O presidente da Vivo, Christian Gebara, afirma que as teles discutem com a Anatel o pagamento, por gigantes como Google e Meta, pelo consumo excessivo de vídeos.
Para ele, o país tem de fazer uma escolha, pois o setor não pode mais investir em redes para atender a essa demanda sem deixar de lado áreas carentes.
O setor tenta isso há mais de uma década. Acha mesmo possível?
Não dá mais para manter um investimento tão alto com receitas crescendo abaixo da inflação. Isso não é sustentável para cobrir os objetivos do país com a digitalização. É importante discutir isso agora, porque o país ainda precisa ter cobertura.
São contra o aumento de vídeos na rede?
Hoje, 53% das redes transmitem o conteúdo das grandes do ramo, como Meta e Google. O problema é que não somos remunerados pelo uso excessivo desse conteúdo. Se eu tiver de investir cada vez para atender a essa demanda, como ficam as minhas obrigações de cobrir áreas hoje desassistidas?
O crescimento é assim tão elevado?
Investimos R$ 9,5 bilhões em 2022 e, neste ano, serão mais R$ 9 bilhões, a maior parte para dar conta dos dados, que aumentam mais de 25% ao ano com vídeos.
Como avança essa discussão?
A Anatel abriu o debate e já recolheu contribuições.
Como funcionaria na prática?
Cobraríamos a mais de quem consume entre 5% e 7% do nosso tráfego total. Outra opção seria isenção, desde que haja compressão dos dados.
Por que isso é uma questão de governo?
Somos o segundo país em horas no streaming, o quinto em usuários de redes sociais. Ok, maravilhoso. Mas também somos um país com números baixíssimos de prontuário eletrônico nas redes de saúde e de dispositivos digitais nas escolas e nas casas dos estudantes. Temos também uma baixa penetração de cartões de crédito ou de inclusão financeira.
Não é um problema de renda?
Há dezenas de milhões de pessoas que têm cobertura e não têm acesso à internet. Por quê? Eles não têm capacidade de comprar um smartphone e a renda é tão baixa que não conseguem adquirir um plano por mais que o nosso serviço de entrada seja barato [R$ 30 por mês]. Então, a queda do imposto é significativa.
Mas o setor não foi considerado essencial na Reforma Tributária.
Mas foi na pandemia, quando tivemos aumento de receita. E não acho que houve queda de arrecadação.
Raio-X | Christian Gebara, 50
Formação: Administração de empresas pela FGV com MBA pela Stanford University (EUA)
Carreira: começou na McKinsey, mas fez carreira na Telefónica, onde, desde 2006, ocupou diversos cargos relevantes na matriz, na América Latina e no Brasil.
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