O governo nem começou, mas os investidores que operam com títulos atrelados à Selic, a taxa básica de juros da economia, tentam ganhar dinheiro em cima da política social de Lula.
Com a PEC da Transição, que prevê mais despesas públicas para financiar políticas assistencialistas, o mercado passou a negociar os papéis de renda fixa com juros mais elevados.
A avaliação desse grupo é que a expansão dos gastos em medidas de socorro aos mais necessitados levará a mais consumo —o que pressionará a inflação, levando o Banco Central a elevar a Selic para conter esse avanço.
A análise do mercado de capitais, no entanto, diverge da previsão do BC, que é feita a partir de entrevistas com banqueiros, que miram na oferta de crédito para a população e empresas.
Hoje, a Selic está em 13,75% ao ano. A projeção mais recente do BC é de 8% para 2025. Os papéis negociados pelo mercado com vencimento nesse ano estão sendo negociados hoje com juros de 11,8% —uma diferença de 3,8 pontos percentuais para cima.
Esse descasamento de expectativas não estava tão acentuado durante as eleições presidenciais, quando o mercado acreditava haver uma acomodação com o governo eleito, diante das dificuldades orçamentárias para políticas consideradas expansionistas (mais despesas).
Para analistas desse comportamento nas corretoras que negociam os papéis, um dos principais gatilhos desse descolamento foi a promessa de que o presidente eleito, Luiz Inácio Lula das Silva, vai corrigir o salário mínimo acima do nível da inflação ainda em 2023.
O novo piso salarial poderia chegar a R$ 1.319 —R$ 17 acima do que está definido no Orçamento enviado ao Congresso por Jair Bolsonaro e cuja proposta ainda pode ser revista. Somente essa diferença custaria R$ 6,4 bilhões —valor que deve ser incluído na PEC da Transição, licença para gastar acima do teto a ser concedida pelo Congresso.
Julio Wiziack (interino) com Paulo Ricardo Martins e Diego Felix
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