Em minha trajetória profissional, tive o privilégio de acompanhar o desenvolvimento de diversos jovens que se destacaram. Além de revigorante, isso é duplamente benéfico.
Para os jovens, entrar no mercado proporciona a oportunidade de aplicar conhecimentos teóricos na prática, desenvolver habilidades profissionais até então desconhecidas, estabelecer contatos valiosos e receber orientação de mentores experientes, catalisando um crescimento profissional significativo.
Para as empresas, a inserção de jovens na equipe impulsiona a inovação e a criatividade, facilita a adoção de tecnologias emergentes, traz uma energia contagiante para a cultura organizacional e promove a contínua renovação de ideias e talentos na empresa.
No entanto, grande parte deste potencial pode não estar sendo aproveitado. De acordo com um relatório da OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico de 2022, o Brasil tem mais de um terço de jovens (36,9%) entre 18 e 24 anos que não trabalham nem estudam —os chamados "nem-nem").
O dado representa a segunda pior colocação no bloco, atrás somente da África do Sul. Esta é também a faixa etária que mais sofre com o desemprego no nosso país.
Investir na formação de nossos jovens deve ser um compromisso social das empresas e, muitas vezes, já faz parte das obrigações regulatórias. Este é o caso, por exemplo, do Programa Jovem Aprendiz, iniciativa que faz parte da Lei da Aprendizagem e que busca inserir jovens no mercado de trabalho, proporcionando a eles a oportunidade de adquirir experiência profissional, combinada com educação teórica.
De acordo com o decreto nº 11.479/2022, jovens aprendizes devem representar entre 5% e 15% do total de empregados de empresas de médio e grande porte, isso considerando cargos que demandam formação profissional.
Hoje, segundo levantamento do Ministério do Trabalho e Emprego, temos no Brasil cerca de 500 mil aprendizes, além de 642 mil estagiários. É um número bom e que ainda deve aumentar, mas não basta só cumprir a cota para fazer seu papel. É importante oferecer formação e experiência de qualidade, garantindo uma preparação eficaz que inclua competências essenciais, além das técnicas.
O relatório Future of Jobs 2023, do Fórum Econômico Mundial, reforça a importância das competências socioemocionais para o mercado de trabalho. Segundo o documento, das dez principais habilidades necessárias para quem está trabalhando ou buscando emprego, só uma está relacionada à área tecnológica. As outras têm a ver com autogestão, trabalho em equipe, habilidades cognitivas ou de engajamento.
A orientação sobre a escolha da área de atuação, a identificação com o trabalho e o desenvolvimento de habilidades são passos fundamentais para o jovem ingressar no mercado, se destacar e evoluir profissionalmente.
Porém, segundo pesquisa realizada neste ano com 48 mil jovens e adolescentes de todo o país, apenas 47% deles têm voz ativa nas reuniões de equipe e pouco mais da metade (59%) conta que os gestores dedicam tempo para ouvi-los e apoiá-los ou que tem acesso a treinamentos para o desenvolvimento pessoal (58% do total).
O estudo foi feito pelo Ciee - Centro de Integração Empresa-Escola, em parceria com Ministério do Trabalho e Emprego, consultoria Great Place to Work e Federação Brasileira de Associações Socioeducacionais de Adolescentes (Febraeda).
Planejar o começo de carreira dos mais novos é mais do que um desafio presente, é um investimento no futuro.
Cabe, então, a nós, gestores, encararmos este compromisso e fazermos nossa parte para reverter os preocupantes índices de desemprego entre jovens, construindo uma sociedade mais próspera e equitativa. Isso trará benefícios a todos.
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