-X

Idade: 31

Formação: Gestão Comercial e MBA em Banking pela Universidade de São Caetano do Sul (SP)

Atuação: TrendBlue (2009); HSBC (2010 a 2016), Bradesco (2016 a 2018); sócio da Monte Bravo (2018 a 2019); sócio-fundador da HCI Investimentos (2019 a 2021), sócio-fundador da AFS Capital

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