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Descrição de chapéu Folha Social+

O que falta para o brasileiro enxergar a doação para além de uma resposta a crises?

Brasil ocupa 86º lugar em ranking de solidariedade e pode melhorar ao valorizar ações solidárias regulares como caminho para uma sociedade mais justa

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Paula Fabiani

CEO do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social), destaque no Prêmio Empreendedor Social 2020

Luisa Lima

Gerente de comunicação e conhecimento do Idis (Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social)

Altruísmo significa amor espontâneo pelo próximo. Em termos mais amplos, refere-se à capacidade de se dedicar a algo ou alguém sem esperar nada em troca, movido pela compaixão por uma causa ou situação. No fundo, quando falamos de altruísmo, estamos falando também de doação.

No Brasil, o ato de doar é difundido e socialmente reconhecido, especialmente em momentos de emergência, como vimos recentemente nas enchentes no Rio Grande do Sul. No entanto, ainda enfrentamos barreiras, como a desconfiança do doador em relação ao destino da doação e até mesmo a falta de identificação com certas causas e tipos de organizações.

O que falta para que o brasileiro comece a enxergar a doação não apenas como uma resposta a crises, mas como um caminho para uma sociedade mais justa, equânime e altruísta?

A imagem mostra um grupo de pessoas em uma fila para receber alimentos. Um homem com uma camisa amarela está entregando uma embalagem de comida a uma criança que está na frente da fila. Ao fundo, há outras pessoas, incluindo adultos e crianças, todos usando máscaras. O ambiente parece ser uma área comunitária, com cadeiras plásticas brancas dispostas ao longo da parede.
Moradores da favela de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo, aguardam para receber marmita, distribuída pela Associação de Moradores da Comunidade, na pandemia - Lalo de Almeida/Folhapress

O recém-lançado World Giving Index 2024, uma das maiores pesquisas sobre doação já produzidas, com milhões de pessoas entrevistadas em todo o mundo desde 2009, revela um cenário que, a princípio, pode parecer animador, mas mostra que ainda temos uma longa estrada a percorrer no que diz respeito à generosidade.

Nesta edição, WGI incluiu dados de 142 países. Participantes da pesquisa foram questionados se realizaram, no último mês, três tipos de ações: ajuda a um desconhecido, doação em dinheiro a uma organização social ou prática de voluntariado.

O Brasil subiu três posições em relação ao ano anterior e agora ocupa o 86º lugar no ranking. O relatório aponta uma leve melhora de 3 pontos percentuais no dinheiro doado a ONGs. Ajudar pessoas desconhecidas continua sendo o comportamento predominante, praticado por 65% dos entrevistados.

O levantamento, realizado entre setembro e novembro de 2023, não contabiliza doações realizadas em decorrência da tragédia climática no Rio Grande do Sul.

No ano de 2022, em um país ainda comovido pela pandemia de Covid-19, ficamos entre os 20 países mais solidários do mundo. À época, o estudo destacou que 3 em cada 4 brasileiros ajudaram um estranho.

Contudo, de lá para cá, caímos mais de 60 posições no ranking. Olhando dessa forma, parece um resultado desalentador. Mas, em termos de pontuação, foi o segundo melhor resultado absoluto que atingimos desde 2009.

A pesquisa nos apresenta também parâmetros mundiais inspiradores para o Brasil. Nos últimos dois anos, muitos países registraram crescimentos significativos em seus níveis de generosidade. A Indonésia, pelo sétimo ano consecutivo, é o país mais generoso do mundo, com 90% da população doando dinheiro para ONGs e 65% destinando seu tempo a ações de voluntariado.

Curiosamente, entre os dez países que lideram o ranking de generosidade, apenas duas estão entre as maiores economias do mundo (Indonésia e Estados Unidos), enquanto a Gâmbia, um dos países mais pobres do mundo, ocupa o quarto lugar.

Políticas públicas voltadas ao incentivo à filantropia, como incentivos fiscais, matching de doações individuais e benefícios para a prática de voluntariado corporativo, têm mostrado resultados positivos em Singapura e podem servir de exemplo para o Brasil.

O potencial do doador do brasileiro em situações críticas e emergenciais é inquestionável. No entanto, para fortalecer a generosidade e a cultura de doação no país, é essencial que a prática de doação se torne regular.

É preciso transformar o ato de doar em uma expressão contínua de cidadania e compromisso, capaz de gerar impactos socioambientais positivos e duradouros em nossa sociedade. O verdadeiro altruísmo se manifesta quando a doação transcende o imediato e se torna parte do cotidiano.

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