Paola Minoprio

Diretora de pesquisa do Instituto Pasteur de Paris, coordenadora da Plataforma Cientifica Pasteur – USP, conselheira de comércio exterior da França.​

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Alho neles!

O Brasil conseguiu ser o foco do mundo na tragédia causada pelo coronavírus

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Êta semana que vai ficar na história! Tantos disparates foram armados pelo circo da República e vividos por uma população atônita.

O governo, uma vez mais, quis acabar com o papel dos colegiados nas universidades. Ignorando a importância da cultura acadêmica, quis impor a nomeação de reitores das instituições federais durante o período da pandemia.

Além de tola e nada prioritária, a medida provisória daria poderes ao ministro da Educação para interferir na autonomia das universidades.

Uma MP, instrumento lançado pelo presidente da república em casos urgentes, tem força imediata de lei e pode ser aprovada ou não pelo Congresso. Mas a rota da MP inovou, devolvida ao planalto pelo Senado, e anulada pelo presidente que a havia proposto...

O Brasil conseguiu ser o foco do mundo na tragédia causada pelo coronavírus, como o segundo país com o maior número de mortos por Covid-19, só perdendo para os Estados Unidos. Com quase um milhão de brasileiros infectados, teve até agora quase 45 mil famílias consternadas pela perda de seus entes queridos.

Por sua vez, o ministro da Saúde interino parece ter matado aulas de geografia. Explicou que o Norte e o Nordeste brasileiros lideraram o número de mortes pela Covid-19 por serem mais ligados ao inverno característico do hemisfério norte! Ainda bem que o ministro perdeu o “gigantic jet”, fenômeno elétrico raro da alta atmosfera que, no último mês de abril, originou raios luminosos azuis e avermelhados no céu de Caicó (RN). Ele poderia ter relacionado as mortes de lá com o medo do brilho enfrentado pela população local, quiçá ocasionado por ventos solares da aurora boreal!

A maluquice nem começara quando a OMS decidiu chamar outra vez a atenção do mundo e pareceu manter um diálogo tête-à-tête com Jair Bolsonaro! A partir de poucos estudos, escorregou na comunicação e se referiu à "rara" aptidão de transmissão do coronavírus pelos indivíduos assintomáticos. Ora, sabe-se que quase 50% das infecções são transmitidas por pessoas assintomáticas ou pré-sintomáticas! Teve que corrigir a informação.

De imediato, o dr. Bolsonaro concluiu que a economia do Brasil foi prejudicada pelo isolamento de milhões de pessoas sem potencial de infecção, que perderam seus empregos trancadas em casa inutilmente. Minimizando a pandemia, defendeu a retomada das atividades econômicas. Provocou protestos pedindo à população que filmasse hospitais para verificar sua ocupação, questionando a falta de respiradores.

A insanidade foi ainda maior quando várias capitais brasileiras, sobretudo São Paulo, quinta cidade mais populosa do mundo, iniciaram a abertura do comércio em plena de ascensão da epidemia, causando aglomerações descontroladas! Ao mesmo tempo, a revista Nature publicava o incontestável benefício da quarentena para 11 países europeus. Sem isolamento, mais de 3,5 milhões de mortes teriam sido observadas nestes países em vez de 150 mil.

Finalmente, um líder evangélico que acusou a Covid-19 como uma invenção da mídia para causar pânico, se livrou da tática de Satanás pelo poder da cloroquina! Ainda bem que Deus falou com a Marlise, apoiadora de Bolsonaro, transmitindo a ela a cura da Covid-19! O tratamento, aprovado pelo médico do presidente, é baseado no enxofre do alho e vai ser posto em prática sem demora.

Como diria minha colega Natalia Pasternak, bióloga, “tomara que nesta semana a linha do Equador volte ao normal e a gente não precise mais dormir com uma rodela de cebola e dentes de alhos na meia para se livrar do coronavírus!

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