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Julio Wiziack é editor do Painel S.A. e está na Folha desde 2007, cobrindo bastidores de economia e negócios. Foi repórter especial e venceu os prêmios Esso e Embratel, em 2012

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Descrição de chapéu Opinião de empresário

Decisão do governo Lula para visto de estrangeiro é retrocesso, diz CEO do Bondinho Pão de Açúcar

Para executivo, isenção de documento pode ajudar a atrair turistas e estimular economia

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São Paulo

A decisão do governo Lula de reverter a isenção de vistos para viajantes vindos da Austrália, do Canadá, dos Estados Unidos e do Japão foi "um retrocesso" na opinião de Sandro Fernandes, CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar, uma das atrações turísticas brasileiras mais populares entre os estrangeiros no Rio de Janeiro.

O executivo afirma que a liberação dos vistos, oferecida pelo ex-presidente Jair Bolsonaro em 2019, tem potencial de atração de visitantes, mas a pandemia barrou seus efeitos a partir de 2020.

"Há uma conjunção de fatores para inferir que essa isenção de visto não surtiu efeito. Me desculpe, ela teve efeito sim. E não foi pouco. Foi muito positivo", diz ele.

Segundo Fernandes, a nova decisão do governo preocupou o setor turístico como um todo. "Em vez de fechar a porta para quatro nacionalidades, a gente deveria estar discutindo quais são as próximas quatro para liberar isenção de visto", afirma.

Sandro Fernandes veste um terno. Ele está sorrindo. Ao fundo, é possível ver um bondinho suspenso por cabos. Ele atravessa o céu entre dois morros.
Sandro Fernandes, CEO do Bondinho Pão de Açúcar, em mirante localizado no Morro da Urca, no Rio - Dirceu Neto - 18.out.21/Folhapress

Como o sr. avalia a iniciativa do governo de reverter a isenção de vistos para viajantes desses quatro países? Tem impacto para vocês? Se realmente acontecer isso, é um retrocesso para o turismo brasileiro. É uma pena o presidente tomar uma decisão dessas no momento em que o Brasil está fazendo o oposto.

A Embratur voltou com o slogan Brasil, que é lindo e que todo mundo no turismo estava vendo como positivo. Agora, se o presidente voltar mesmo com essa necessidade de vistos, vai contra a própria campanha do Ministério do Turismo e da Embratur.

Em vez de fechar a porta para quatro nacionalidades, a gente deveria estar discutindo quais são as próximas quatro para liberar isenção de visto. E depois mais quatro. Essa deveria ser a pauta do governo.

Os números do Ministério das Relações Exteriores mostram que a isenção do visto para esses países não provocou necessariamente um aumento no fluxo de visitantes. Faz sentido manter mesmo assim? Eu posso explicar isso tranquilamente. Quando se compara 2018 com 2019 teve aumento no fluxo porque em 2019 foi liberado o visto para as quatro cidadanias. Já se viu um impacto positivo dos americanos vindo para o Brasil.

Mas em 2020 veio a pandemia. O ano de 2021 também foi afetado pela pandemia. Em 2022, não podemos nos esquecer de que o primeiro trimestre foi afetado pela ômicron. Foi muito pesado para o turismo brasileiro e mundial. Nem tinha como chegar no Brasil nesses últimos anos. Se até hoje a malha não está completa, imagine há um ano.

Há uma conjunção de fatores para inferir que essa isenção de visto não surtiu efeito. Me desculpe, ela teve efeito sim. E não foi pouco. Foi muito positivo. Quando ela começou, era gritante a quantidade de americanos andando pelo Pão de Açúcar comparado ao período em que se exigia o visto. Com os japoneses foi a mesma coisa.

Temos de acreditar que o turismo gera emprego, renda e desenvolvimento muito mais rápido do que uma fábrica, por exemplo. Se uma fábrica tem o poder de levar 200 empregos para uma cidade, a cadeia do turismo tem vários segmentos beneficiados.

Quando um turista, junto com a sua família, fica mais um dia no destino, é mais um dia de hotel, de restaurante, de táxi, de atração turística. Ele move toda a cadeia do turismo. Me deixa muito triste ver um retrocesso como esse. Temos que facilitar o visto e não dificultar.

Qual é a importância da participação desses turistas australianos, canadenses, japoneses e americanos na visitação do Bondinho? Para o estrangeiro, os atrativos no Brasil são relativamente baratos por causa da taxa de câmbio. O estrangeiro paga preço cheio e consome mais. E não é só para o Bondinho. É para tudo o que ele faz na cadeia do turismo. E ele também exige um aperfeiçoamento maior e ajuda indiretamente no desenvolvimento do nosso turismo. Tem um círculo virtuoso.

Vocês pretendem individualmente ou com alguma entidade do setor de turismo mandar essa mensagem para o governo e pedir que seja repensada essa reciprocidade? Várias entidades estão se movendo, as secretarias estaduais, o grupo das 20 maiores associações do turismo. Estão todos realmente muito preocupados com essa decisão do governo.

Há outras ações que o governo poderia tomar para impulsionar o turismo e atrair visitantes, como a melhoria da infraestrutura e o combate à criminalidade? Quais devem ser as prioridades? Acho que a gente deveria estar tocando uma pauta para melhorar a conectividade, porque não adianta chamar as pessoas para que venham nos visitar se não dermos as condições. O Brasil é um país muito rico em belezas naturais em todas as regiões de Norte a Sul. Então, precisamos pensar nessa conectividade.

Temos de pensar em infraestrutura para que a pessoa possa pegar um carro e ter placas indicativas compreensíveis internacionalmente. É preciso ter investimento em treinamento de inglês para a mão de obra no turismo. As pessoas não falam inglês e têm dificuldade para atender um turista estrangeiro.

Temos que adotar o turismo como uma veia de crescimento, desenvolvimento, geração de emprego e renda no país. Temos que amar o Brasil e ter políticas que ataquem de maneira perene essa percepção de falta de segurança.


Raio-X

Com graduação em engenharia de produção pela USP (Universidade de São Paulo) e MBA na Vanderbilt University, nos EUA, o executivo teve passagens por empresas como Iguatemi, Tiffany&Co e Loungerie Intimates, antes de assumir a posição de CEO do Parque Bondinho Pão de Açúcar em 2018

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