Papo de Responsa

Espaço de debate para temas emergentes da agenda socioambiental

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Papo de Responsa
Descrição de chapéu desigualdade educacional

Um projeto de educação para um novo país

Novo Plano Nacional de Educação pautará políticas pela próxima década e deve ser debatido para além do Congresso

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Helena Singer

Vice-presidente da Ashoka América Latina. Participou como delegada da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) na Conae (Conferência Nacional de Educação) de 2024.

Aconteceu nesta semana, em Brasília, a Conae (Conferência Nacional de Educação), com o objetivo de lançar as bases para o novo PNE (Plano Nacional de Educação). Depois de aprovado pelo Congresso Nacional, o plano pautará as políticas educacionais no país pelos próximos dez anos.

A conferência foi convocada em caráter extraordinário por meio de um decreto presidencial de setembro de 2023. Desde então, o FNE (Fórum Nacional de Educação), articulação formada por 64 entidades atuantes em diversas áreas da educação, sistematizou um documento base.

O texto foi debatido em mais de mil conferências municipais e estaduais, durante as quais foram propostas emendas e eleitos cerca de 2.400 delegados para a Conae.

0
Novo Plano Nacional de Educação propõe comprometimento com justiça social - Eduardo Anizelli/Folhapress

O decreto presidencial do ano passado definiu sete eixos, em torno dos quais o fórum deveria debater os problemas, as causas, os objetivos, as diretrizes, as metas e as estratégias para a construção do próximo PNE.

A grande novidade está no último eixo, ausente do PNE aprovado dez anos atrás, que trata da necessidade de uma "educação comprometida com a justiça social, a proteção da biodiversidade, o desenvolvimento socioambiental sustentável para a garantia de uma vida com qualidade e o enfrentamento das desigualdades e da pobreza."

Esse novo eixo revela o substancial aprendizado coletivo vivenciado pelo Brasil na última década. O projeto de educação em pauta é muito diferente daquele que tem produzido um país profundamente marcado por degradação socioambiental, desigualdade e autoritarismo.

Ao contemplarmos os próximos dez anos no âmbito educacional, conscientes do acelerado ritmo das mudanças, concluímos que é preciso ousar e inovar para produzir as necessárias transformações que este projeto de sociedade exige.

Isso requer clareza quanto aos desafios a serem enfrentados: uma história marcada pela concentração de terra e riqueza; uma visão de desenvolvimento que reduz a educação ao aprendizado de habilidades instrumentais; a agenda ultraconservadora que quer impor sua visão de mundo a todos.

O documento anuncia um novo modelo de desenvolvimento, que transcende o mero crescimento econômico e dá enfoque ao aprimoramento, aperfeiçoamento e inovações que levem a uma nova cultura do bem-viver.

Esse novo paradigma propõe uma economia subordinada à necessária transição ecológica, mobilizando diálogos entre as ciências, as diversas cosmovisões, as tecnologias e a experiências dos muitos povos e comunidades do país.

É uma visão de desenvolvimento que exige uma educação transformadora, capaz de fomentar a produção técnico-científica e a inovação, adotando uma perspectiva humanista, inclusiva e solidária. Assim, será possível preservar os recursos naturais e valorizar o patrimônio sociocultural do país, promovendo a integração dos campos científico, cultural e educacional.

A diversidade da população brasileira é um ativo nacional que deve ser respeitado, valorizado e fortalecido nas políticas educacionais, garantindo a redução das barreiras regionais e culturais.

Os territórios das cidades, dos campos, das águas e das florestas abrigam uma diversidade linguística, étnica e cultural que precisa ser vivenciada e aprendida nas escolas e universidades, transformando-as em ambientes que superam a tendência ao apagamento histórico e à perpetuação de preconceitos.

O PNE aprovado certamente será objeto de debates e intervenções pelo Congresso Nacional. Como boa parte dos parlamentares está comprometida com a manutenção do status quo, é crucial que o debate não se restrinja apenas ao Congresso, mas que se torne uma pauta aberta às contribuições de todas as instituições educativas do país.

Considerando o ano eleitoral, candidatos às eleições municipais também devem ser convocados a se posicionar em relação às suas propostas. Somente assim, o PNE, quando finalmente transformado em lei, será de todos e terá a sua implementação cobrada por toda a população.

LINK PRESENTE: Gostou deste texto? Assinante pode liberar cinco acessos gratuitos de qualquer link por dia. Basta clicar no F azul abaixo.

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Tópicos relacionados

Leia tudo sobre o tema e siga:

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.