Patrícia Campos Mello

Repórter especial da Folha, foi correspondente nos EUA. É vencedora do prêmio internacional de jornalismo Rei da Espanha.

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Patrícia Campos Mello

Depois de um Plano Marshall, Venezuela vai precisar de um Plano Brady

Dívida externa do país chega a quase 800% das exportações e necessitará de reestruturação radical

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São Paulo

O vice-presidente brasileiro, general Hamilton Mourão, disse que será preciso fazer um Plano Marshall para recuperar a economia venezuelana após a eleição de um novo presidente.

Mourão se esqueceu de mencionar que será preciso também um Plano Brady —processo de redução e reestruturação do endividamento de muitos países em desenvolvimento, principalmente latino-americanos, após a crise da dívida dos anos 1980.

Segundo relatório desta semana do Institute of International Finance (Instituto de Finanças Internacionais), a dívida externa da Venezuela é de US$ 150 bilhões.

O líder opositor Juan Guaidó durante sessão na Assembleia Nacional, em Caracas
O líder opositor Juan Guaidó durante sessão na Assembleia Nacional, em Caracas - Carlos Jasso - 6.mar.19/Reuters

Nos cálculos do IIF, corresponde a quase 800% da receita com exportações, indicador importante por medir a capacidade de gerar receita em divisa estrangeira. 

Como comparação, a dívida externa bruta brasileira é de cerca de US$ 315 bilhões, segundo dado do Banco Central, para US$ 240 bilhões de exportações —131%.

Do endividamento venezuelano, cerca de US$ 26 bilhões é do governo central com a China e a Rússia, alguns dos poucos países que ainda concedem crédito a Caracas. A Venezuela entrou em calote em 2017.

A imensa maioria da dívida venezuelana hoje é do governo central ou da PDVSA, e apesar de o país ter pedido acesso ao mercado desde 2014, a dívida continua crescendo, devido aos juros sobre valores em atraso, empréstimos bilaterais (China e Rússia) e pendências resultantes de arbitragens.

Mas mais do que o crescimento da dívida, a receita com exportações, por causa da queda do preço do petróleo e sucateamento da PDVSA, não para de cair.

Para que o país volte a ter alguma normalidade econômica quando finalmente se desfizer o nó politico, será preciso retomar algum acesso ao mercado internacional de capitais.

Para isso, fatalmente órgãos multilaterais ou governos (quem sabe o secretário do Tesouro Americano, Mnuchin em vez de Brady, e um consórcio de países do Grupo de Lima) terão de desenhar um plano de reestruturação dessa dívida, com perdão de parte do endividamento e conversão de parte das dívidas bancárias em títulos —menos de metade da dívida venezuelana atual é em títulos, segundo o IIF.

A Venezuela não é novata em calotes e restruturações —já passou por muitas, inclusive do plano Brady. Mas nunca o país precisou de um resgate econômico-financeiro tão radical.

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