Paul Krugman

Prêmio Nobel de Economia, colunista do jornal The New York Times.

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Paul Krugman

A verdade sobre a recuperação econômica dos EUA

A inflação está alta, mas muita coisa deu certo

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Ao nos aproximarmos das eleições de meio de mandato nos EUA, a maior parte da cobertura política que vejo na mídia enquadra a disputa como uma luta entre os republicanos se aproveitando de uma economia ruim e os democratas tentando assustar os eleitores sobre a agenda social regressiva do Partido Republicano.

Os eleitores, de fato, percebem uma economia ruim. Mas as percepções não correspondem necessariamente à realidade.

Em particular, enquanto as reportagens políticas geralmente dão como certo que a economia está em más condições, os dados contam uma história diferente. Sim, temos uma inflação preocupantemente alta. Mas outros indicadores pintam um quadro muito mais favorável. Se a inflação puder ser reduzida sem uma recessão severa –o que parece ser uma possibilidade real–, os futuros historiadores considerarão a política econômica diante da pandemia uma notável história de sucesso.

Fantasias de Halloween brincam com o medo da inflação, em parada em Nova York - Andrew Kelly - 31.out.22/Reuters

Ao avaliar o estado da economia, que período devemos usar para comparação? Já observei antes que os republicanos gostam de comparar a economia atual com uma versão imaginária de janeiro de 2021, em que a gasolina custava US$ 2 o galão. Mas realidades menos agradáveis, como mortes altíssimas por Covid e empregos profundamente deprimidos, são apagadas da foto. Uma comparação muito melhor é com fevereiro de 2020, pouco antes de a pandemia atacar com toda a força.

Então, como a economia atual se compara com as vésperas da pandemia?

Primeiro, tivemos uma recuperação mais ou menos completa dos empregos e da produção. A taxa de desemprego, de 3,5%, voltou ao ponto em que estava antes do vírus. O mesmo acontece com a porcentagem de adultos em idade ativa empregados. O Produto Interno Bruto está próximo do que o Escritório de Orçamento do Congresso projetava antes da pandemia.

Essa boa notícia não deve ser tida como garantida. Nos primeiros meses da pandemia, havia muitas previsões de que ela causaria "cicatrizes", danos persistentes nos empregos e no crescimento. A lenta recuperação da recessão de 2007-2009 ainda estava fresca na memória dos economistas. Portanto, a velocidade com que voltamos ao pleno emprego é notável, tanto que podemos apelidá-la de Grande Recuperação.

Ainda assim, embora os trabalhadores possam ter empregos novamente, seu poder de compra não sofreu um grande impacto com a inflação? A resposta pode surpreendê-lo.

Em setembro, os preços ao consumidor estavam 15% mais altos do que às vésperas da pandemia. No entanto, os salários médios subiram 14%, quase igualando a inflação. Os salários dos trabalhadores não supervisores, que representam mais de 80% da força de trabalho, aumentaram 16%. Portanto, não houve um grande impacto nos salários reais em geral, embora a gasolina e os alimentos –que não são muito afetados pela política, mas muito importantes na vida das pessoas– tenham se tornado menos acessíveis.

Nota obrigatória: existem outras medidas de preços e salários, e se você escolher pode fazer a história parecer um pouco pior ou um pouco melhor. Mais importante, alguns americanos estão especialmente expostos a preços que subiram muito. Em média, porém, não houve grande impacto nos padrões de vida.

Mas reduzir a inflação não exigirá uma recessão feia? Talvez, e as previsões generalizadas de recessão podem estar afetando as percepções do público. Mas são previsões, não um fato estabelecido –e muitos economistas não concordam com essas previsões. Não vou repetir esse debate em andamento aqui, exceto para dizer que existem argumentos plausíveis no sentido de que a desinflação será muito mais fácil desta vez do que foi após a década de 1970.

Apesar do que eu disse, no entanto, o público tem percepções econômicas muito negativas. Isso não nos diz que a economia está realmente em más condições? Não, não. As pessoas sabem o quão bem elas mesmas estão indo. Suas opiniões sobre a economia nacional, no entanto, podem divergir drasticamente de sua experiência pessoal.

Uma pesquisa do Federal Reserve descobriu que em 2021 havia uma enorme lacuna entre o número crescente de pessoas com uma visão positiva de suas próprias finanças e o número decrescente com uma visão positiva da economia; as percepções sobre a economia local, que as pessoas podem ver com seus próprios olhos, estavam em algum ponto intermediário. Suspeito que, quando tivermos resultados sobre 2022, serão semelhantes.

Para ser justo, o ressurgimento da inflação após décadas de quietude, combinado com os temores de uma possível recessão, deixou muitos americanos nervosos. A questão, no entanto, não é que o público esteja errado em se preocupar; é que as visões públicas negativas da economia não refutam a proposição de que a economia está indo bem em muitas dimensões, embora não em todas.

Agora, não estou sugerindo que os democratas passem seus últimos dias de campanha dizendo aos eleitores que a economia está realmente bem. Não está.

Mas os democratas também não devem admitir que a economia em geral está em má forma. Algumas coisas muito boas aconteceram em seu governo, sobretudo uma recuperação de empregos que superou as expectativas de quase todos. E eles têm todo o direito de apontar que, embora os republicanos possam denunciar a inflação, não têm nenhum plano para reduzi-la.

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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