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Descrição de chapéu Fies Enem

Paradoxos, ausências, escassez de políticas públicas e o papel das empresas na região Amazônica

Programa de intercâmbio revela aos participantes a importância da atuação da esfera privada na pauta socioambiental na Amazônia

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Fabíola Carla

Assistente social e responsável pela seleção e identificação de potenciais candidatos e parcerias para o Programa de Bolsas na Fundação Dom Cabral.

Pará, 2023. Uma imersão nas comunidades periféricas e ribeirinhas de Santarém e Alenquer.

Santarém é uma das cidades mais antigas da região Amazônica. Foram dias de grandes desafios, reflexões e aprendizados para um grupo de profissionais que vivenciou e conheceu as dificuldades da região por meio do "Intercâmbio na região Amazônica".

Em área de floresta grupo de 35 pessoas está reunido para a foto em frente a uma grande árvore
Programa 'Intercâmio na Amazônia', em parceria com a FDC, reuniu 35 profissionais de diferentes áreas para uma imersão na região - Divulgação

Com todo o cuidado e organização, para não ser uma imersão que explora a região, passei dias ao lado de 35 profissionais de diferentes áreas, experienciando esta viagem, uma iniciativa da Faculdade Arnaldo, parceira no Programa de Bolsas da Fundação Dom Cabral.

A experiência trouxe uma reflexão importante sobre o papel da educação social.

Em um Brasil com mais de 222 mil pessoas que vivem sem acesso a serviços básicos de saúde, educação, identificação civil e cidadania, as ações sociais nos pontos mais distantes do país se fazem mais do que necessárias para o acolhimento e cuidado.

Um contraste desproporcional. Como é possível um local repleto de riquezas naturais ser tão ausente de políticas públicas? Ausente de cuidado com a própria história. Muitos podem até dizer que não é preciso ir até a Amazônia para observar essa mesma falta de cuidado.

Verdade. Convivemos com essa realidade diariamente em muitas capitais. Imagine então essa situação nas comunidades mais afastadas. São famílias que, em suas rabetas (aquelas pequenas embarcações), precisam desbravar o imenso e perigoso Rio Amazonas, em um trajeto de quatro a cinco horas para levar filhos e familiares em consultas médicas.

Como oferecer os direitos sociais básicos garantidos em nossa constituição? Seguindo a Agenda 2030 da ONU, a qualidade de vida e o crescimento econômico ocorrem, também, por meio da geração de empregos e inovação. Por isso, não existe sociedade igualitária e justa sem a atuação das empresas.

Há soluções. Em Santarém, durante a viagem, conhecemos um pouco mais sobre a agricultura de base familiar por meio do Projeto IrrigaPote, com a Lucieta Martorano, pesquisadora responsável. O projeto permite uma interação ‘solo-planta-atmosfera’ que garante a oferta de água no solo em períodos de estiagem prolongada. Além disso, a fazenda que recebe o projeto conquistou também o Selo Orgânico Embrapa, com produtos produzidos sem agrotóxicos.

O choque de realidade entre as comunidades ribeirinhas e as grandes cidades escancara a desigualdade do país. Em uma realidade de contrastes e paradoxos, vivemos a escassez em um país com tanta abundância. O desafio do poder público e das empresas é enorme, mas com comprometimento e investimentos certo ainda é possível mudar esse cenário.

Apesar de todas as dificuldades apresentadas, foi possível observar a coletividade, a conservação, preservação do meio ambiente e a resistência na luta pelo direito de permanecer nas próprias terras, apesar das sofridas perseguições e ameaças.

Precisamos entender a fundo esses territórios e não apenas olhá-los de fora. É preciso buscar entender a dor e cada vez mais se aproximar das necessidades das pessoas que lá vivem.

Para desenvolver projetos de impacto, precisamos compreender essas vidas, que têm ausências de quase tudo, menos de esperança. Novamente, o poder de transformação pela educação aparece como solução para reduzir distâncias e os hiatos sociais e, assim, construirmos o futuro que queremos.

Há alguns dias, a busca por uma Amazônia Sustentável e um futuro ancestral foram destaque na abertura do ‘SGDs in Brazil’, em Nova York.

Em 2025, Belém, capital do Pará, será a sede da COP30, um movimento importante para mostrar às grandes lideranças mundiais a Amazônia, com seus desafios ambientais e realidades sociais.

E todo esse movimento é muito importante, mas só teremos essa conexão se aprendermos a valorizar toda a cultura e as pessoas que a produzem, garantindo o direito de todos e todas.

Sigo acreditando no poder da educação social que, por meio de parcerias com o público e o privado, e muito trabalho em conjunto, é peça essencial nesse quebra-cabeça.

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